No Parlamento, PM pede desculpas pelas consequências dos incêndios depois de desafiado pelo PSD

Da Redação
Com Lusa

O primeiro-ministro, António Costa, pediu desculpas pelas consequências dos incêndios, depois de ser desafiado pelo PSD, nesta quarta-feira dia 18, mas disse que utiliza a palavra “desculpas” na qualidade de cidadão, já que como chefe do Governo prefere assumir responsabilidades.

No debate quinzenal com o primeiro-ministro, o líder parlamentar do PSD, Hugo Soares, disse que, como eleito e em nome da sua bancada, assumia a “responsabilidade política” e pedia desculpas aos portugueses, desafiando Costa a fazer o mesmo: “Senhor primeiro-ministro, já está em condições de pedir desculpa a todos o país?”.

“Não vou fazer jogos de palavras, se quer ouvir-me pedir desculpas, eu peço desculpas”, respondeu António Costa. O primeiro-ministro salientou que, se não o fez antes, “não é por sentir menor peso” na sua consciência. “No meu vocabulário reservo a palavra desculpa para a minha vida privada, enquanto primeiro-ministro uso a palavra responsabilidade e sempre disse que assumiria todas as que viessem a ser demonstradas”, disse.

António Costa disse ter a certeza que viverá com “o peso na consciência” pelos mais de 100 mortos nos incêndios deste verão, tal como ainda sente pelo inspetor da Polícia Judiciária que morreu quando era ministro da Justiça ou por agentes da PSP e bombeiros falecidos quando era ministro da Administração Interna. “Eu não me escudo nos outros, assumo as minhas responsabilidades como primeiro-ministro e peço sempre desculpa como cidadão”, afirmou.

Na resposta, Hugo Soares saudou o pedido de desculpas, mas lamentou que só o tenha feito hoje. “Deve e devia um pedido de desculpas ao país e já devia ter assumido a sua responsabilidade”, considerou.

“Perdeu as eleições legislativas e quis ser o primeiro-ministro do parlamento, perdeu agora a confiança dos portugueses, perdeu ontem [terça-feira] a confiança do Presidente da República. Por uma vez, seja um estadista e traga a esta câmara uma moção de confiança para provar ao país que continua a ter o parlamento consigo”, desafiou Hugo Soares, no debate quinzenal na Assembleia da República.

Na resposta, Costa disse que o líder da bancada do PSD “chegou ao que verdadeiramente o preocupa”. “O Governo responde perante esta Assembleia e na próxima semana, por iniciativa do CDS, será discutida uma moção de censura. Na próxima semana, a Assembleia decidirá se o Governo merece ser censurado ou se tem condições e o apoio parlamentar para continuar a exercer as suas funções”, afirmou o chefe do executivo.

Evocando a comunicação ao país do Presidente da República, na terça-feira à noite, o primeiro-ministro considerou que do voto do parlamento resultará “uma de duas coisas”: “ou a queda do Governo ou a confirmação da confiança política desta Assembleia”.

“Tem medo de apresentar esta moção de confiança porque não confia nos seus parceiros parlamentares (…). Já não está aí a fazer nada, fazia um favor ao país se apresentasse a demissão”, instou, novamente, Hugo Soares, dizendo “não ser a mesma coisa” o debate de uma moção de confiança e a discussão de um texto de censura.

Perante as acusações do PSD, António Costa disse, em tom irônico, compreender que o PSD se tenha sentido ultrapassado pela iniciativa do CDS, mas salientou que a consequência da aprovação de uma moção de censura é idêntica à rejeição de uma moção de confiança – a demissão do Governo.

Hugo Soares disse que também andou “de mangueira na mão” a combater os incêndios no seu concelho porque “o Estado falhou” e acusou António Costa de “soberba” pela demora em admitir estas falhas.

As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram pelo menos 42 mortos e cerca de 70 feridos (mais de uma dezena dos quais graves), além de terem obrigado a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas. Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, em junho, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou 64 vítimas mortais e mais de 200 feridos.

“Portugueses não têm confiança em si”

A líder do CDS-PP acusou o primeiro-ministro de falta de sentido de Estado e de não ter estado à altura das responsabilidades, justificando a moção de censura com a perda de confiança dos portugueses em António Costa. Assunção Cristas não poupou nas palavras para criticar a atuação do executivo na tragédia dos incêndios, considerando que aquilo que o Governo teve para dizer aos portugueses foi “salve-se quem puder”.

“Não teve sentido de Estado. E vou dizer-lhe uma coisa senhor primeiro-ministro, olhos nos olhos: o senhor teve uma oportunidade, que foi a seguir a Pedrógão, de mostrar que era capaz de estar à altura das responsabilidades que são exigidas a um primeiro-ministro”, atirou.

No entanto, para a líder centrista, aquilo que Costa mostrou “foi que não estava à altura, que não era capaz, que não previu e deixou que a tragédia se repetisse”. “E é por isso que nós não podemos voltar a ter confiança em si, que os portugueses não têm confiança em si e é por isso que nós apresentamos e cá estaremos para discutir uma moção de censura ao seu Governo, do qual é o primeiro e último responsável”, concluiu.

Para Assunção Cristas, durante e depois da tragédia do fim de semana passado, houve uma sucessão de “intervenções absolutamente inqualificáveis”. De acordo com a líder do CDS-PP, aquilo que mudou este ano foi a competência e a coordenação, uma vez que não foi nem o clima nem a floresta.

Os operacionais e os meios aéreos para o fim de semana, segundo a deputada do CDS-PP, “eram em menor número do que aqueles que estavam posicionados em maio”. “É normal que não se tenha garantido em especial os meios para o passado fim de semana quando todos os avisos meteorológicos apontavam para risco máximo? Não, não é normal, é no mínimo incúria”, disse Cristas, numa sucessão de perguntas e críticas à atuação das autoridades nesta tragédia.

Costa voltou a defender a necessidade de um consenso político alargado em relação às medidas a tomar para prevenir novos incêndios florestais com consequências trágicas, sustentando que agora “é hora de agir”. “Depois deste Verão nada pode ficar como antes. Seria intolerável e a forma de honrar efetivamente com atos e não com palavras quem sofreu, sofre e sofrerá é fazendo aquilo que falta fazer”.

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