Ideia de economia baseada em salários baixos era “modelo atávico”, diz presidente

Da Redação com Lusa

O Presidente de Portugal considerou nesta segunda-feira que tem perdido força a ideia de que a economia deve ser baseada em salários baixos, o que no seu entender correspondia a um “modelo atávico”, e congratulou-se com essa mudança.

Marcelo Rebelo de Sousa falava no antigo picadeiro real, junto ao Palácio de Belém, em Lisboa, durante uma sessão com representantes de empresas subscritoras do “Pacto mais e melhores empregos para os jovens” promovido pela Fundação José Neves e pelo Governo, iniciativa que tem o seu alto patrocínio.

“Está a mudar uma das componentes do modelo atávico que tínhamos, que era a ideia se devia encontrar uma gestão da economia baseada em salários baixos”, afirmou o chefe de Estado, que incentivou os empresários a ter um maior “número de jovens empregados” e a melhorarem a “remuneração desses jovens”.

A este propósito, sem nomear ninguém, o Presidente da República criticou “o simplismo” dos que apontam o aumento de salários como fator de agravamento da inflação – como a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde.

Falando em geral dos “responsáveis globais”, Marcelo Rebelo de Sousa disse que não devem ser “simplistas na análise da realidade”, perante “fenômenos que são globais”.

Em resposta aos que, “independentemente da estrutura da inflação”, defendem que “os salários não podem subir, ponto”, contrapôs: “Não há dessas regras gerais absolutas em nenhum sítio do mundo. Isso passou”.

“Nuns casos sim, noutros casos não. Depende do tipo de inflação, depende da estrutura da inflação, depende da evolução da inflação, depende das áreas de que se fala, das sociedades de que se fala, em que termos é que se fala”, sustentou.

O chefe de Estado aconselhou à “inovação no discurso daqueles que estão habituados a fazer um discurso clássico, que teve a sua época, tem aspetos positivos, mas não pode ser generalizado só por si, porque o modelo, todo ele, está a mudar”.

“Mudou muito e está a mudar. A internacionalização da nossa economia não vai parar por aqui, vai continuar, e nos próximos anos aceleradamente. E aí o vosso papel, dos mais jovens, e aí o vosso papel, das empresas, e aí o vosso papel, do Estado”, acrescentou.

Segundo o Presidente da República, “hoje não há ninguém” que conteste que “a internacionalização é fundamental” para a economia portuguesa, e há também um “pacto implícito, da esquerda à direita, direita à esquerda”, a favor do equilíbrio orçamental.

Nesta ocasião, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou a mensagem de que Portugal está perante “uma oportunidade única” em termos de desenvolvimento econômico, porque beneficia dos progressos nas qualificações e da geopolítica atual: “Portanto, temos condições excecionais – mas não duram sempre”.

Antes, discursou a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho.

Em janeiro, o chefe de Estado participou na sessão de lançamento do “Pacto mais e melhores empregos para os jovens” promovido pela Fundação José Neves – criada pelo empresário José Neves, dono da Farfetch – e pelo Governo, nas instalações do “Hub Criativo do Beato”, em Lisboa.

Este pacto foi inicialmente assinado por 50 empresas, entre as quais a Altice, a Bial, o BPI, a Brisa, os CTT, a EDP, a Galp, a NOS, a REN, o Santander, a SIBS ou a The Navigator Company.

A estas juntaram-se agora mais 51, como a Siemens, a Tabaqueira, a TAP e a Vodafone Portugal, entre outras.

As empresas signatárias comprometem-se a “aumentar a percentagem de jovens nas novas contratações” e “de jovens que permanecem na empresa dois anos consecutivos” e também a “aumentar a percentagem de jovens trabalhadores com contratos sem termo” – sem metas concretas para estes objetivos – “até 2026, de acordo com a sua margem de progresso”.

Nos termos do documento, comprometem-se também a “aumentar a percentagem de jovens com ensino superior com salários de valor mínimo equivalente ao nível remuneratório correspondente à entrada na carreira geral de técnico superior” e a “assegurar que, pelo menos, 50% dos jovens trabalhadores participam em ações de formação efetivas com o apoio da empresa, nos três anos anteriores a 2026”.

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