Da Redação com Lusa
No início da sua visita a Cabo Verde, o Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa disse que as reparações às ex-colônias cuja discussão tem suscitado já decorrem através da cooperação portuguesa “em crescendo” com as ex-colônias.
“O apoio que nós damos, a cooperação que temos, as parcerias” são uma reparação “que já está a ser feita” e “vai continuar a ser feita”. “É um processo” que “está em crescendo”, disse, à chegada a Cabo Verde, durante uma visita à Escola Portuguesa, na Praia, dia 30.
Questionado sobre se agora considera “um erro” ter levantado a questão da forma como o fez, Marcelo refutou. “Eu limitei-me a repetir aquilo que disse na Assembleia da República”, disse, acrescentando que o fez agora porque foi questionado.
“É uma ideia antiga, minha. É uma ideia que tem dado frutos ao longo destes 50 anos” através de “uma cooperação intensa”, declarou, dizendo-se alinhado com o Governo, que já apontou a cooperação com países lusófonos como caminho trilhado e a seguir na relação com as ex-colônias.
Da mesma forma que recusou ter sido um erro a forma como colocou a questão, rejeitou também a ideia de estar a recuar no que disse.
Sobre as críticas de que tem sido alvo, considerou-as como algo que decorre da democracia. Sobre a forma, deu o exemplo de estar a falar “na praça pública”.
“[E] não é de forma ligeira, penso eu. Portanto, é tão legítimo fazê-lo aqui com jornalistas portugueses, como fazer num encontro com jornalistas estrangeiros”, declarou.
“Isso é a democracia. Lembre-se que eu estive 50 anos a comentar toda a gente e todos os factos da vida portuguesa. Como é que eu posso deixar de aceitar todas as críticas vindas de todas as pessoas”, concluiu.
Presidentes
Os presidentes de Portugal e Cabo Verde afastaram o espetro das reparações e celebraram uma “relação de excelência”, “sem tabus”, ao discursar num encontro com a comunidade portuguesa, na Praia.
Marcelo Rebelo de Sousa descreveu o acolhimento no arquipélago como algo que “não tem qualificativos. É mais do que uma mera fraternidade, é uma cumplicidade” que responde a “algumas angústias” que possam existir sobre o passado.
“Tenho a sensação de que nos damos melhor do que da última vez. A cooperação é melhor”, assim como “a partilha e a parceria entre os dois países e governos é melhor”, acrescentou.
“Até fico preocupado porque, normalmente, quando tudo corre a este nível de excelência, começamos a pensar: o que é que pode correr um bocadinho menos bem? Mas não conseguimos encontrar nada”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.
Durante a recepção à comunidade portuguesa na residência do embaixador português em Cabo Verde, Marcelo disse depois ao seu homólogo José Maria Neves que assumisse o papel protocolar habitualmente reservado ao Presidente português e fosse ele o último a discursar.
O chefe de Estado cabo-verdiano aludiu às questões que lhe têm sido feitas pelos jornalistas sobre as declarações de Marcelo, acerca das reparações, para dizer que “não há temas tabu em democracia”.
“E, entre nós, com a maturidade que já temos, podemos conversar como gente que se entende”, referiu, depois de, durante o dia, ter remetido o tema para um debate com “serenidades”.
“Não haverá nenhuma tempestade no futuro em relação aos debates que nós podemos fazer. Cabo Verde e Portugal entendem-se muito bem. As relações são excelentes, muito maduras. E de todas as nossas discussões podem ainda sair novas luzes para construirmos um novo futuro”, disse.
José Maria Neves quer que Portugal “continue a ser esse país farol”, cuja revolução “se transformou em cravos” e promoveu a democracia.
“Tenho certeza que juntos vamos continuar a seguir esse caminho do reforço das liberdades de afirmação da democracia”, concluiu.
Os dois chefes de Estado voltam a estar juntos na quarta-feira para as comemorações dos 50 anos de libertação do campo de concentração do Tarrafal, em que participam também o Presidente da Guiné-Bissau, Sissoco Embalo, e o ministro da Defesa de Angola em representação do chefe de Estado, João Lourenço.