Manifestação anti-imigração reuniu cerca de 100 pessoas na Baixa do Porto

Da Redação com Lusa

Cerca de 100 pessoas concentraram-se no dia 06 na Praça D. João I, no Porto, para a manifestação “Menos Imigração, Mais Habitação”, organizada pelo grupo 1143, de extrema-direita, que percorreu algumas ruas até à Avenida dos Aliados.

Na rede social X, o grupo 1143, que tem como porta-voz o militante de extrema-direita Mário Machado, convocou “todos os patriotas a marcarem presença” no Porto para mostrarem “oposição à invasão de imigrantes, que é a principal razão para o aumento brutal do preço da habitação”.

Empunhando cartazes onde podia se ler “menos imigração e mais habitação e com cânticos de ”sou português desde 1143″, a maioria dos manifestantes apresentaram-se vestidos de preto e começaram a estourar petardos na praça, bem como houve desacatos com quem passava e os criticava.

Esta manifestação acontece 90 minutos depois de outra, denominada “Contra o Fascismo, Mais e Melhor Habitação”, organizada pela associação Habitação Hoje, que também decorreu no Porto, na Praça dos Poveiros.

A PSP esteve no terreno com um forte dispositivo policial acompanhando os manifestantes no seu percurso pela Baixa do Porto.

Pra Mário Machado, líder do Grupo 1143, “entraram 800 mil imigrantes no últimos anos [em Portugal] e não se construíram nem 200 mil, nem 300 mil habitações”.

“Nós, jovens, não podemos concorrer quando eles [imigrantes] vão aos 20 ou aos 30 para um apartamento e conseguem pagar uma renda de três ou quatro mil euros que nenhum casal consegue pagar”, insistiu o responsável pela manifestação.

Cerca das 18:20, a coluna, engrossada com mais cerca de uma centena de pessoas, percorreu as ruas da baixa portuense até se concentrar em frente à Câmara do Porto.

Nessa altura já elementos da Unidade Especial da Polícia haviam retirado cerca de 50 pessoas que protestavam contra os manifestantes da extrema-direita, gritando “fascismo nunca mais”.

Da manifestação do Grupo 1153 a resposta surgiu com gritos de “Salazar, Salazar” e “tudo pela nação”.

Manifestação solidária

Antes, várias centenas de pessoas juntaram-se na Praça dos Poveiros, no Porto, para “lutar contra o fascismo” e em solidariedade com a comunidade imigrante.

Entoando palavras de ordem como “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais” e “Fascistas chegou a vossa hora, os imigrantes ficam e vocês vão embora”, cerca de 500 pessoas responderam ao apelo das associações e juntaram-se na Praça dos Poveiros para “lutar contra o fascismo, racismo e xenofobia”.

“É possível e necessário combater as narrativas da extrema-direita, cuja função única é virar portugueses contra imigrantes”, afirmou à Lusa Alexandre, membro da Habitação Hoje, uma das associações responsáveis pela manifestação.

A poucas horas de se iniciar a outra manifestação de extrema-direita, Alexandre lamentou a falta de respostas à carta aberta e considerou que o dia “apresenta riscos e perigos para quem está mais marginalizado na sociedade”.

Munidas de cravos vermelhos e unidas em cânticos, as centenas rapidamente se tornaram milhares e da Praça dos Poveiros à Praça da Batalha entoavam: “Somos muitos muitos mil para continuar Abril”.

Fahad Uddin e Kabir, naturais do Bangladesh, vivem há seis meses no Porto. Percebem pouco da língua portuguesa, mas não hesitam em defender que “todos têm o direito de ser livres e escolherem onde querem viver”.

À semelhança de Fahad e Kabir, também Barbara Molnar se juntou aos manifestantes. De microfone em riste ia marcando o ritmo dos cânticos: “Contra o fascismo somos mais”.

Há um ano e meio a viver no Porto, a brasileira defendeu à Lusa a importância de, no ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, “a luta pela liberdade sair à rua”.

“A extrema-direita diz que os imigrantes são a causa de não existir habitação em Portugal, quando são precisamente os imigrantes que mais sofrem com as condições que encontram”, lembrou.

Por já ter vivido fora do país, Bárbara Cunha não hesitou em mostrar o seu apoio com uma comunidade a que outrora já pertenceu.

“É muito importante mostrar que os imigrantes estão seguros em Portugal”, afirmou, dizendo ser igualmente importante “lutar pela liberdade”.

À medida que os manifestantes avançavam pelas ruas do Porto, vários eram os que fotografavam, filmavam ou, por curiosidade, espreitavam nas janelas e varandas.

“Trabalhadores unidos contra a exploração”, “Racismo não é piada” e “Racistas e Fascistas fora daqui” referiam alguns dos cartazes exibidos pelos manifestantes.

Depois de percorrerem o Passeio de São Lázaro, a Rua de D. João IV, a Avenida Rodrigues e a Rua Alexandre Herculano, os manifestantes chegaram pelas 17:00 à Praça da Batalha, que parecia pequena para as milhares de pessoas.

“Não deixemos que a história se repita”, lia-se num dos cartazes encostado junto chafariz da praça.

Durante o percurso não foram registados incidentes, confirmaram à Lusa os agentes da PSP no local.

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