Portugal é uma das portas de entrada da cocaína na Europa por via marítima – ONU

Países lusófonos compõem novas rotas de tráfico de cocaína, segundo relatório ONU

Da Redação com agencias

Portugal é apontado num relatório da ONU hoje divulgado como uma das portas de entrada da cocaína na Europa por via marítima e onde parte do tráfico será gerido por grupos radicados em Espanha, nomeadamente Galiza.

Segundo o Relatório Global sobre Cocaína 2023, hoje divulgado pela Agência das Nações Unidas para as Drogas e o Crime (UNODC, na sigla em inglês), existem dois principais canais de entrada da cocaína na Europa Ocidental e Central: um primeiro via portos da Bélgica, Países Baixos, Alemanha e Mar do Norte e um segundo via costa e portos de Portugal e Espanha.

O relatório assinala que a localização de Portugal – e o seu extenso litoral atlântico – faz do país “um ponto natural de chegada de cocaína a ser descarregada de embarcações”.

A região do Algarve, além da Madeira e dos Açores, destaca-se pelo tráfico de droga não escondida em carga legítima e onde a cocaína chega sobretudo através de barcos de recreio.

Contudo, “quantidades significativas” de cocaína são traficadas através dos portos principais, como o de Setúbal, onde chega escondida em mercadoria legal. O distrito registou em 2020 as maiores apreensões de cocaína em Portugal, de acordo com o relatório.

O documento refere que “alguma da atividade de tráfico” de cocaína em Portugal “parece ser gerida por grupos sediados em Espanha”, nomeadamente da Galiza. Parte da cocaína com destino à Galiza é encaminhada para o norte de Portugal, descarregada à noite numa praia, seguindo depois para a região espanhola por estrada.

A Agência das Nações Unidas para as Drogas e o Crime realça que em 2020 foram apreendidos 400 quilos de cocaína no distrito de Viana do Castelo, fronteiriço com a Galiza, tornando-o no quinto distrito de Portugal continental com mais apreensões desta droga.

Na Galiza, segundo o relatório, grupos criminosos “mantêm laços de longa data” com grupos colombianos para operarem as rotas de tráfico de cocaína, com os narcotraficantes a recolherem droga de navios ao largo dos Açores ou Cabo Verde e a levá-la para terra em veleiros ou barcos de pesca.

Grupos de narcotraficantes galegos “são também ativos na redistribuição”, por terra, de heroína para Portugal e Espanha, divulgou a Lusa.

Mundo lusófono

Segundo o relatório, a produção global de cocaína aumentou drasticamente nos últimos dois anos. Entre 2021 e 2022, a alta foi de 35%, a maior desde 2016.

A agência identificou uma tendência de diversificação do tráfico da droga através de novos grupos e núcleos. O relatório global sobre cocaína de 2023 menciona que entidades criminosas do Brasil estão inserindo países lusófonos como Angola, Moçambique e Cabo Verde em suas rotas de transporte da substância.

A chefe de pesquisa e análise do Unodc, Angela Me, disse à ONU News, de Viena, que o Brasil é um dos principais países de trânsito da cocaína.

De acordo com ela, a droga que sai dos países produtores vai à Europa através do Brasil, seja diretamente ou pela África.

O Unodc aponta que apesar do mercado da cocaína continuar concentrado nas Américas e em parte da Europa, há um grande potencial de expansão na África e Ásia.

O documento afirma ainda que o grupo criminoso brasileiro conhecido como Primeiro Comando da Capital, PCC, expandiu sua presença na África e na Europa e controla diversas etapas da distribuição de cocaína.

A análise revela que o tráfico da droga pelo PCC usa a mesma logística do contrabando de produtos lícitos, como cigarros. O documento indica que outros grupos menores estão começando a operar no mercado da substância.

Os níveis recordes apresentados no relatório do Unodc são atribuídos a um aumento do cultivo da folha de coca, mas também a um aumento da demanda em diversas regiões do mundo.

No Brasil, durante a pandemia de Covid-19, a exportação de cocaína caiu. Ao mesmo tempo, houve um aumento elevado de mortes associadas ao uso da substância no país. O relatório atribui esse dado ao aumento da oferta interna.

As intercepções de carregamentos da droga também aumentaram significativamente em nível global. Em 2021, a quantidade recorde de 2 mil toneladas foi apreendida por agentes da lei.

Ameaça transnacional
A diretora executiva do Unodc, Ghada Waly, afirmou que o aumento da distribuição de cocaína é uma ameaça transnacional que precisa de uma resposta da comunidade internacional baseada em conscientização, prevenção e cooperação.

Por sua vez, a chefe de pesquisa e análise da agência da ONU afirmou que o objetivo do relatório é servir de referência para estratégias baseadas em evidência.

Ela disse ainda que os dados reunidos no documento podem ajudar os países a antecipar futuros desdobramentos da produção, tráfico e uso da cocaína.

Segundo o UNODC, a curta distância entre a América do Sul e a costa africana é feita entre o estado brasileiro de Rio Grande do Norte e o rio de Casamansa, na fronteira entre o Senegal e a Guiné-Bissau.

A agência da ONU salienta que aquela rota, que inclui Cabo Verde, Guiné-Bissau, Gâmbia e Senegal, é uma das mais utilizadas, tendo em conta as apreensões registadas.

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