Dezenas de alunos protestaram contra alegada xenofobia na Faculdade de Direito de Lisboa

Mundo Lusíada com Lusa

Um protesto contra alegados atos de xenofobia na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa juntou na terça-feira cerca de meia centena de alunos em frente ao estabelecimento de ensino.

O cartaz com a frase “chega de omissão, xenofobia não” e gritos a exigir que o reitor da universidade atue contra o conselheiro geral Helder de Sousa Semedo resumiam as exigências dos manifestantes.

Identificado no manifesto lido durante o protesto e entregue aos jornalistas, o conselheiro, também aluno da Faculdade de Direito, é já visado num processo disciplinar aberto pela instituição de ensino superior, como a agência Lusa já noticiou, por alegados comentários discriminatórios contra estudantes brasileiros.

Os comentários aconteceram durante uma reunião geral de alunos (RGA), em 20 de abril, estando referidos na ata dessa reunião, e o protesto deste dia 16 foi “sobretudo contra os órgãos estudantis”, que acusam de imobilismo, e “não tanto contra a instituição”, referiu em declarações à Lusa Alessandro Ayres, um dos organizadores da manifestação.

Numa RGA posterior foi aprovada uma nota de repúdio aos alegados atos discriminatórios, que “até hoje não foi publicitada”, denunciou o estudante, um dos cerca de 1.200 de nacionalidade brasileira que frequentem a Faculdade de Direito de Lisboa.

Além disso, o aluno e conselheiro acusado de comentários xenófobos estava a presidir à mesa de voto nas eleições que decorriam para o senado e conselho geral.

“É indigno” e denota que há “conivência” das instituições, considerou Vitor Andrade André, um dos senadores da Universidade de Lisboa, que participou no protesto, exigindo “um processo sério” contra Helder de Sousa Semedo.

O presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito, Pedro Fortuna, recebido inicialmente com vaias dos manifestantes, explicou que “o fato de ele estar na mesa (de voto) é responsabilidade da reitoria” da Universidade de Lisboa.

Hélder Semedo teria criticado os autores de uma carta escrita a Lula da Silva e entregue na sua passagem por Lisboa – que denunciava episódios discriminatórios sofridos por imigrantes ao longo dos anos – e dito que estes alunos “mereciam de fato levar com uma pedra”.

O comentário remete ao ano de 2019, quando uma caixa de pedras para serem atiradas a um “zuca” foi colocada no campus da Universidade. Este foi um dos casos descritos na carta dos alunos luso-brasileiros, entregue à ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, quando da comitiva brasileira em Portugal.

O estudante em questão também ironizou sobre a intenção dos autores da carta: “Lula, é só para dizer que Portugal é um país péssimo, que somos super maltratados e mesmo assim somos tão burros que continuamos a ir para lá”.

Em entrevista ao Portugal Giro, do jornal O Globo, o estudante negou acusações de xenefobia. “Estive na reunião, ânimos se exaltaram, mas não fiz comentário xenófobo. Agiram de forma leviana e enviei queixa ao Ministério Público, porque nunca pratiquei ato de xenofobia contra o povo brasileiro, tenho familiares no Brasil. Quanto ao caso das pedras, considerava uma brincadeira de alunos, uma crítica ao sistema que havia”, disse o estudante.

Também a faculdade se pronunciou sobre o caso. “A Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa repudia e não tolera qualquer situação de discriminação. Tendo tomado conhecimento do sucedido, a FDUL decidiu avançar no imediato com um processo disciplinar ao referido aluno. O ambiente multicultural que se vive na instituição, proporcionado pela presença de alunos e professores das mais diversas geografias, é uma das suas mais-valias”, disse fonte oficial da FDUL, num documento à SIC Notícias.

 

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