Intercâmbio de Psicologia reúne portugueses em São Paulo

A ideia, abraçada e apresentada a reitoria do ISPA pela Associação do Estudante, começou como brincadeira e se tornou algo mais sério, conta. “Agora a nossa intenção é levar alunos do Brasil para fazer a mesma coisa em Portugal”.

Por Vanessa Sene

Mundo Lusíada

Um grupo de estudantes portugueses esteve participando de diversos cursos em São Paulo, no âmbito do II Intercâmbio Luso-Brasileiro de Psicologia. No último dia 20, este grupo esteve também reunido na Academia de Polícia Civil (Acadepol) em São Paulo para palestras, dentre elas, a “Neurociência aplicada à atividade policial”.

Brasileiro, residente em Portugal há 4 anos, Renato Ignácio Vieira, o presidente desta comitiva, conversou com o Mundo Lusíada sobre a iniciativa que vem despertando a atenção de muitos estudantes portugueses.

De acordo com ele, o intercâmbio surgiu para mostrar mais da cultura brasileira em Portugal. “A imigração brasileira para lá não condiz com a realidade do que é o Brasil. A maioria dos brasileiros vão para ter subempregos e poucos buscam oportunidade de ir ao mestrado, doutorado ou mesmo licenciatura. Neste intercâmbio de psicologia temos a possibilidade de maior troca de cultura. Eles podem vir e ver como é a psicologia no Brasil e poder comparar com Portugal”.

O projeto é apoiado e patrocinado pelo ISPA (Instituto Superior de Psicologia Aplicada), e este ano trouxe alunos das universidades de Coimbra, Lusíada de Lisboa, Instituto Miguel Torga de Coimbra, Universidade de Évora, Universidade da Madeira, em cerca de 30 participantes. A viagem foi projetada para 90 alunos, porém “problemas com relação a valores” diminuiu a participação dos portugueses, que atualmente enfrentam uma crise financeira. “Mesmo em menor número de participantes, está sendo gratificante” diz Vieira.

A ideia, abraçada e apresentada a reitoria do ISPA pela Associação do Estudante, começou como brincadeira e se tornou algo mais sério, conta. “Agora a nossa intenção é levar alunos do Brasil para fazer a mesma coisa em Portugal”.

Para ele, a área da psicologia pode ser complementada reunindo os dois países. “Costumo dizer em aula que se em Portugal tivessemos a prática que as universidades dão aqui e se no Brasil tivessemos a teoria que temos em Portugal, seria o curso perfeito”.

Para o vice-diretor da Acadepol, Dr. Edemur Luchiari, é positivo para ambos os lados a troca de experiência. “Não temos a expectativa nem esperança de oferecer acima do que Portugal tenha. Temos certeza que Portugal tem ações importantes nas diferentes áreas. O que podemos fazer é trocar experiências, mostrar o que estamos fazendo e ouvir o que eles estão fazendo” afirmou. Segundo ele, a Acadepol, da Polícia Civil de São Paulo, pode ser citada como uma referência. “Não por minha direção ou por estar aqui, mas pelo passado histórico desta academia, é um centro de excelência”.

Na programação, os alunos portugueses ainda conheceram pontos turísticos da cidade, como Mercado Municipal, Museu do Ipiranga e Parque Ibirapuera, além de visitas e cursos na Fundação Casa, IBM, Hospital Psiquiátrico do Juqueri, e outros. “Nós buscamos as instituições de maior credibilidade no mercado” afirmou Vieira.

Agora, a organização planeja uma ida de alunos brasileiros, entre 30 de julho e 12 de agosto, combinando com as férias escolares dos estudantes, para uma programação semelhante em Portugal.

Experiências no Brasil e em Portugal

Segundo Renato Vieira, no campo das drogas, por exemplo, a realidade é totalmente diferente no Brasil e em Portugal. “Em Portugal, a droga ainda é heroína. No Brasil, estamos com problema de uma epidemia de crack. Então podemos comparar os dois e puxar essa parte da prevenção com a psicologia” diz Renato Vieira. Ainda assim, é possível colocar ações em prática conhecendo as experiências do país irmão. “Dá para buscar o que temos de melhor aqui e aplicar lá, e vice-versa’.

Um dos exemplos citados por ele está a Fundação Casa, antiga Febem, o que não existe em Portugal. “Lá não temos um presídio de menores, em Portugal nós temos Centros Educativos totalmente diferentes. Em Portugal também existe uma Associação Portuguesa de Apoio a Vítimas (APAV), não temos uma associação que acolhe vítimas no Brasil”.

Já um dos estudos avançados em São Paulo abrange a neurociências na atividade policial. De acordo com o vice-diretor da Acadepol, Dr. Edemur Luchiari, este estudo pode avaliar mais rapidamente, por exemplo, as declarações de falso ou verdadeiro num laboratório específico. “Dentro da atividade policial é novo. Não conheço nenhum lugar, exceto algo na área militar dos Estados Unidos, mas não na área policial propriamente” diz. De acordo com ele, a neurociências nesta área é estudada há seis anos em Sao Paulo.

O Brasil também estaria melhor que Portugal na área de prevenção de drogas, tendo como exemplo um trabalho realizado pela DIPE (Divisão de Prevenção e Educação) da Polícia Civil em São Paulo, que pretende ser levado a Portugal. Para o Dr. Luchiari, porém, Portugal está muito mais avançado com relação ao sistema de saúde, no atendimento ao usuário de drogas. “Nós temos uma lei que eu creio que seja melhor que a lei de Portugal. Mas teoricamente é muito boa, e na prática acaba sendo inviabilizada pela inexistência da atenção terapeutica necessária” afirma.

Faz pouco tempo que surgiram estudos interessados nas vítimas, e na área da prevenção. “Se falou muito do agressor. Hoje estamos buscando a vítima”, aponta Vieira. Um dos cursos mais esperados deste intercâmbio no Brasil foi a intervenção do Psicólogo sobre vítimas de abuso sexual e estupro. Segundo a organização, só existem dez psicólogos especializados no Estado de São Paulo, enquanto em Lisboa, nao existe nenhum.

No intercâmbio do ano passado, os alunos portugueses passaram por cursos da Polícia Civil, com o tema agente multiplicador em prevenção de drogas. Este ano, eles estudaram com a Acadepol, e com o Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos), no eixo temático aspectos sociais, toxicológicos e psicológicos, ministrado por doutores na área.

1 Comment

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: