Santos Silva falou com Zelensky sobre papel de Portugal no diálogo com hemisfério sul

Mundo Lusíada com Lusa

Neste dia 02, o presidente do parlamento português reuniu-se em Kiev com o chefe de Estado ucraniano, com quem conversou sobre a adesão do país à União Europeia e o papel de Portugal na ligação aos países latino-americanos e africanos.

Em declarações à Lusa, Augusto Santos Silva classificou a reunião com Volodymyr Zelensky como “bastante útil” e destacou o ponto “em que ficou mais claro o valor que Portugal acrescenta na gestão política e diplomática deste conflito”.

“Talvez o ponto mais importante da reunião tenha tido a ver com o papel que Portugal desempenha – e pode ainda desempenhar mais – no diálogo com os países do hemisfério sul, em particular com os países latino-americanos e africanos, com os quais nós temos laços muito próximos e aos quais temos transmitido a nossa posição sobre esta guerra da Rússia contra a Ucrânia”, afirmou.

O presidente da Assembleia da República salientou que “a clareza da posição portuguesa é conhecida desde o primeiro momento” de condenação à invasão da Ucrânia pela Rússia.

“E são conhecidas as dúvidas que vários países latino-americanos e africanos têm exprimido, muitas vezes dizendo que esta é uma guerra que é da Europa e não deles. Convém manter o dialogo com estes países para mostrar-lhes que também está aqui em causa a ordem internacional baseada em regras que todos defendemos”, referiu.

A reunião durou perto de uma hora, segundo Santos Silva, e prolongou-se até mais do que o previsto, tendo estado também presentes os representantes do PS, PSD, IL e BE e o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba.

No encontro, foi abordado o processo de candidatura da Ucrânia à União Europeia – que já tem o estatuto de país candidato -, tendo Santos Silva cumprimentado Zelensky pela forma como o país tem feito “a sua parte com muita determinação”, e outro dos pontos presentes na conversa foram as perspetivas de cooperação entre a Ucrânia e a Nato.

“A maioria dos países da Aliança Atlântica e da União Europeia, Portugal incluído, têm apoiado bilateralmente a Ucrânia, e o país tem a perspetiva de considerar que o seu lugar é no Ocidente, é na Europa e isso significa, para além de pertencer à União Europeia, ter uma certa perspectiva em relação à Nato. Evidentemente, o foco neste momento é a guerra que temos de parar com a condição que é necessária: a cessação das hostilidades por parte da Rússia e a retirada do território ucraniano ocupado”, considerou.

Finalmente, o presidente ucraniano agradeceu “muito enfaticamente” o apoio que Portugal tem prestado ao país e deu conta das necessidades mais prementes em matéria de equipamentos militares, de que Santos Silva tomou “boa nota para transmitir ao Governo”.

Na tarde desta quarta-feira, Santos Silva encontra-se com estudantes de português no Departamento de Filologia da Universidade de Kiev. “É uma maneira de comemorar o Dia Mundial da Língua Portuguesa que se celebra na próxima sexta-feira. É especialmente simbólico que uma das iniciativas seja um encontro com estudantes de português na Ucrânia”, destacou, salientando que o português é “uma língua de paz e de comunicação”.

Na semana passada, o presidente da Assembleia da República anunciou que excluiu o Chega, o terceiro maior partido, das delegações das visitas a parlamentos estrangeiros, após o incidente na sessão de boas-vindas a Lula da Silva, no dia 25 de Abril.

Parlamento

O presidente do Parlamento ucraniano, Ruslan Stefanchuk, disse neste dia 03 que discutiu com o seu homólogo português a adesão da Ucrânia à UE e saudou o apoio do Governo português.

“Fico feliz por conhecer o presidente da Assembleia da República de Portugal, Santos Silva. Discutimos o apoio abrangente à Ucrânia, a adesão da Ucrânia à UE e a cooperação entre os parlamentos da Ucrânia e de Portugal neste caminho”, escreveu Stefanchuk na rede social Twitter.

O líder ucraniano abordou ainda com a delegação parlamentar portuguesa o apoio a Kiev “pelos países do Sul Global”.

Horas antes, Augusto Santos Silva tinha garantido que Portugal vai continuar o esforço para ampliar a coligação que apoia a Ucrânia junto dos países africanos e da América Latina que sentem a guerra como distante.

Numa intervenção proferida no parlamento de Kiev, enviada à agência Lusa, Augusto Santos Silva declarou que esse esforço de Portugal pretende “tornar claro que as fronteiras da Ucrânia são, hoje, as fronteiras da liberdade, da segurança e da paz de todo o mundo”.

Apesar de a coligação de países que apoia política e diplomaticamente a Ucrânia, “condenando sem sofismas a agressão russa”, ser “muito ampla”, Santos Silva considerou ser necessário ir mais longe e aproveitar o que a diplomacia portuguesa pode trazer de “real valor acrescentado” à luta do povo ucraniano.

“Precisamos ainda de ampliá-la. Falando constantemente com os países do Sul, com os países de África e da América Latina, que são vítimas dos efeitos econômicos da guerra, mas que às vezes a sentem como assunto distante, só europeu. É o que Portugal tem feito e continuará a fazer”, garantiu, na intervenção que abriu a sessão parlamentar do parlamento ucraniano.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

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