Moedas quer contar “com todos os partidos” para governar Lisboa e acabar com “política da fricção”

Da redação com Lusa

O presidente eleito da Câmara Municipal de Lisboa, o social-democrata Carlos Moedas, declarou nesta segunda-feira que conta “com todos os partidos” para governar a capital portuguesa, defendendo que é preciso “trabalhar em conjunto” e acabar com a “política da fricção”.

“Conto com todos os partidos, conto com todos os vereadores, aliás foi desde a tradição de [Nuno] Krus Abecassis, em que tudo aquilo que são os projetos, tudo aquilo que são as minhas propostas serão trabalhadas com todos, trabalhadas com aqueles que hoje são eleitos”, afirmou o presidente eleito pela coligação PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança à Câmara de Lisboa, nas eleições autárquicas realizadas no domingo.

Falando no âmbito do cumprimento da sua primeira promessa eleitoral de campanha, em que acordou com os trabalhadores do município na área da higiene urbana que almoçaria com eles se vencesse as eleições, Carlos Moedas aproveitou para parabenizar todos os eleitos vereadores na cidade de Lisboa, com quem conta trabalhar “com muito gosto”, independentemente da força partidária a que pertençam.

“Já recebi mensagens de vários [vereadores eleitos], de outras forças políticas, já os congratulei e agradeci, e penso que é isso, é trabalhar em conjunto, temos de deixar esta política da fricção e passarmos para uma política da construção das soluções, para os resultados”, indicou o ex-comissário europeu, referindo que “a Comissão Europeia é talvez a melhor escola para trabalhar com pessoas de todas as forças políticas”, comprometendo-se a fazer o mesmo em Lisboa como presidente da Câmara.

Sobre a sua tomada de posse na presidência da Câmara de Lisboa, sucedendo ao socialista Fernando Medina que também foi candidato nestas eleições, o social-democrata adiantou que já houve “uma excelente conversa” entre ambos, mas ainda não há data para essa passagem de testemunho.

“Vamos organizar tudo, tudo vai correr bem. Penso que estamos aqui todos com grande boa vontade dos dois lados, portanto, tudo isso vai acontecer nos dias que aí vêm, portanto, vamos fazer uma transição correta, genuína, para bem de Lisboa e dos lisboetas, que é aquilo que nós queremos”, reforçou, em declarações aos jornalistas.

Relativamente às medidas que pretende implementar na capital, Moedas considerou ter “um programa muito completo, desde o acesso à saúde, aos transportes”, e comprometeu-se a não falhar as promessas eleitorais.

“Não serei um presidente de gabinete”, realçou o social-democrata, assumindo o desafio de ouvir e trabalhar com as pessoas que vivem e trabalham em Lisboa, inclusive os trabalhadores da Câmara Municipal, em particular os da higiene urbana “que trabalham em condições muito difíceis”.

Questionado sobre a oposição ao governo nacional do PS a partir da Câmara de Lisboa, Moedas considerou importante que o executivo municipal da maior cidade do país tenha a capacidade de “desafiar o poder nacional”, mas “é um desafio construtivo, é para melhorar, é para escrutinar, é para conseguir, realmente, fazer melhor”.

“Penso que tudo vai correr bem. Estamos aqui para ter uma maneira diferente de fazer política e uma maneira diferente de fazer política é sem fricção, é apenas e só concentrada nos resultados e nas pessoas, portanto, tudo que for para bem de Lisboa, tudo o que for para melhorar a vida dos lisboetas é aquilo que eu vou fazer, e vou fazê-lo com pragmatismo, porque os lisboetas precisam disso, precisam desse pragmatismo para ter uma vida melhor, para termos uma cidade melhor e para termos realmente aqui uma mudança que todos ansiavam e que muitos não esperavam, portanto, contra ventos e marés, contra tudo e contra todos aqui estamos, mudamos Lisboa, temos imensa força, imensa alegria, e estamos aqui com imensa vontade de começar a trabalhar”, declarou o presidente eleito.

Em relação ao contributo da sua vitória na recandidatura de Rui Rio à liderança do PSD, o social-democrata sublinhou que “as eleições em Lisboa não têm a ver com o plano nacional, têm a ver com uma coligação de cinco partidos, muitos independentes e, sobretudo, dos lisboetas que quiseram mudar a governação municipal”.

“Não há aqui nenhuma leitura nacional, há uma leitura local. Obviamente que há uma leitura do ponto de vista de uma mudança, de um novo ciclo de mudança político, que pode ter efeitos nacionais, mas o efeito aqui que temos é um efeito local de mudar Lisboa e é nisso que me vou concentrar nos próximos anos”, reforçou Moedas.

O social-democrata Carlos Moedas foi eleito presidente da Câmara Municipal de Lisboa, com 34,25% dos votos, nas eleições autárquicas de domingo, ‘roubando’ a autarquia ao PS, que liderou o executivo autárquico da capital nos últimos 14 anos.

Carlos Moedas vai suceder na presidência da Câmara de Lisboa ao socialista Fernando Medina, que se recandidatou ao cargo pela coligação “Mais Lisboa” (PS/Livre).

Segundo os resultados oficiais divulgados hoje pelo Ministério da Administração Interna, a coligação “Novos Tempos” (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança) conseguiu sete vereadores, com 34,25% dos votos (83.121 votos); a coligação “Mais Lisboa” obteve sete vereadores, com 33,3% (80.822 votos); a CDU (PCP/PEV) dois, com 10,52% (25.528 votos); e o Bloco de Esquerda (BE) conseguiu um mandato, com 6,21% (15.063).

Leitura

Para o politólogo António Costa Pinto, a vitória do social-democrata Carlos Moedas em Lisboa constitui uma surpresa e alterou a leitura nacional dos resultados e a percepção da sociedade portuguesa sobre estas eleições autárquicas.

“Quando olhamos para estas eleições percebemos que, no fundamental, não há nada de novo, era expectável independentemente de uma rotação de poder em Coimbra ou Santana Lopes na Figueira da Foz, nada disso, creio eu, constituí surpresa. Mas a vitória inesperada de Carlos Moedas em Lisboa alterou a leitura nacional e, sobretudo, alterou a percepção da sociedade portuguesa sobre estas eleições”, disse à Lusa o politólogo.

Essa leitura a partir de Lisboa “dá fogo a uma oposição do PSD enquanto potencial desafiador de António Costa em 2023”, após uma diferença de cerca de 2.300 votos entre os dois nestas autárquicas.

“Evidentemente que esta vitória também tem consequências na vida interna dos partidos sobretudo no PSD, ou seja, Rui Rio, como foi muitas vezes afirmado, aumentou o seu capital a caminho do congresso de janeiro; vamos ver até que ponto vai ou não ter desafios não sendo previsível que Carlos Moedas com base neste sucesso ultrapasse Lisboa daqui até janeiro”, destacou o investigador coordenador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

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