Ameaça terrorista cancela Rali Lisboa-Dacar

Da Redação Com Agencias

Tiago Petinga/Lusa

DECEPÇÃO >> Piloto fica inconformado após saber da decisão da organização do Lisboa-Dacar, o cancelamento do evento 2008.

O Rali Lisboa-Dacar foi cancelado um dia antes do início da competição por conta de ameaças terroristas. “Tivemos informações de que a facção da Al-Qaeda no Magreb se preparava para atacar a prova. Eles citaram diretamente o rali”, afirmou Etiènne Lavigne, o responsável pela ASO, empresa que organiza a prova off-road. Esta seria a 30ª edição da competição de automobilismo, com um percurso entre Lisboa e a capital do Senegal (9.273 quilômetros), passando ainda por Espanha, Marrocos, Mauritânia.

O motivo seria justamente a Mauritânia, país onde grupos fundamentalistas muçulmanos mataram quatro turistas franceses e três soldados mauritanos, na semana anterior, informou a agencia Estado. Para o ministro do Artesanato e do Turismo da Mauritânia, Menadin Ba, o adiamento da prova se deve por “outras questões”, afirmando que o país é seguro. “Reforçamos as medidas de segurança e posso garantir a qualquer turista que venha à Mauritânia, porque não haverá problemas”. “Foram feitas duas fatwas (decretos religiosos) para que a população ajude a levar à Justiça quem matou os turistas franceses e os soldados” disse.

Apesar do responsável pela ASO ter citado a decisão do governo francês, a afirmação foi desmentida. “As recomendações do Estado francês foram de que não se começasse o Dacar. Eles deram razões de Estado e eu não discuto razões de Estado” disse Lavigne descartando uma prova que passasse apenas por Portugal, Espanha e Marrocos. Já o ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, disse ser "ridícula" a idéia de que o governo impôs à organização do rali Lisboa-Dacar a decisão de cancelar a prova. Segundo ele, a decisão de cancelar o rali "pertenceu exclusivamente aos organizadores".

O chanceler francês disse ainda estar ciente de que a decisão de se cancelar a prova "foi desastrosa para Lisboa, para os organizadores em Portugal, e também para a Mauritânia". "Mas não podemos ignorar os recentes ataques [na Mauritânia], aparentemente sob responsabilidade da Al-Qaeda, que mataram quatro franceses", declarou. Ainda assim, Kouchner considerou "ridícula" a idéia de que a decisão de cancelar a edição de 2008 tenha partido do governo francês. "Jamais poderíamos impor uma decisão dessas a uma organização privada", argumentou.

Para os organizadores, os prejuízos serão enormes. “A Mitsubishi investe 30 milhões em cada carro oficial. A Volkswagen põe 20 milhões. Nós, na BMW, investimos 3 milhões”, conta o piloto brasileiro da BMW, Paulo Nobre à agencia EFE. O valor da inscrição dos participantes deverá ser devolvido até fevereiro. Foram inscritos 588 veículos, entre 214 motos, 273 carros e 101 caminhões. Apesar da decisão inédita na história do rali, a organização propõe “a partir de 2009 uma nova aventura a todos os apaixonados" pelo Rali Dacar, divulga em comunicado.

Dacar violenta Não é a primeira vez que a competição sofre problemas com violência. “Em 1991, em Mali, um piloto de caminhão foi metralhado e morreu no local onde pouco depois eu passei de moto. Em 1996, um piloto de caminhão passou em cima de uma mina que explodiu e o caminhão pegou fogo. Ele não conseguiu sair a tempo do caminhão”, disse o piloto brasileiro André Azevedo, que há 20 anos participa da prova.

Entre outras edições, também no ano de 2000, no percurso entre Dacar (Senegal) e Cairo (Egito), os pilotos foram retidos em Niger durante 5 dias até a organização de uma ponte aérea até a Líbia, para que evitassem grupos de fundamentalistas muçulmanos.

Deixe uma resposta