Diáspora cria fundo de 50 milhões para investimentos em Portugal

Mundo Lusíada com Lusa

Neste dia 21, o ministro português dos Negócios Estrangeiros considerou que a criação de um fundo de 50 milhões de euros para investimentos da diáspora em Portugal é muito significativo e representa, mais do que conversar, “chutar à baliza”.

“Pela importância que representa, é realmente, para usar uma expressão já usada aqui, chutar à baliza, é a concretização de ambições de que temos vindo a falar ao longo de muitos anos”, disse João Gomes Cravinho, em declarações à margem do Encontro Anual do Conselho da Diáspora, usando a expressão do presidente da câmara de Cascais, Carlos Carreiras, que disse que, mais do que falar sobre a importância dos emigrantes portugueses, era preciso “chutar à baliza”.

“O fundo para o investimento é muito importante, não tanto pela sua dimensão de 50 milhões de euros, que apesar de tudo é substantiva, mas mais pela forma como está dirigido para apoiar a inovação e é uma grande alavanca para a inovação, usando os conhecimentos e mais-valias do Conselho da Diáspora, que agrega um conjunto muito qualificado de portugueses em todos os cantos do mundo, com funções de grande responsabilidade em empresas, universidades e na sociedade civil”, acrescentou João Gomes Cravinho.

O fundo agora anunciado será construído pela Portugal Ventures e o objetivo é fomentar o investimento dos emigrantes portugueses, explicou o presidente da direção do Conselho da Diáspora.

“Existem grandes oportunidades em Portugal, temos muitas empresas de base tecnológica, e este fundo de investimento que vamos lançar com a Portugal Ventures é um grande projeto para Portugal e para os portugueses, e esperemos que seja só o primeiro”, disse António Calçada de Sá, em declarações aos jornalistas durante o encontro da diáspora em Cascais.

Questionado sobre a capacidade financeira atual e os critérios para o investimento, o empresário disse que “o fundo foi anunciado e vai agora ser construído para captar fundos financeiros através da gestão da Portugal Ventures, e o Conselho da Diáspora age como facilitador desse investimento” dos emigrantes.

Os critérios, apontou, serão geridos pela Portugal Ventures, mas o fundo vai “apostar nas empresas que estão no inventário, sobretudo nos setores chave da tecnologia para transformação industrial, digitalização, saúde e turismo”.

Antes, durante a intervenção sobre ‘O Novo Mapa Geoestratégico Global e o Papel de Portugal”, o antigo primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, defendeu que Portugal deve “afirmar a sua especificidade, cuja parte essencial é a lusofonia e a diáspora”.

“Somos o país com maior estabilidade das suas fronteiras na Europa, em que mais coincide o Estado e a nação”, disse, vincando que para Portugal se afirmar na Europa há que saber captar as oportunidades.

“Muitas grandes empresas que estavam na Ásia pensam vir para a Europa, mas para evitar o movimento para a Europa Central e de Leste, precisamos de afirmar a nossa marca específica, que é manter estes elos ao mundo mais largo, e Portugal tem vantagens apesar de ser pequeno, já que somos mais flexibilidade, assim haja inteligência política e capacidade de concretizar apesar dos obstáculos culturais, sendo um deles a distância entre o conceito e a realização efetiva”.

Reter talentos

Outro debate, durante o encontro, mostrou que a educação e a formação são importantes para o desenvolvimento econômico, mas cabe à economia desenvolver estratégias para reter o talento em Portugal.

A ideia foi deixada num debate que juntou três responsáveis do ensino superior sob o tema “Educação, Ciência e Saúde: Lições Aprendidas e Desafios do Futuro”, no evento que acontece no Palácio da Cidadela, em Cascais.

“Não basta educar para as coisas mudarem. As economias têm de se preparar para absorver esse talento, para ter projetos ambiciosos e o país tem de ter estratégias que façam com que essas pessoas tenham vontade de mudar e de voltar para contribuir”, disse o diretor da Nova School of Business and Economics (Nova SBE).

A propósito da necessidade de reter no mercado de trabalho português os alunos portugueses e estrangeiros, Daniel Traça começou por considerar que a exportação de talento também faz parte da construção de uma rede portuguesa pelo mundo e que “o desafio é assegurar que essa rede traz valor para a escola e para Portugal”.

Mas esse retorno, acrescentou, cabe sobretudo à economia portuguesa assegurar, com um projeto que “seja capaz de atrair o talento e de fixá-lo cá”.

António Cunha, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Norte, concorda com esta visão e sublinhou que “ter o melhor capital humano a chegar ao ensino superior não é suficiente para fazer a reforma, mas é essencialmente essencial”.

A este propósito, e quando questionado sobre o perfil de competências dos alunos quando chegam às universidades, Daniel Traça acrescentou que as gerações mais novas têm expectativas diferentes e estão “muito pouco disponíveis para esperar por um futuro”.

“Quem tem de mudar são os empregadores. Têm de perceber como é que animam esta geração que quer sentir crescimento rápido, projetos de sucesso, impacto naquilo que está a fazer. O talento está lá, eles trabalham o que for preciso, mas têm de ser inspirados e motivados para o fazerem, porque não o fazem em nome de uma carreira que surgirá daqui a 10 ou 15 anos”, explicou.

Por outro lado, o diretor da Nova SBE considerou também que se trata de uma “geração demasiado acadêmica” e criticou, desde logo, o modelo de acesso ao ensino superior, assente apenas nos resultados acadêmicos, ignorando outras competências essenciais “para aquilo que significa ter sucesso”.

António Cunha, que é também ex-reitor da Universidade do Minho, apontou a necessidade de as instituições cooperarem e competirem, enquanto o próprio sistema assegura a possibilidade de se diferenciarem. “Devemos resistir à tentação, que por vezes temos tido no passado, de normalizar excessivamente e segmentar as universidades”, argumentou.

Sobre a cooperação entre as instituições de ensino superior, a reitora da Universidade Católica Portuguesa defendeu que as universidades portuguesas estão, sobretudo, a competir com as homólogas internacionais.

“Ou nós nos entendemos verdadeiramente, ou o reduzido talento que a diminuição demográfica está a evidenciar vai escapulir-se para outras geografias”, alertou.

Isabel Capeloa Gil comentou também o tema da igualdade de oportunidades no ensino superior e, apesar do balanço positivo quanto à paridade de gênero no acesso, disse que há ainda um caminho longo a percorrer quando se olha para o topo da carreira. “Somos um país muito diferente, mas, se calhar, o progresso não foi ainda aquele que é absolutamente necessário”, afirmou, acrescentando que, sobretudo, em termos sociais, o acesso ao ensino superior não é paritário.

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