Chanceleres de Brasil e Portugal reunidos para encontro do G20 no Rio de Janeiro

Mundo Lusíada com agencias

 

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho, esteve no Rio de Janeiro para a reunião de chanceleres do G20. O encontro preparatório para a reunião das maiores economias do mundo terminou na tarde deste dia 22.

Na manhã de quarta-feira, João Gomes Cravinho manteve um encontro bilateral com o seu homólogo brasileiro, Mauro Vieira. Em debate esteve as prioridades que o Brasil identificou para a sua presidência, com apoio de Portugal, e as ações conjuntas dos últimos meses.

O ministro português participou na 1ª reunião de chefes da diplomacia das principais potências mundiais, no âmbito da presidência brasileira. Foram debatidas as tensões geopolíticas internacionais e a reforma do sistema de governança global.

À margem da reunião, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, defendeu também reformas na governança global e afirmou estar-se a assistir a “uma degradação das instituições” internacionais.

“Estamos a assistir a uma degradação das instituições”, disse, numa posição em linha com a do Governo brasileiro, que considerou como uma das suas prioridades para a presidência do G20 a necessidade de reformas nas instituições de governança global, como nas Nações Unidas, Organização Mundial de Comércio e bancos multilaterais.

O ministro já destacou o papel de Portugal como ponte entre continentes. “O fato de termos sido convidados para o participar no G20 este ano resulta não apenas da nossa amizade fraterna com o Brasil, mas também porque somos vistos – pelo próprio Brasil, mas por outros – como um país que faz a ponte entre continentes, um país que, sendo pequeno em termos territoriais e populacionais, é um país com uma política externa com relevância global e com capacidade de pensamento global”, afirmou João Gomes Cravinho em entrevista à agência Lusa, ainda em Bruxelas.

A reunião

No dia 21, a reunião dos chefes da diplomacia das 20 maiores economias do mundo começou com o apelo do Brasil à paz e cooperação e pelo papel que o G20 deve ter na “redução das tensões internacionais”. Na pauta, esteve conflitos como a guerra entre Rússia e Ucrânia e a ofensiva israelense na Faixa de Gaza.

“Na nossa visão, o G20 pode e deve desempenhar um papel fundamental para a redução das tensões internacionais, bem como um avanço da agenda de desenvolvimento sustentável”, afirmou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, no discurso de abertura, no Rio de Janeiro.

O chefe da diplomacia brasileiro, país que assumiu a presidência do G20 em 01 de dezembro de 2023, afirmou não ser “aceitável que o mundo ultrapasse a marca de 2 bilhões de dólares em gastos militares, enquanto os programas de ajuda e assistência ao desenvolvimento arrecadam apenas 60 mil milhões de dólares no total, equivalente a menos de 3% dos gastos com Defesa”.

“Sem paz e cooperação, será impossível alcançar a prometida mobilização em larga escala e a captação de recursos necessários para enfrentar as ameaças existenciais, especialmente em termos de combate à pobreza e desigualdade e proteção do meio ambiente”, sublinhou.

Mauro Vieira deixou ainda críticas aos organismos internacionais e à “inaceitável paralisia do Conselho de Segurança da ONU em relação aos conflitos em curso”.

A ouvir o discurso de Mauro Viera estavam, entre outros, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov. Esta é a primeira vez que Blinken e Lavrov se encontram desde a morte na prisão, na semana passada, do líder da oposição russa Alexei Navalny.

Blinken chegou ao Rio de Janeiro na quarta-feira, depois de se ter encontrado com o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, e na quinta-feira viaja para Buenos Aires para se encontrar com o Presidente argentino, Javier Milei.

Por outro lado, Lavrov chegou ao Brasil depois de visitar Cuba e Venezuela, onde se reuniu com Miguel Díaz-Canel e Nicolás Maduro.

Entre os chanceleres que compareceram estiveram ainda o ministro de Relações Exteriores do Reino Unido e ex-primeiro-ministro britânico, David Cameron. O secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Zacarias da Costa, marcou presença a convite do Brasil, assim como Angola, que se faz representar pelo ministro de Estado para a Coordenação Econômica, José de Lima Massano.

Segundo dia

A discussão sobre mudanças na chamada governança internacional, o que inclui a forma de funcionamento de instituições globais como a Organização das Nações Unidas (ONU), foi o grande foco do segundo e último dia de reunião de chanceleres do G20.

O ministro brasileiro Mauro Vieira usou o primeiro dia do encontro de chancelarias para destacar a necessidade de reforma em organismos internacionais, com mais ênfase no multilateralismo.

“Não podemos ignorar o fato de que a governança global precisa de profunda reformulação. Nossas diferenças devem ser resolvidas ao amparo do multilateralismo e das Nações Unidas, utilizando como métodos o diálogo e a cooperação, e nunca por meio de conflitos armados”, discursou para a plateia de chanceleres.

O evento aconteceu na Marina da Glória, ponto turístico na orla carioca com vista para o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor. Por causa dos dois dias de encontros, o policiamento esteve reforçado na capital fluminense, com agentes das Polícias Federal e Rodoviária Federal, além das forças de segurança estaduais. Diversas ruas de bairros vizinhos à Marina da Glória estavam bloqueadas, para facilitar a passagem das comitivas internacionais.

Na última noite, os representantes internacionais foram recepcionados pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes, em um jantar no Palácio da Cidade, sede do executivo municipal, na zona sul carioca. Eles puderam presenciar uma apresentação da escola de samba Imperatriz Leopoldinense.

“Diante do quadro que vivemos, no entanto, este grupo [G20] é hoje, possivelmente, o foro internacional mais importante onde países com visões opostas ainda conseguem se sentar à mesa e ter conversas produtivas, sem necessariamente carregar o peso de posições arraigadas e rígidas que têm impedido avanços em outros foros, como o Conselho de Segurança [da ONU]”, disse Vieira.

No Conselho de Segurança da ONU, 15 países discutem e tomam decisões sobre segurança internacional e conflitos entre países. Mas apenas cinco deles (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido) têm poder de veto, o que tem inviabilizado resoluções como um cessar-fogo na Faixa de Gaza. Nesse caso, o veto foi americano.

Outros encontros
Na semana que vem, dias 28 e 29 de fevereiro, ministros das finanças e presidentes de bancos centrais se encontrarão em São Paulo. Também estão previstas diversas reuniões de grupos de trabalho em cidades brasileiras até o encontro final sob a presidência brasileira, quando chefes de Estado e de governo se encontraram nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro.

Além de encontros em território brasileiro, o país pretende organizar uma cúpula de ministros também em Nova York, em setembro, em paralelo ao encontro anual da Assembleia Geral da ONU.

Países
O G20 é composto por 19 países (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia) e dois órgãos regionais: a União Africana e a União Europeia.

Os integrantes do grupo representam cerca de 85% da economia mundial, mais de 75% do comércio global e cerca de dois terços da população mundial.

Como presidente do G20, o Brasil tem o direito de convidar outros países e entidades. Entre os convidados estão: Angola, Bolívia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega, Paraguai, Portugal, Singapura e Uruguai. Em 2025, o G20 será presidido pela África do Sul.

 

Com informações da Lusa e EBC

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