Entrevista: Futuro do Jornalismo é a Interdisciplinaridade e o Networking

Por Ingrid Morais

O Prof. Dr. Vicente Willian da Silva Darde é Jornalista e Doutor em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Tem experiência em jornal, revista, emissora de televisão e internet, atuando nas funções de repórter, redator, editor, editor-chefe, chefe de reportagem e chefe de redação.

Atuou também em assessoria de comunicação. Tem experiência em cargos de coordenação e gestão de pessoas, sendo atualmente coordenador do curso de Jornalismo e do curso de Relações Públicas do FIAM-FAAM Centro Universitário.

Mundo Lusíada: Como comunicador, de que forma o idioma passa a ser o elemento-chave para o sucesso em casos de intercâmbio cultural entre Brasil e Portugal?

Vicente Darde: Eu acho que a aproximação da língua portuguesa falada e escrita em Portugal e no Brasil ajuda muito no processo de intercâmbio. O próprio esforço de uma unificação da língua portuguesa entre os países que foram colônias de Portugal e depois tornaram-se independentes é importantíssimo justamente para esse intercâmbio não só de profissionais e estudantes, mas o intercâmbio cultural, de negócios, a própria troca de bens e consumo. Então eu acredito que quanto mais o nosso idioma for unificado, quanto mais tiver afinidades, claro que respeitando características de cada cultura, porque por mais que esses países de língua portuguesa tenham sido colônias de Portugal, eles têm culturas muito diferentes pela mistura dos povos que foram construindo cada nação, isso ajuda muito nessa aproximação entre os países e no intercâmbio de alunos, particularmente na área do Jornalismo, nas universidades. A Universidade do Porto, a Universidade Nova Lisboa, são exemplos de instituições que tem estudos fortes na área do Jornalismo e que são referência para os estudos brasileiros também. Principalmente o pesquisador Nelson Traquina, que é um dos grandes pesquisadores da área da notícia, do Jornalismo, pesquisador português e que nós utilizamos com muita ênfase nos estudos brasileiros também.

Mundo Lusíada: Notei no seu currículo que a maior parte de sua atuação no Jornalismo tem conexões com o campo: o Canal Rural, a revista Globo Rural e o Canal Terra Viva. Isso foi intencional ou mera coincidência? Qual a sua opinião sobre o Jornalismo Rural nas mais variadas mídias?

Vicente Darde: Minha experiência com o jornalismo começa como estagiário antes de me formar, na década de 1990, quando entrei na universidade, tanto em jornal impresso quanto em assessoria de comunicação. Porém, quando estava finalizando o meu curso de Jornalismo, passei numa seleção de um projeto de trainee chamado Caras Novas da RBS TV, uma emissora de TV em Porto Alegre que é transmitida para todo o estado do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e que é filiada à Rede Globo nacionalmente. Participei desse processo de trainee, fui aprovado e durante quatro meses fiquei dentro das emissoras de TV do grupo RBS aprendendo a fazer telejornalismo. Tive a oportunidade de fazer um estágio para finalizar o trainee dentro do Canal Rural, que foi criado pela Rede Globo em parceria com a RBS TV. Quando a Globonews foi criada a TV Globo saiu do projeto Canal Rural e a RBS TV assumiu por completo a programação e a gestão do canal. Trabalhar com agronegócio me despertou para uma realidade que é muito importante hoje no Brasil. Porque o Brasil é um país agrícola, grande exportador de alimento para o mundo, inclusive para Portugal e Europa. E isso reflete também na presença da imigração portuguesa no Brasil nas regiões Sul e Sudeste, onde a cultura acaba se modificando e também fazendo com que essa riqueza seja cada vez maior na produção de alimentos. Minha experiência foi riquíssima dentro do Canal Rural. Fiquei lá em Porto Alegre, que era a sede da emissora, de 2000 até 2009, depois fui convidado para assumir a coordenação geral como chefe de redação do Canal Rural em São Paulo. Foi quando eu vim pra São Paulo reestruturar o Canal. Depois tive a oportunidade de sair do Canal Rural e durante um tempo finalizei o meu doutorado e fui convidado pra trabalhar no Canal Terra Viva, que é um canal de agronegócio e concorrente do Canal Rural e que pertence ao Grupo Bandeirantes de Comunicação. E aí eu comecei meu trabalho aqui no FiamFaam Centro Universitário em 2013 como professor na área de Jornalismo. Logo depois fui convidado pra assumir a coordenação do curso de Rádio e TV, por toda minha experiência em televisão, e fiquei na coordenação de Rádio e TV de 2013 a 2015, quando fui convidado para assumir a coordenação do curso de Jornalismo. Logo depois abrimos o mestrado profissional em Jornalismo. O primeiro mestrado profissional em Jornalismo da região Sudeste do país e onde fiz parte do corpo docente. Acabei fazendo um trabalho também importante na coordenação e fui convidado no final de 2016 pra assumir também a coordenação do curso de Relações Públicas, visto que eu já estava na de Jornalismo e o curso de Relações Públicas precisava de uma reformulação.

Mundo Lusíada: O relatório educacional PISA mostra que Portugal é o único país europeu que continua a melhorar a sua educação desde o começo deste século. Com a experiência de coordenador dos cursos de graduação e mestrado em Comunicação na FiamFaam, o que deveria ser feito no Brasil para atingir os mesmos níveis de Portugal?

Vicente Darde: A educação eu creio que é fundamental para o desenvolvimento sócio-econômico de um país. Desenvolvimento político também. E o Brasil tem deficiências de base na educação. Então são deficiências na formação já no ensino fundamental e no ensino médio, que acabam refletindo no desempenho dos alunos dentro da universidade. Eu vejo que o Brasil precisa de uma reforma na sua área da educação em todos os níveis. Desde o ensino fundamental ate o ensino universitário. Nós precisamos desenvolver e assim creio que Portugal e a Europa também já tenham uma trajetória bastante consolidada, é desenvolver a capacitação dos docentes. Porque os docentes precisam ser preparados cada vez mais para melhorar o seu processo de ensino e aprendizagem. Creio que pelo menos aqui há um exemplo no complexo educacional FMU e FiamFaam de que nós hoje fazemos parte. Uma rede internacional que tem uma visão global do ensino e por isso, nós fazendo parte desta rede, conseguimos também de uma forma mais rápida e efetiva melhorar os nossos currículos e a nossa atuação junto à formação dos alunos. Porque assim estaremos formando profissionais mais qualificados para o mercado e mais do que isso, também formando pessoas e cidadãos qualificados para serem críticos dentro de uma sociedade. Esse é o nosso objetivo e a missão da instituição. E como coordenador e professor também tenho essa missão de estar sempre pensando à frente numa melhoria desses processos de aprendizagem dos alunos.

Ingrid Morais é Comunicadora e Advogada especialista em Entretenimento e Mídia

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