Artistas dão cor e brilho às paredes e muros da ilha cabo-verdiana de São Vicente

Da Redação
Com Lusa

Artistas da ilha cabo-verdiana de São Vicente têm feito das paredes e muros as suas telas, em arte urbana que dá vida, cor e brilho à cidade do Mindelo, retratando temas como a música, ambiente, paz ou desporto.

Um dos projetos mais emblemáticos nasceu há quatro anos na zona de Ribeira Bote, uma ideia que o guia turístico Fredy Gomes trouxe das férias que passou no Brasil e na Argentina.

E assim surgiu o projeto Sonvela Arte, cujo objetivo é pintar as fachadas das casas da zona, tendo os seus promotores começado pela Ilha de Madeira, na rua de Salgamorto, onde a maioria das casas não tinham reboco e apresentavam uma fachada cinzenta.

Em declarações à agência Lusa, Ronaldo Santos, coordenador do Sonvela Arte, recordou que no início os promotores encontraram “alguma reticência” por parte de moradores e tiveram dificuldades em encontrar apoio, tendo arrancado apenas com 18 mil escudos (163 euros).

Para começar, rebocaram e pintaram apenas três casas, uma delas com as cores da bandeira de Cabo Verde, mas o material recolhido acabou num instante e o projeto parou.

Mas não por muito tempo. As imagens das casas pintadas correram o mundo, o que fez com que começassem a aparecer mais ajudas para comprar mais materiais, inclusive vindas da Austrália.

Ronaldo Santos, 29 anos, contou que a Sonvela Arte continuou a dar cor à imaginação de uma dezena de jovens, que já grafitaram muitas paredes, e uma delas que mais chama atenção é a de Amílcar Cabral, considerado o pai das nacionalidades cabo-verdianas e guineenses.

Outra figura que chama a atenção na zona é a de um tubarão azul gigante, em três dimensões (3D), feita pelo português Felipe Gusmão.

Mais recente, o artista plástico brasileiro Wilson Fernandes esteve em São Vicente e deixou gravado numa fachada uma árvore, várias borboletas, uma delas com as duas asas a retratar as bandeiras do Brasil e de Cabo Verde, e ao fundo o imponente Monte Cara.

“Antes a rua de Salgamorto, na Ilha de Madeira, era cinzenta, mas graças à Sonvela Arte, é uma zona diferente, com muita cor, mais viva”, regozijou-se Ronaldo, um ‘faz-tudo’, que pega na pá para preparar a argamassa, no pincel para grafitar algo nas paredes e ainda faz a coordenação geral do projeto comunitário.

O jovem considerou que o projeto se tornou numa “mais-valia” para a comunidade, sendo que uma das mensagens que as pinturas retratam é a paz, num dos bairros tidos como mais problemáticos de São Vicente.

“O projeto apareceu numa altura em que havia muitos problemas, rivalidades entre grupos de diferentes zonas. Quisemos mostrar que Ribeira Bote não é assim, que queremos paz não só na Ribeira Bote, mas em São Vicente e em Cabo Verde”, desejou à Lusa.

O jovem, que nasceu e cresceu em Ribeira Bote, disse que as imagens têm atraído muita coisa boa para a comunidade, desde turistas, pessoas de outras zonas, bem como músicos e cantores que já foram lá gravar videoclipes.

O maior desafio, segundo Ronaldo Santos, é dar continuidade ao projeto, que além de estimular e dar oportunidade aos artistas locais e estrangeiros.

O coordenador lamentou ainda a “falta de ajudas” das grandes empresas da segunda maior cidade do país e da câmara municipal, mas quer levar ‘grafittis’ a outros bairros de São Vicente.

Quem também viu uma oportunidade nas pinturas foi o guia Belton Jorge, 27 anos, que por ano leva até 120 turistas para o bairro, na sua maioria alemães.

“Os turistas vêm e deixam muita economia dentro da comunidade. Antigamente só ficavam dentro do Mindelo”, afirmou o jovem, indicando que, além das imagens, Ribeira Bote tem outros atrativos, como a sua história de Zona Libertada, os artistas ou os Mandingas, um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental.

“Eles deixam materiais escolares, convivem com as crianças, compram produtos artesanais, veem espetáculos de Mandinga, [apoiam] uma economia e sustentabilidade da comunidade”, prosseguiu.

“Quando as crianças crescerem e virem muitas cores dentro da comunidade vão crescer com uma imagem na cabeça muito melhor”, salientou o jovem ativista, que ainda trabalha num bar restaurante, ajuda crianças e idosos e gere um centro de turismo comunitário, que nasceu em 2012.

Belton Jorge acredita que, nos últimos anos, a autoestima da comunidade de Ribeira Bote, das suas gentes e dos visitantes aumentou graças à arte urbana.

“Porque antigamente as pessoas de outras zonas não gostavam de vir para Ribeira Bote, mas vendo os turistas a entrar aqui, muitas estão a envolver-se mais na comunidade”, afirmou.

Além da Ribeira Bote, fachadas das casas e muros da ilha de São Vicente ganharam muita cor, com pinturas, que retratam temas como o meio ambiente, a música, a paz, desporto, religião, personalidades e o dia a dia dos mindelenses.

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