Presidente concorda com insatisfação de portugueses com Consulados

Da Redação com Lusa

O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, concordou com a insatisfação dos portugueses no Reino Unido com o serviço dos consulados após interagir com alguns manifestantes junto à embaixada de Portugal em Londres.

“O Governo está a tentar digitalizar os dados, mas há um atraso, portanto há razão, eu fui o primeiro a reconhecer, quanto a atrasos que neste momento chegam em alguns casos a um ano. Um ano e meio é mais raro, mas acontece”, disse.

O chefe de Estado falava no final de uma visita de dois dias à capital britânica para celebrar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

À chegada à embaixada, onde ia jantar com alguns convidados, deparou-se com um protesto de quatro pessoas organizado pelo partido Chega contra o atraso no atendimento nos consulados.

O protesto levantou também problemas no envio dos votos postais nas passadas eleições legislativas, embora esta não seja uma competência dos consulados.

Em alguns cartazes colados lia-se “consulado não tem capacidade de resposta”, “pais esperam 11 meses para registrar os filhos” e “onde está o meu boletim de voto”.

O Presidente trocou umas breves palavras com os manifestantes e tirou uma fotografia, dando-lhes razão: “Eu sou o primeiro a subscrever que é uma questão que tem de ser enfrentada”.

Embora tenha referido fatores como a pandemia, que limitou o funcionamento dos postos durante dois anos, e a dimensão da comunidade no Reino Unido, cerca de 400 mil pessoas, vincou que “é um problema real, o Governo tem noção disso e que é uma corrida contra o tempo”.

A visita do chefe de Estado começou na sexta-feira com uma recepção, atrasada cerca de 90 minutos devido a um problema no avião, na qual se disponibilizou para tirar centenas de ‘selfies’ durante mais de uma hora com os emigrantes presentes.

Neste dia 11, o programa incluiu a visita à escola bilingue Anglo-Portuguesa, ao hospital Royal Brompton, onde trabalham mais de uma centena de profissionais de saúde portugueses, e à universidade Imperial College, onde também estudam e trabalham mais de 200 portugueses.

Pelo meio almoçou com alguns profissionais da área das artes.

“Foi talvez a mais intensa deslocação que tive em tão curto espaço de tempo a propósito do 10 de Junho”, confessou, salientando o fato da ausência do primeiro-ministro, António Costa, por motivos de saúde ter impossibilitado dividir as atenções.

Mesmo assim, e agradecendo o “gesto simpático da presença do ministro da Educação britânico”, Nadhim Zahawi, na universidade Imperial College, considera que teve “um retrato muito mais preciso da realidade”.

“Foi muito bem preparado e muito enriquecedor e deu um retrato de uma comunidade muito jovem, muito forte, muito dinâmica, a crescer”, concluiu.

No domingo, pelas 12:00, o Presidente da República parte para Andorra para uma deslocação também no âmbito das comemorações do Dia de Portugal.

Regresso de emigrantes

Durante sua deslocação, o Presidente defendeu ainda que é preciso realismo sobre as expectativas de regresso de emigrantes qualificados a Portugal e considerou que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) constitui uma oportunidade para os profissionais de saúde.

Após a vista ao Royal Brompton Hospital de Londres, ao lado o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, e o secretário de Estado da Cooperação e das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafofo, foi interrogado sobre que condições existem para que médicos, enfermeiros e outros quadros qualificados regressem a Portugal, o Presidente da República apontou que o investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é uma das prioridades já anunciadas pelo Governo.

“E foram anunciadas para coincidir numa parte com o PRR. Isso está assumido como um compromisso. Os seus efeitos vão ser sentidos nos próximos anos. Desta vez, com verbas que, por causa da pandemia [da covid-19] são afetadas especificamente a reestruturação do SNS, estamos perante uma ocasião importante”, sustentou.

Para o Presidente da República, a grande maioria dos enfermeiros e dos médicos que contactou naquele hospital londrino irá regressar a prazo a Portugal.

A seguir, confrontado com as diferenças salariais existentes entre os profissionais de saúde no Reino Unido e em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa advogou que, por razões de carência no Reino Unido, o nível salarial – até porque o custo de vida é diferente – era à partida (e hoje ainda) é muito superior ao praticado em Portugal e em outros países europeus”.

“Temos de ter a noção realista de que há países com um nível de vida muito mais elevado, com um custo de vida também mais elevado. E, portanto, em certos momentos da vida, as oportunidades são superiores àquelas que existem em Portugal”, respondeu.

De acordo com o chefe de Estado, “se a guerra e a crise não alterarem os planos, há recursos para reestruturar a saúde. Recursos como nunca houve no passado e como não haverá no futuro”.

“Daí poder acreditar-se que há aqui, como dizem os tecnocratas, uma janela de oportunidade que deve ser aproveitada”, completou.

Sobre o conjunto de incentivos (sobretudo fiscais) do Governo para que os emigrantes, principalmente jovens, regressem a Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa frisou a ideia de que esses incentivos “são importantes em certas áreas”.

“Mas temos de ser realistas: Estamos a viver um período muito difícil em todo o mundo, em toda a Europa, após dois anos de pandemia e agora com os efeitos da guerra” na Ucrânia, insistiu.

Após uma alusão ao contexto geopolítico internacional, Marcelo Rebelo de Sousa salientou as consequências que daí resultam “para o bolso das famílias”.

“Aqui, no Reino Unido, contaram-me o que se fazia com 1000 libras em relação a um certo tipo de despesas. Despesas que agora passaram para 1700 ou 1900 libras. Espero que esta situação crítica seja ultrapassada e até lá seja possível mitigá-la”, afirmou, aqui numa referência à galopante subida da inflação.

Se essa expectativa mais otimista sobre a evolução internacional se confirmar, então, segundo o Presidente da República, o PRR e os fundos europeus podem ser utilizados para incentivar as pessoas a regressar a Portugal.

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