Suplemento para combater a fome lançado em São Paulo gera polêmica no Brasil

Da Redação
Com agencias

Um suplemento alimentar para combater a fome, lançado na última semana pelo prefeito de São Paulo, João Dória, tem causado uma grande polêmica no Brasil.

O produto, feito a partir do processamento de alimentos perto do final do prazo de validade e que seriam descartados, inicialmente apresentado na forma de bolinhas cujo aspecto se assemelhava ao de uma ração para animais, reacendeu o debate sobre políticas de combate à fome e se tornou alvo de debates entre os brasileiros.

A porta-voz do Conselho Regional de Nutrição de São Paulo, Vivian Zollar, disse à agência France Presse que a distribuição deste tipo de alimento “requer uma discussão aprofundada, inclusive com a sociedade civil.” “E quando oferecemos este alimento para uma pessoa de baixa renda ainda estamos aprofundando as desigualdades sociais”, completou ela. Na segunda-feira, o mesmo Conselho considerou que o alimento representa “um declínio em relação aos progressos realizados nas últimas décadas no campo da segurança alimentar”.

Para minimizar a repercussão controversa da medida, João Dória – que pode ser candidato nas presidenciais do Brasil em 2018 – convocou uma conferência de imprensa na quarta-feira e reapresentou o produto em formas menos ofensivas – esparguete, farinha ou biscoitos.

“Na prefeitura de São Paulo, a Secretaria de Educação já foi autorizada a utilizar o alimento solidário de forma complementar na merenda escolar, com todas as suas características de proteínas, vitaminas, sais minerais, para a complementação dessa merenda já com início em outubro”, disse Doria.

O presidente da câmara confirmou que o produto será distribuído em escolas e centros de acolhimento para sem-abrigo e o descreveu como um “alimento da felicidade” para os mais desfavorecidos de São Paulo.

De acordo com a secretaria municipal de Direitos Humanos, Eloisa Arruda, ainda serão realizados estudos para conhecer as carências nutricionais da população da cidade de São Paulo. “Ainda não está definido o que vai chegar às escolas em outubro, mas estamos em contato com o secretário da Educação para que ele nos apresente qual é o cardápio destas creches. e a introdução pode ser feita paulatinamente”. O estudo deve ser feito pelo Observatório de Políticas para o Desenvolvimento Social, da Secretaria de Desenvolvimento Social.

“Não vamos substituir alimentos in natura. Temos regiões em São Paulo que são chamadas de desertos alimentares, nas quais o alimento in natura não chega pela dificuldade logística. O que queremos é alimentos de boa qualidade dos supermercados fora da conformidade que cheguem a esses desertos alimentares. é um projeto amplo que está apenas começando”.

O cardeal de São Paulo, Odilo Scherer, que estava ao lado do prefeito na conferência de imprensa disse que ficou chocado quando ouviu que o produto era comida para cães. Para provar isso, o cardeal comeu um pão feito do produto, enquanto pedia que o debate fosse “despolitizado”, e defendeu as questões sanadas com o projeto: escândalo da fome, o desperdício de alimentos, o ônus ambiental causado por esse desperdício.

A fundadora da Sinergia, Rosana Perrotti, explicou que a farinata é um composto feito com alimentos bons, e que são empregadas diversas técnicas para permitir o reaproveitamento. “Testamos todas as técnicas que chegaram a nós e conectamos todas elas de forma que qualquer alimento que entra, sai o mesmo, mas em formato de pó ou granulado”.

Além de despertar opiniões controversas, o caso também despertou o interesse da Justiça brasileira. O Ministério Público de São Paulo anunciou que instaurou procedimento para investigar o uso do produto na alimentação das crianças da rede municipal de ensino e nos Centros de Acolhida para população em situação de rua.

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