JMJ: Papa Francisco reuniu-se com grupo de vítimas de abusos em Lisboa

Mundo Lusíada com Lusa

Nesta quarta-feira, o Papa Francisco recebeu, na Nunciatura Apostólica, em Lisboa, um grupo de 13 vítimas de abusos na Igreja portugueses, anunciou a sala de imprensa da Santa Sé.

“Na tarde de hoje, após o final dos encontros institucionais e com a Igreja, o Papa Francisco recebeu na Nunciatura um grupo de 13 pessoas, vítimas de abusos por parte dos membros do clero, acompanhados por alguns representantes de instituições da Igreja portuguesa, responsáveis pela proteção dos menores”, adianta, num breve comunicado.

Segundo o mesmo documento, “o encontro decorreu num clima de intensa escuta e durou mais de uma hora, concluindo-se pouco depois das 20:15”.

Porto seguro
O Papa considerou que a Igreja portuguesa deve ser um porto seguro para quem enfrenta as tempestades da vida, defendendo que a instituição, onde deve haver lugar para todos, também deve dialogar com todos.

“Sonhamos a Igreja portuguesa como um porto seguro, para quem enfrenta as travessias, os naufrágios e as tempestades da vida”, afirmou Francisco na homilia das Vésperas (oração ao entardecer) com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e consagradas, seminaristas e agentes pastorais, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, onde chegou neste dia 02 para presidir à Jornada Mundial da Juventude.

Na sua segunda intervenção em Portugal, esta centrada na vida interna da Igreja, e na qual citou Fernando Pessoa, Francisco referiu-se a uma passagem do Evangelho relativa à pesca e ao mar, ocupação dos primeiros discípulos de Jesus, defendendo, como uma das opções, que os membros da Igreja devem ser “pescadores de homens”.

Reconhecendo que “não faltam trevas na sociedade atual, inclusive aqui em Portugal”, Francisco apontou a incerteza, a precariedade, sobretudo a econômica, a pobreza de amizade social e a falta de esperança.

“A nós, como Igreja, cabe a tarefa de submergirmos nas águas deste mar, lançando a rede do Evangelho, sem acusar, mas levando às pessoas do nosso tempo uma proposta de vida”, prosseguiu, observando a necessidade de o levar “a uma sociedade multicultural, (…) às situações de precariedade e pobreza, que aumentam, sobretudo entre os jovens”, onde é frágil a família e se encontram feridas as relações ou onde “reinam o desânimo e o fatalismo”.

Já a primeira opção, adiantou Francisco, é fazerem-se ao largo, pelo que é “preciso sair da margem das desilusões e do imobilismo, afastar-se daquela tristeza melosa e daquele cinismo irônico” que assaltam à vista das dificuldades.

“Temos de o fazer para passar do derrotismo à fé”, realçou o líder da Igreja Católica, notando que no dia a dia “nas bastam palavras”, sendo necessária “muita oração”, pois aí é que se encontra o “gosto e a paixão pela evangelização”.

“Então, em oração, vencemos a tentação de continuar com uma pastoral nostálgica feita de lamentações (…) e ganhamos coragem para nos fazermos ao largo, sem ideologias nem mundanidade”, sustentou.

Para Francisco, a mundanidade espiritual que se mete na Igreja “e na qual se engendra o clericalismo”, incluindo dos leigos, e que arruína a Igreja.

“E como dizia um grande mestre espiritual, essa mundanidade espiritual que provoca o clericalismo é um dos males mais graves que pode acontecer à Igreja”, subscreveu.

Às cerca de 1.100 pessoas presentes, depois de lembrar o jovem lisboeta São João de Brito, salientou que todos são “chamados a mergulhar as nossas redes no tempo” atual, “a dialogar com todos, a tornar compreensível o Evangelho”, mesmo que para isso se tenha de correr o risco de alguma tempestade.

“Como os jovens que aqui vêm de todo o mundo para desafiar as ondas gigantes da Nazaré, façamo-nos ao largo também nós sem medo”, desafiou os membros da Igreja portuguesa.

Na homilia, apontou mais uma opção aos membros da Igreja, “levar juntos por diante a pastoral”, e frisando que “a Igreja é sinodal, é comunhão, é ajuda mútua, é caminho comum”, mencionando a assembleia geral do Sínodo dos Bispos, que arranca em outubro, em Roma.

“Na barca da Igreja, tem de haver lugar para todos”, destacou, apelando para que a “Igreja não seja uma alfândega para selecionar quem entra ou não”, mas para “todos, todos”, pecadores ou não.

Francisco admitiu que este é um grande desafio, “especialmente em contextos onde os sacerdotes e os consagrados estão cansados porque, enquanto as exigências pastorais aumentam, eles são cada vez menos”.

Porém, considerou que se pode “olhar para esta situação como uma ocasião para, com fraterno entusiasmo e sã criatividade pastoral, envolver os leigos”, pois “se não há diálogo, se não corresponsabilidade e se não há participação, a Igreja envelhece” e, como consequência, os agentes pastorais assemelham-se a “chefes de residências e não coordenadores de grupos da Igreja”.

“Na Igreja, ajudamo-nos, apoiamo-nos reciprocamente e somos chamados a difundir, também fora dela, um clima de fraternidade construtiva”, acrescentou.

Encontro com jovens
Neste dia 03, Papa Francisco tem o primeiro encontro oficial com os peregrinos que participam na JMJ, aos quais falará na cerimônia de acolhimento no Parque Eduardo VII, em Lisboa, a partir das 17:45 (horário local).

No segundo dia da visita a Portugal, Francisco teve durante a manhã um encontro com jovens estudantes na Universidade Católica, de onde segue para Cascais, para um encontro com jovens do Scholas Occurentes, um programa educacional que criou ainda enquanto arcebispo de Buenos Aires.

Depois de no primeiro dia ter marcado presença em várias cerimônias oficiais, e de ter celebrado as Vésperas, com membros do clero e agentes pastorais, na igreja do Mosteiro dos Jerónimos, o Papa tem hoje o primeiro grande encontro com jovens, numa cerimónia na qual são esperados muitos milhares de peregrinos, depois de na terça-feira cerca de 200 mil terem assistido à missa presidida pelo cardeal-patriarca de Lisboa.

A cerimônia no Parque Eduardo VII, esta semana batizado como Colina do Encontro, vai condicionar a circulação rodoviária na área, na qual estão delimitadas três tipos de zonas: vermelha, com restrição absoluta à circulação rodoviária; amarela, com restrição fortemente condicionada; e verde, com restrição condicionada.

Entre as zonas com restrição absoluta estão as avenidas António Augusto de Aguiar, Fontes Pereira de Melo e Liberdade. Está também proibida a circulação automóvel na rotunda do Marquês Pombal, Praça dos Restauradores, Rossio e na zona da Praça do Município.

A JMJ, que é o maior acontecimento da Igreja Católica, nasceu por iniciativa do Papa João Paulo II (1920-2005), após um encontro com jovens em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: