Apoio aos Refugiados integra 30 instituições e Portugal começa a receber em outubro

Mundo Lusíada
Com agencias

FronteiraGalizaPortugalCerca de 30 organizações aderiram já Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR), apresentada nesta sexta em Lisboa, e que espera começar a receber as primeiras famílias, maioritariamente sírias, em finais de outubro.

A Comunidade Islâmica de Lisboa é uma das entidades que faz parte do projeto e que manifestou disponibilidade para receber cerca de 250 refugiados, seja qual for a proveniência, embora espere que sejam maioritariamente sírios.

“Não têm de ser muçulmanos, até podem ser ateus”, disse o líder da Comunidade Islâmica de Lisboa, Abdul Vakil, que se fez acompanhar por um representante da Fundação Islâmica na sessão de apresentação da PAR à comunicação social.

A importância do acolhimento de famílias com crianças em situação de fuga de territórios em guerra ou sob perseguição foi contada na primeira pessoa por Sabina, uma arquiteta de 37 anos, a residir em Portugal desde os anos 90, quando fugiu com a mãe e a irmã da guerra na Bósnia. Só mais tarde o pai teve oportunidade de viajar para Portugal.

A integração fez-se em Soure, através de uma família de acolhimento. Sabina e a irmã fizeram a formação superior em Coimbra e acabaram por casar com portugueses. “Abandonámos o nosso país sem nada”, contou aos presentes na sessão.

O caso foi apresentado por Rui Marques, um dos mentores da iniciativa e presidente do Instituto Padre António Vieira, como um exemplo de integração em pequenas comunidades.

A lista de organizações da sociedade civil que está a aderir à PAR continua a crescer. Entre elas figura a Amnistia Internacional, a Cais, a Caritas Portuguesa e o Conselho Português para os Refugiados.

O objetivo é criar condições no terreno para alojamento, alimentação, acesso à saúde e educação e trabalho tendo como base de apoio uma autarquia ou uma instituição e com vista à autonomia. No segundo ano de permanência em Portugal, o apoio deverá ser reduzido.

Foi também criada uma plataforma digital, com recurso a uma página eletrónica (www.refugiados.pt) e às redes sociais: Facebook, twiter e Instagram, para que possam ser partilhadas informações e imagens.

No final do encontro, Rui Marques disse aos jornalistas que a expectativa é que os cidadãos oriundos de outros países comecem a chegar no final de outubro. Para já, a plataforma propõe-se criar condições para receber “com qualidade” cerca de 1.500 refugiados, embora não seja um número fechado.

O Santuário de Fátima também vai disponibilizar uma casa para acolher refugiados, segundo o bispo de Leiria-Fátima, adiantando que as paróquias da diocese vão ser contactadas para saber de que forma podem responder ao flagelo.

Resposta mais “humana e eficaz”
O cardeal patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, considera que o drama dos refugiados que tentam chegar à Europa “exige de todos” uma “resposta mais humana e capaz”, numa carta enviada aos diocesanos, no início do ano pastoral.

Todas as famílias, comunidades e organizações católicas “colaborarão inteiramente com as instâncias nacionais e internacionais que se conjugarem nesse sentido, para uma resposta que só pode ser global, dada a complexidade dos problemas a resolver, a curto, médio e longo prazo”, acrescenta a missiva do cardeal patriarca.

Também o diretor-geral do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, Anthony Lake, reagiu na quinta-feira às imagens do corpo de uma criança que morreu afogada e foi encontrado numa praia da Turquia e também à crise de refugiados na Europa.

Lake disse que com o aprofundamento do problema “essa não será a última imagem a repercutir no mundo pela mídia social, pelas TVs ou nas primeiras páginas dos jornais”. O chefe do Unicef afirmou “que o choque da imagem deve ser respondido com ação”. Ele explicou que as crianças não têm escolha e nem o controle da situação. Segundo Lake, “os menores precisam de proteção”. Ao mesmo tempo, a Organização Mundial da Saúde está pedindo uma resposta urgente dos países para atender às necessidades dos refugiados.

Pouco emprego “até para os nossos”
Já António Costa apelou à procura de atividades nas quais os refugiados possam trabalhar, reforçando que a Europa não deve apenas acolher pessoas, mas sim dar-lhes oportunidades.

“A tragédia a que temos estado a assistir significa que temos muito pouca Europa”, frisou o líder do Partido Socialista. Contudo, Costa revelou que não é apenas necessário “abrir as fronteiras para colocar as pessoas em campo de refugiados” e “encontrar um prato para as pessoas se alimentarem” disse. “Não aceito esta ideia de que a Europa só pode estar aberta para os altamente qualificados”, explicou o candidato a primeiro-ministro, a propósito de estarem a chegar ao velho continente muitas pessoas com estudos.

Apesar de defender que o país deve acolher refugiados, António Costa salbaguarda que deverão ser acolhidos “aqueles que com facilidade encontrarão uma nova vida em Portugal”. “Infelizmente neste momento, no país, há pouco emprego qualificado para oferecer… nem para os nossos”, salientou o socialista, fazendo ver que se deve dar abrigo a pessoas que possam trabalhar onde Portugal precisa.

“Temos de ter inteligência de procurar atividades onde as pessoas possam encontrar um futuro”, dando novamente o exemplo das terras e florestas ao abandono, locais “onde as pessoas podiam encontrar novas oportunidades construir a sua vida”.

Do governo, o líder do CDS-PP, Paulo Portas, defendeu que a Europa tem de tomar posições “com muita clareza” relativamente à questão, considerando que Angela Merkel foi quem mais se aproximou de honrar os valores humanistas. “Até agora, quem mais se aproximou de honrar aquilo que é o humanismo cristão e o humanismo laico que fazem os valores da Europa foi a chanceler Merkel quando disse ‘eu não repatriarei nenhum refugiado de guerra da Síria'”.

Portas recordou ainda que “a tradição portuguesa é de acolhimento” e que o povo português sempre soube acolher, defendendo que “é preciso fazer mais”. Já hoje, os jornais portugueses avançam que Portugal deve acolher o dobro do número de refugiados já divulgado, até três mil pessoas.

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