Novo presidente de Cabo Verde promete ser leal e frontal com Governo

Segundo o novo presidente, ademocracia em Cabo Verde precisa de ser “alargada”, razão pela qual prometeu que irá contribuir para “modernizá-la”, área em que dedicará especial atenção aos problemas que entopem o setor e que abrange também o “fenômeno da corrupção eleitoral”.

Da Redação
Com Lusa

Jorge Carlos Fonseca (c), com a bandeira de Cabo Verde, celebra a vitória nas eleições presidenciais na varanda da sede de campanha na Cidade da Praia, Cabo Verde, 22 de agosto 2011. Foto: JOSE MARIA BORGES/LUSA

Jorge Carlos Fonseca foi eleito presidente de Cabo Verde, nas eleições do segundo turno com 54,45% dos votos, e prometeu ser leal e frontal com o Governo cabo-verdiano, desdramatizando o facto de, pela primeira vez, um chefe de Estado ser de cor política diferente da do executivo.

No discurso de vitória, Jorge Carlos Fonseca, vencedor das eleições presidenciais de domingo em Cabo Verde com apoio do maior partido da oposição, saudou Manuel Inocêncio Sousa, candidato derrotado com apoio do partido no poder, e assegurou que as suas relações com o Governo estão balizadas pela Constituição, pelo que o relacionamento com o executivo de José Maria Neves, no cargo desde 2001, “será normal”.

“Respeito o Governo legítimo de Cabo Verde (eleito nas legislativas de fevereiro deste ano)”, garantiu, avisando, porém, que a estabilidade política que muitos puseram em causa durante a campanha depende mais do executivo do que do chefe de Estado.

“Mas a estabilidade não significa que um Presidente da República tenha de estar sempre de acordo”, recordou, lembrando que os poderes de um chefe de Estado são para exercer sempre que seja posta em causa os interesses do país.

Na intervenção, cheia de agradecimentos, Fonseca reafirmou o compromisso que assumiu ao candidatar-se à chefia do Estado e prometeu ajudar no combate à pobreza, desemprego e insegurança, na reforma da Justiça e na afirmação do poder local, entre outros.

“Ser eleito presidente importa uma enorme responsabilidade, mas saberei merecer essa confiança e garanto a todos os cabo-verdianos, a todos os órgãos de soberania, que cumprirei escrupulosamente os meus compromissos eleitorais, sobretudo o de cooperar com o Governo com lealdade e no respeito pela Constituição e pelas leis”, disse, dando importância ainda às grandes causas nacionais, democracia, liberdade e Constituição.

Segundo afirmou, a democracia em Cabo Verde precisa de ser “alargada”, razão pela qual prometeu que irá contribuir para “modernizá-la”, a par da reforma da Justiça, área em que dedicará especial atenção aos problemas que entopem o setor e que abrange também o “fenômeno da corrupção eleitoral”.

Desdramatizando as “confusões” instaladas com o levantamento de suspeições de irregularidades eleitorais registadas nos últimos dias da campanha e no dia de reflexão, Fonseca argumentou que as notícias vindas a público serviram à sua candidatura para “alertar e não para denunciar” situações pouco transparentes na altura.

Sobre ter obtido mais 35 mil votos do que na primeira volta, “Zona”, como é conhecido localmente, respondeu que vieram de todo o lado e realçou que também o seu adversário conseguiu a proeza de aumentar os votos em mais de 30 mil.

“Nem sei bem ainda o que vou fazer agora”, desabafou, lembrando que o seu gabinete de diretor do Instituto de Ciências Sociais e Jurídicas que criou há uma década vai ficar sem a sua presença. “Vou sentir saudades”.

Presidentes cumprimentam

Assim como o presidente de Portugal, Cavaco Silva, e o presidente da Comissão Européia Durão Barroso, o presidente de Timor-Leste, Ramos Horta, também cumprimentou o novo chefe de Estado de Cabo Verde, desejando um “grande e bom exercício da sua presidência”.

“Desejamos ao senhor Presidente Fonseca um grande e bom exercício da sua presidência. Felicitamos o povo de Cabo Verde por mais este exitoso processo democrático que continua a colocar Cabo Verde entre as primeiras grandes democracias do mundo”, afirmou à agência Lusa Ramos Horta.

Segundo Ramos Horta, Cabo Verde é um “país relativamente jovem, mas que já passou por vários processos eleitorais sempre com enorme civilidade, com muita dignidade, maturidade, portanto, estão todos de parabéns”.

Em Portugal e Diáspora

Jorge Carlos Fonseca ganhou a votação nas assembleias de voto em Portugal, onde obteve 53,22% dos votos, contra 46,78% do seu adversário, Manuel Inocêncio Sousa.

Segundo os dados oficiais, Fonseca obteve em Portugal 1.678 votos, contra 1.475 de Inocêncio, numa votação em que a abstenção atingiu 75,77%, votando apenas 3.205 dos 13.226 eleitores inscritos, tendo-se registado também 27 votos brancos e 25 nulos nas 49 mesas instaladas no país.

Na diáspora, Inocêncio segue na dianteira com 3% de avanço sobre Fonseca, quando estão contadas 76% das mesas de voto. O candidato apoiado pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) ganhou folgadamente em África mas perdeu na Europa e resto do mundo. A contagem no continente americano só começou às 22:00 de Cabo Verde (00:00 em Lisboa).

No país, segundo dados divulgados pela Direção geral de Apoio ao Processo Eleitoral (DGAPE) de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, apoiado pela oposição, lidera o escrutínio com 54,45%, correspondendo a 95.127 votos. Por seu lado Manuel Inocêncio Sousa, candidato apoiado pelo partido no poder, reúne 45,55%, correspondendo a 79.574 votos.

Com a abstenção a situar-se nos 40,2%o, inferior em mais de seis pontos em relação ao primeiro turno (46,8%), a contagem nacional está praticamente encerrada e Fonseca ganhou as eleições em todo o arquipélago, à exceção da ilha do Fogo.

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