“Identidade do Timor-Leste está ancorada no mar”, país comprometido com a defesa dos oceanos – Xanana

Da Redação com agencias

Timor-Leste reforçou seu compromisso com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, que foca em proteger a vida marinha, durante o discurso na Conferência dos Oceanos das Nações Unidas nesta terça-feira.

Em Lisboa como chefe da delegação do país, ex-presidente  Xanana Gusmão abriu o discurso, em inglês, lembrando que a identidade do Timor “está ancorada no mar”.

Xanana Gusmão acrescentou que Timor-Leste quer “unir sua voz e suas ações” a todos aqueles comprometidos com a defesa dos oceanos. Segundo o chefe da delegação, o país recentemente conseguiu delimitar “fronteiras marítimas permanentes com a Austrália” e está trabalhando “com a Indonésia para conseguir o mesmo”.

Ele lembrou que o Timor-Leste “está localizado no coração do Triângulo de Coral”, tendo os seus mares “áreas com uma das maiores biodiversidades do mundo”, além de grandes concentrações de baleias e golfinhos.

Na Conferência dos Oceanos, Xanana Gusmão anunciou ainda que o Timor-Leste quer estabelecer um Centro de Educação Marinha, com o apoio de instituições internacionais.

Ele também afirmou que seu país está comprometido “com uma economia azul que protege os oceanos de forma equilibrada.”

“Apesar de não sermos todos igualmente responsáveis pela pressão exercida sobre a natureza, todos sofreremos com ela. As primeiras vítimas são sempre as mais frágeis e mais vulneráveis. É um fato cruel que estas são frequentemente as próprias pessoas que vivem em maior harmonia com a natureza”, afirmou Xanana no segundo dia da segunda Conferência.

“Os relatórios científicos fornecem dados sobre a degradação dos mares e dos oceanos. O nosso maior filtro de carbono, essencial para combater as alterações climáticas, está a ficar entupido”, advertiu o também responsável da equipe de negociações do Conselho para a Delimitação das Fronteiras.

Xanana Gusmão ilustrou as dificuldades que já estão a sentir alguns países do Pacífico, Ásia, África e América Latina: “Não precisamos de olhar para os relatórios. Já estamos a sofrer com estes efeitos”.

Timor-Leste é um país cada vez mais suscetível a fenômenos climáticos extremos. “As ameaças globais exigem respostas globais. Espero que a pandemia de covid-19 tenha, pelo menos, ensinado a todos esta importante lição”, sublinhou.

O antigo chefe de Estado recordou que Timor-Leste e Austrália, apoiados pela legislação internacional, em particular a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, delimitaram recentemente as fronteiras marítimas, um trabalho que decorre agora com a Indonésia.

“Queremos trazer ‘know-how’, tecnologia e investimento que poderia ser um ponto de viragem para o desenvolvimento sustentável de Timor-Leste. No meu país temos jovens que, reconhecendo a importância da preservação do oceano e da biodiversidade, desejam estudar ciências marinhas. Quero acreditar que é possível realizar os sonhos destes jovens e assegurar que Timor-Leste irá, com conhecimento e convicção, implementar uma economia azul a partir do zero”, disse acrescentando educação marinha é uma aposta das autoridades timorenses.

São Tomé

São Tomé e Príncipe diz que “nada será como dantes” com uma nova lei sobre a economia azul. O projeto do governo deve ter luz verde do Parlamento nas próximas semanas, segundo o primeiro-ministro Jorge Bom Jesus.

Na Conferência, o chefe do governo são-tomense destacou áreas por abordar como investimento, parcerias, novos empregos e crescimento sustentável.

“Que possa dotar o país de uma macro visão estratégica prospetiva, e de uma linha de rumo consensual, capaz de ser anuída pelas diferentes sensibilidades políticas da nossa sociedade, visando almejar um futuro promissor e melhor para todos em nome do desenvolvimento seja um desígnio fundamental de todo o são-tomense que se preze como verdadeiro patriota .”

A segurança alimentar, a saúde ambiental e o desenvolvimento devem ser priorizados no plano iniciado há cinco anos, ao lado da necessidade de se mitigar riscos climáticos.

“São Tomé e Príncipe deu início em 2017, com o apoio técnico da FAO, a um importante processo que visava no essencial moldar e trilhar de forma sustentada a transição da nossa recorrente economia tradicional em direção a uma economia azul.”

Mesmo com a estratégia de transição rumo à economia azul, o primeiro-ministro disse que a transição no arquipélago carece de apoio para uma melhor proteção dos ecossistemas marinhos.

O país tem uma zona econômica exclusiva 160 vezes maior que a terra destacando potencial para o desenvolvimento econômico e social associados à economia azul. Este ano, São Tomé e Príncipe realizou um evento nacional para definir prioridades.

A atuação das autoridades requer recursos adaptados a “condições e modalidades para capacidades ara objetivos da estratégia e para corrigir défice em matéria de emprego e capacidade de empreender da juventude, homens e mulheres.”

O chefe do governo de São Tomé e Príncipe defendeu ainda a proteção dos oceanos, que considera “pulmões azuis do planeta”. Por isso, falou em uma economia sustentável dos mares otimize o investimento em diferentes setores.

Para São Tomé e Príncipe, o evento é uma “excelente oportunidade para divulgar para a comunidade internacional a reafirmação do firme compromisso e o engajamento das autoridades do país na proteção aos oceanos.

Cabo Verde

O segundo dia da sessão de alto nível da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas começou com discurso do primeiro-ministro de Cabo Verde. José Ulisses Correia e Silva destacou a importância de abrir espaço para a economia azul e trouxe para Lisboa uma mensagem dos pequenos países insulares em desenvolvimento, conhecidos pela sigla em inglês Sids.

“Os Sids reivindicam legitimamente o reconhecimento das suas especificidades e uma discriminação positiva, como o índice da vulnerabilidade multidimensional em elaboração irá demonstrar. Cabo Verde manifesta total convergência e apoio ao apelo das Nações Unidas à ação para salvar os oceanos e proteger o futuro.”

Na plenária montada na Altice Arena, onde acontece a conferência até sexta-feira, o primeiro-ministro cabo-verdiano apoiou o fim da poluição plástica e revelou planos do país para que a indústria do turismo se torne totalmente sustentável.

“Cabo Verde está a rever a lei do plástico, para reforçar as medidas preventivas contra a poluição. Cabo Verde está a preparar um pacto de sustentabilidade para o turismo. Hotéis verdes, sem plásticos, com energias renováveis, com forte nexo água-energia.”

Antes do início da Conferência dos Oceanos, a ONU News entrevistou o Ministro do Mar de Cabo Verde. Abraão Vicente destacou um projeto para preservação da zona marítima.

“Cabo Verde também irá avançar, ainda durante a Cimeira dos Oceanos, com a assinatura com a White Foundation de um acordo de gestão da nossa área marítima. Avançar com o mapeamento da nossa zona marítima em toda a extensão da nossa costa e avançarmos para a reserva de 30% da nossa zona econômica exclusiva para zona de não pesca e não exploração intensiva. Manter toda a nossa zona econômica exclusiva 100% sustentável em termos da sua exploração.”

Além da plenária de alto nível, com os discursos de chefes de Estado e de Governo, dois debates importantes acontecem nesta terça-feira na Conferência dos Oceanos: o primeiro foca na promoção das economias sustentáveis para os pequenos países insulares em desenvolvimento, e o segundo é sobre proteção e restauração dos ecossistemas marinhos.”

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