Parceria internacional entre Brasil e Portugal avança em pesquisa sobre Parkinson

Da Redação

Um grupo de trabalho do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora (HU-UFJF, sob gestão da Ebserh) participa de um projeto que está fazendo tradução e validação de escala de sintomas não motores da Doença de Parkinson. Trata-se de uma parceria entre 20 centros de pesquisa do Brasil e de Portugal, em que o HU-UFJF é o centro coordenador. São dez instituições de pesquisa em cada país, distribuídos por regiões, com o objetivo de ter diversidade geográfica e cultural.

O dia 11 de abril foi instituído como Dia Mundial do Parkinson para conscientizar a população sobre a doença. Cerca de 4 milhões de pessoas no mundo vivem com a doença, sendo aproximadamente 200 mil no Brasil.

O Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum nos idosos, perdendo apenas para a doença de Alzheimer. É caracterizada por sintomas motores, tremor de repouso, rigidez na musculatura, lentidão nos movimentos, que são os sinais mais importantes na doença. No entanto, hoje se reconhece também uma proporção de sinais não motores que impactam na qualidade de vida desses pacientes, como depressão, fadiga, declínio cognitivo, sudorese, alterações autonômicas ou desautonômicas, como retenção, incontinência urinária, dor, enumera o neurologista e professor da Faculdade de Medicina da UFJF Thiago Cardoso Vale, coordenador da pesquisa no HU.

A ideia do projeto é ter uma escala traduzida para o português para avaliar os sintomas não motores da doença. Tal escala já é utilizada em outros países, tanto do ponto de vista assistencial quanto de pesquisa, sendo originada da Sociedade Internacional de Doença de Parkinson e Distúrbio de Movimento, sediada nos Estados Unidos. O objetivo é que se faça uma tradução tanto para o português brasileiro quanto o europeu, visando ter uma escala em comum para os países de língua portuguesa, explica o professor.

Cada um dos centros de pesquisa será responsável por incluir 20 pacientes, totalizando 200 no Brasil e 200 em Portugal, para que seja validada e comparada com a escala original e ver se ela realmente é útil. A equipe envolvida no HU é a mesma do Ambulatório de Distúrbios do Movimento, do Serviço de Neurologia, coordenado pelo professor Tiago e contando com um neurologista assistente, Daniel Sabino de Oliveira, e uma aluna do mestrado do Programa de Pós-graduação em Saúde da Faculdade de Medicina, Daniela da Silva, responsável pela coleta de dados e análise final do projeto, que se pretende em publicação da área da Neurologia.

“Nosso centro aqui já está bem avançado, foi o primeiro com aprovação do Comitê de Ética de Pesquisa. A tradução em comum já foi feita, por médicos independentes com fluência em português e inglês, tomando-se o cuidado de encontrar palavras semelhantes ao português de Portugal. Existem situações como a da palavra ‘quadril’ no português do Brasil, mas ‘anca’ no português de Portugal”, conta.

Outra boa notícia é que o projeto conseguiu um patrocínio de US$ 40 mil (R$ 200 mil) da Sociedade Internacional de Doença de Parkinson e Distúrbio de Movimento a fim de facilitar a aplicação da escala.

Exemplo

O caminhoneiro Fábio Viana é um exemplo de que o Parkinson não atinge apenas idosos. Aos 38 anos, ele recebeu o diagnóstico da doença. “Foi muito difícil. Tive que parar de trabalhar e entrei em depressão”, conta. Hoje, aos 42, ele já conhece melhor a enfermidade e segue todas as orientações da equipe do Hospital Universitário de Brasília (HUB-UnB/Ebserh), onde realiza o tratamento. “A depressão melhorou e alguns sintomas diminuíram. Agradeço por ter descoberto a doença cedo. Vou investir também na fisioterapia e atividade física para conseguir aproveitar muitos momentos com a minha família”, acrescenta Fábio, que é casado e tem quatro filhos.

O Parkinson não tem cura e o tratamento inclui um acompanhamento multiprofissional, com medicamentos, fisioterapia, fonoaudiologia, suportes psicológico e nutricional e atividade física. Em alguns casos, também pode ser indicado cirurgia.

O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG/Ebserh), o Ambulatório de Distúrbios de Movimento, criado na década de 1990, já atendeu aproximadamente dois mil e quinhentos pacientes. A neurologista Sarah Teixeira Camargos reforça que os sintomas não são necessariamente os mesmos para todos os pacientes. “É uma doença muito individual. Há uma linha evolutiva e grande parte dos pacientes segue essa linha, mas nem todos são iguais”, assegura.

O Ambulatório de Distúrbios do Movimento do HUB atende cerca de 50 pacientes e é referência para pessoas com Parkinson no Distrito Federal. A neurologista responsável pelo serviço, Ingrid Faber, lembra que é importante ficar atento aos sintomas emocionais da doença. “O Parkinson provoca neurodegenerações no cérebro que podem favorecer sintomas depressivos. Além disso, receber o diagnóstico costuma abalar o paciente. Por isso, é muito importante ter uma rede de apoio, com convívio com familiares e amigos, e um tratamento psicológico”, explica Ingrid.

A família tem um papel fundamental, podendo ajudar a monitorar a progressão dos sintomas e auxiliando na administração de medicamentos e terapias prescritos. Além de tudo, é necessário ter a consciência de que a doença também pode afetar a dinâmica familiar e as relações pessoais, demandando adaptações para melhoria da autoestima e da autoconfiança. Os familiares também podem se beneficiar de terapia de aconselhamento para aprender a lidar com a doença e seus efeitos no cotidiano.

O neurologista Pedro Brandão atua como voluntário no ambulatório do HUB e é secretário do Departamento de Transtornos do Movimento da Academia Brasileira de Neurologia. “Ter a doença de Parkinson não é uma sentença, muitos pacientes têm uma expectativa de vida igual à da população geral. Hoje temos muitos recursos de tratamento e, se o paciente for bem acompanhado, pode ter qualidade de vida. É importante identificar os sintomas para acelerar o diagnóstico”, afirma Pedro.

Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas. Os hospitais da Rede Ebserh oferecem atendimento para pacientes com Parkinson.

 

Sinais precoces da Doença de Parkinson
A idade mais comum de aparecer sintomas é a partir de 60 anos. As causas mais precoces geralmente têm origem genética.

ATENÇÃO

. Durante a caminhada do paciente, um dos lados, um dos braços, não se movimenta da mesma forma que o outro;

. Perda do movimento conjugado dos braços, um fica mais grudado no corpo, que às vezes causa até dor no ombro e leva à procura inicialmente de um ortopedista.

TRATAMENTO

O tratamento principal da doença é sintomático, feito com medicação, mas o arsenal terapêutico é diverso e amplo, grande parte adquirido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em alguns casos, há encaminhamento para cirurgia, como de colocação de eletrodo no cérebro, para melhorar a qualidade de vida do paciente.

PREVENÇÃO

Existem estratégias preventivas. O que está mais avançado em termos da literatura é a realização de exercício físico de moderada intensidade, de 4 a 5 vezes na semana, tanto para prevenção ao Parkinson quanto para outras doenças neurodegenerativas.

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