Mais de 2 mil portugueses se juntam aos franceses em manifesto após atentado

A Câmara de Lisboa também organizou manifesto na cidade reunindo cerca de 100 pessoas. ANTÓNIO COTRIM/LUSA
A Câmara de Lisboa também organizou manifesto na cidade reunindo cerca de 100 pessoas. ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Mundo Lusíada
Com Lusa

Cerca de 2000 pessoas se manifestaram em 07 de janeiro na praça dos Restauradores, em Lisboa, pela liberdade de expressão e de imprensa, um dia depois do atentado à redação do jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, que fez 12 mortos.

Após longos minutos de silêncio, com a multidão empunhando cartazes em que se lia, em francês, “Eu sou Charlie” – numa homenagem aos cartoonistas do semanário assassinados a tiro por três extremistas islâmicos que irromperam pela redação e abriram fogo -, ouviu-se uma salva de palmas.

Aos pés da estátua, havia velas acesas e aí se iniciaram as palavras de ordem que pouco depois todos repetiam, muitas em francês, outras em português, em defesa do mesmo: pela liberdade, contra o medo, “Eu sou Charlie”, “Todos Somos Charlie”.

À Lusa, a jornalista freelancer francesa Marie-Line Darcy, que organizou o protesto em conjunto com outros jornalistas, destacou a importância de se declarar “Eu sou Charlie”. “Porque esse ato de barbárie nos atinge a todos: é tentar calar as pessoas, calar os jornais, calar a liberdade de expressão. Não é um jornal consensual, há pessoas que não gostam, mas estão aqui hoje, porque se trata de um ato simbólico, é o princípio da democracia, o princípio da liberdade”, defendeu.

Em resposta a quem considera que aqueles profissionais não faziam jornalismo, só faziam uns bonecos, o jornalista Ricardo J. Rodrigues foi contundente: “A sátira é o exercício maior da liberdade de expressão – e, dentro da liberdade de expressão, cabe obviamente a liberdade de imprensa. Ao jornalismo cabe relatar os factos, à sátira cabe fazer-nos pensar neles, e era isso que o Charlie Hebdo fazia”.

Também a Câmara Municipal de Lisboa associou-se às homenagens em memórias das vítimas do ataque numa concentração que juntou cerca de 100 pessoas na Praça do Município. Numa cerimônia de cariz institucional, alguns dos presentes exibiam pequenos cartazes a preto e branco com a frase “Somos Todos Charlie”, num tributo ao jornal.

O embaixador de França, Jean-François Blarel, o representante da comunidade islâmica e imã da mesquita de Lisboa, xeque Munir, e Esther Mucznik, dirigente da Comunidade Israelita de Lisboa participaram num minuto de silêncio em memória das vítimas, ao lado do presidente da Câmara, António Costa.

Personalidades como Mário Soares, Jorge Sampaio, Ferro Rodrigues, Manuel Alegre e Adriano Moreira também marcaram presença na cerimônia.

Foram mais de 50 manifestações como esta por diversos países do mundo com cartazes “Eu sou Charlie”, incluindo em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Em Paris
A iluminação da torre Eiffel, em Paris, foi desligada às 19h (mesma hora em Lisboa, 20h na capital francesa), numa homenagem às vítimas. Por toda a França foram mais de 100 mil pessoas a participarem das manifestações nas ruas.

Centenas de parisienses concentraram-se ao meio-dia (11h em Lisboa), sob chuva intensa, na rua do jornal em Paris, para homenagear com um minuto de silêncio as vítimas do ataque de quarta-feira. Depois do silêncio, as palmas ecoaram entre a chuva em sinal de solidariedade e para agradecer o trabalho dos cartoonistas vedetas do jornal que foram assassinados.

Uma padeira portuguesa chorou a perda de seu cliente e amigo. “A equipe dele vinha cá todos os dias tomar o pequeno-almoço, comprar croissants, pão com chocolate e vinham cá abaixo ver o meu marido porque nos conhecemos muito bem, já há anos e anos”, diz a lusodescendente, Mavilde Lopes Mardon dona da padaria “Aux délices de Franck et Mavilde” há 13 anos.

Criado em 1992 pelo escritor e jornalista François Cavanna, o semanário Charlie Hebdo tornou-se conhecido em 2006 quando decidiu voltar a publicar ‘cartoons’ do profeta Maomé, inicialmente publicados no diário dinamarquês Jyllands-Posten e que provocaram forte polémica em vários países muçulmanos.

O ministro do interior francês Bernard Cazeneuve confirmou estar em curso uma operação em Dammartin-en-Goele, noroeste de Paris, para deter os dois suspeitos do atentado.

Três homens vestidos de preto, encapuzados e armados atacaram na manhã de quarta-feira a sede do jornal Charlie Hebdo, no centro de Paris, provocando 12 mortos (10 vítimas mortais entre jornalistas e cartoonistas e dois polícias) e 11 feridos, quatro dos quais em estado grave.

Os dois suspeitos do ataque estavam “há anos” na lista negra de terrorismo efetuada pelos Estados Unidos, segundo um responsável norte-americano das forças da ordem. Citado pela agência France-Presse, o responsável, sob anonimato, indicou que os irmãos Chérif e Saïd Kouachi figuravam na “lista de vigilância há anos” e da qual constam suspeitos de terrorismo.

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