Na sessão solene comemorativa no parlamento do 51.º aniversário do 25 de Abril de 1974 e do 50.º aniversário da eleição da Assembleia Constituinte, o presidente da República e presidente do Parlamento fizeram seus discursos, seguidos dos líderes partidários.
As bancadas do PS, BE, PCP, Livre, PAN e alguns deputados do PSD e membros do Governo cantaram “Grândola, Vila Morena, já depois de encerrada a sessão solene evocativa. A música de José Afonso, que foi uma das senhas da Revolução de Abril, foi entoada depois de o presidente da Assembleia da República declarar encerrada a sessão solene e de se ouvir o hino nacional.
À semelhança do ano passado, os deputados do Chega abandonaram o plenário. Aos deputados das bancadas do PS, BE, PCP e Livre e da parlamentar do PAN, que empunhavam os cravos distribuídos pelos lugares no hemiciclo, juntaram-se alguns parlamentares do PSD e membros do Governo.
PSD
A vice-presidente da Assembleia da República do PSD, Teresa Morais, pediu hoje “prioridade absoluta” à erradicação da violência doméstica e alertou para novos riscos para as democracias criados pelas redes sociais, num discurso aplaudido várias vezes pela esquerda.
Teresa Morais considerou que se a democracia está hoje consolidada, também é “ainda imperfeita”.
“E se há matéria em que a sua imperfeição se manifesta, é nas desigualdades várias que resistem na sociedade portuguesa, e em particular a que ainda mantém as mulheres em níveis inferiores de participação política e decisão económica, e de maior vulnerabilidade à violência doméstica, cuja erradicação deve ser considerada uma prioridade absoluta, que do que resto o Governo já assumiu”, afirmou, considerando-o mesmo “um objetivo civilizacional”.
No final da sua intervenção, a vice-presidente do parlamento deixou um apelo aos jovens “para que se envolvam civicamente, para que vivam os desafios do mundo real, como tanto pediu o Papa Francisco, de quem o mundo tristemente se está a despedir”.
PS
O líder do PS acusou hoje o Governo de “ficar à janela” a ver a celebração do 25 de Abril enquanto o “povo sai à rua”, apontando um paradoxo entre maior exigência democrática e um “sentimento de desilusão”.
Na opinião do líder do PS, a democracia é “mais exigente do que alguma vez foi” e sujeita “os políticos a um maior escrutínio” do que em qualquer outro momento da história.
“Este imperativo democrático de maior transparência é incompatível com comportamentos de opacidade e de ocultação. Convive mal com condutas de dissimulação e de vitimização. E, sobretudo, torna insuportável a constante chantagem e infantilização dos portugueses”, criticou, numa referência implícita ao primeiro-ministro, Luís Montenegro.
Para Pedro Nuno Santos, está enganado quem acha que “os portugueses não ligam ou desconsideram a seriedade e a transparência de quem os governa”.
O líder do PS voltou depois o seu discurso para os portugueses desiludidos com os seus baixos salários, o custo de vida ou as “pessoas que têm o dinheiro contado até ao fim do mês”.
Pedro Nuno Santos começou a sua intervenção com uma saudação especial aos capitães de Abril, presentes na galeria, e ao fundador do PS e ex-Presidente da República Mário Soares, no seu centenário.
IL
O presidente da IL considerou hoje que “parte do que Abril prometia, ainda está tão longe de se cumprir”, e defendeu que é necessária uma mudança nas próximas eleições para um “Portugal mais liberal”.
“Chegámos a meio século de democracia e afinal, parte do que Abril prometia, ainda está tão longe de se cumprir”, afirmou Rui Rocha.
Rui Rocha elencou vários setores em que considerou haver atualmente problemas em Portugal, como a saúde, “onde há portugueses que podem escolher o seu médico” e outros que “não têm recursos para pagar do seu bolso a liberdade de escolher”.
E disse ainda haver uma geração, a que chamou de “entalados”, que têm atualmente entre 36 e 67 anos e que têm suportado “todas as crises e sabem que continuarão a ser esmagados pelos impostos até à reforma que os penalizará ainda mais se nada for feito”.
PCP
O deputado do PCP António Filipe avisou que a democracia “está sob ameaça dos que tentam denegrir as suas conquistas”, mas manifestou-se convicto de que terá “força suficiente para derrotar os seus inimigos”.
António Filipe reconheceu que, “para muitos portugueses”, o momento atual pode ser de “desencanto, de deceção e de descrença”.
“Desencanto com o incumprimento de promessas feitas e com o defraudar de expectativas criadas. Deceção com uma ação governativa distante das promessas feitas e insensível às reais preocupações das pessoas. Descrença em relação a uma prática política que não contribui para a resolução dos problemas do povo e do país”, enumerou.
Para António Filipe, “está nas mãos do povo e na sua ação a realização dessa vida melhor que Abril iniciou” e que está “nos antípodas de uma direita retrógrada, obscurantista e profundamente reacionária”.
BE
A coordenadora do Bloco de Esquerda considerou hoje que a decisão do Governo de adiar as celebrações do 25 de Abril de 1974 é “a triste confirmação que nem o dia mais feliz consegue iluminar todo o futuro de um povo”.
Na opinião da bloquista, “depois de quebrar promessas e devastar o legado de gerações, o capitalismo saiu da sua crise mostrando o que vale, rindo-se da desigualdade e dividindo povos”, gerando políticos como Donald Trump, Javier Milei, Georgia Meloni, Viktor Órban.
“Eles levantam a motosserra para dizer quem está primeiro e quem fica para trás, decidem as palavras que se gritam e as que são para apagar e escolhem que mortes são legítimas”, criticou.
O Governo adiou a sua “agenda festiva” de celebração do 25 de Abril de 1974 para o dia 1 de maio devido ao luto nacional pela morte do Papa Francisco, decisão que mereceu críticas à esquerda.
Chega
O presidente do Chega defendeu que a democracia transformou a “corrupção fechada” em “corrupção aberta”, alegando que os portugueses “sabem e sentem que têm uma classe política corrupta ou corrompida, capaz de vender os seus interesses”.
Ventura acrescentou que a uma “corrupção sem impunidade” seguiu-se uma “em que os condenados e os criminosos andam livremente pelo país a gozar com o dinheiro e a gozar com aquilo que fizeram”.
O líder do Chega começou o seu discurso por lembrar Celeste Caeiro, alegando que a mulher que distribuiu os cravos pelos militares “morreu abandonada na urgência de um hospital à espera de ser atendida”.
Sobre imigração, Ventura alegou que a chegada migrantes está relacionada com o aumento do número de mulheres violadas, assediadas ou de crimes contra crianças, prometendo combate a esse tipo de práticas.
“Nós não aceitamos que outros venham para aqui objetificar as nossas mulheres, dizê-las que elas têm que se vestir ou como é que elas não têm que se vestir”, acrescentou.
Ventura lembrou também os retornados das antigas colónias, bem como os combatentes portugueses da guerra colonial, acrescentando que, enquanto o Chega estiver no parlamento, o país “nunca pagará um cêntimo de indemnização a nenhuma antiga colónia deste país”.
Livre
A porta-voz do Livre Isabel Mendes Lopes rejeitou hoje adiamentos da celebração da revolução do 25 de Abril de 1974 e apelou ao voto, considerando que o país vive um “momento ameaçador”.
“Nesta altura em que tanto à nossa volta parece tão ameaçador, é mesmo importante termos noção do momento que estamos a viver. O momento é mesmo ameaçador. A História mostra-nos como é tão fácil cair em ditadura, como é fácil quem quer usar o poder para si tomar conta do poder, mesmo quando os sinais estão todos lá”, alertou.
A líder do Livre salientou que “os sinais estão todos aí”, dentro e fora de Portugal, enumerando “o discurso de ódio, o atacar das instituições democráticas, o descrédito da política, o ataque à imprensa e aos jornalistas, a descrença da ciência, a promiscuidade entre poder político e homens com fortunas maiores do que muitos países”.
PAN
A porta-voz do PAN defendeu a necessidade de renovar a esperança na democracia nos 50 anos das primeiras eleições livres em Portugal e em véspera de legislativas antecipadas.
“Há 50 anos, o projeto democrático cimentou-se com as primeiras eleições livres. Neste ano em que somos chamados novamente às urnas, sabemos que os portugueses estão cansados da instabilidade política que tem deixado as suas vidas em suspenso”, disse Inês Sousa Real.
CDS-PP
O líder parlamentar do CDS-PP apelou aos portugueses para “não deixarem a estabilidade nas mãos das oposições” nas legislativas e recordou o voto contra do partido à Constituição em 1976 como “um hino à liberdade”.
“É bom lembrar que houve quem não quisesse que as eleições se realizassem; houve quem apelasse à abstenção e quem impedisse partidos políticos de concorrerem”, disse, considerando que ficou à vista nas urnas que “o povo queria uma democracia europeia e ocidental, e não queria uma tutela político-militar no regime democrático”.
O dirigente democrata-cristão salientou que “o CDS esteve em risco de não concorrer às eleições da Assembleia Constituinte”.
O líder parlamentar do CDS-PP terminou a sua intervenção com um apelo direto ao voto na AD – coligação PSD/CDS-PP, considerando que a opção nas legislativas antecipadas de 18 de maio será entre “avançar e retroceder”.