[Atualizado 05/05/25]
O primeiro dia da campanha para as próximas legislativas ficou marcado neste dia 04 pelo tema da imigração e pelas acusações do líder do PS ao Governo de “trumpização” do país.
A comitiva da Aliança Democrática (AD) parou em Bragança, onde Luís Montenegro foi confrontado com o anúncio do Governo de que a Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA) vai começar a notificar 4.574 cidadãos estrangeiros, na próxima semana, para abandonarem o país voluntariamente em 20 dias. Perante as perguntas, o líder da AD esclareceu que o processo “não foi acelerado agora” e que começou já no ano passado.
“Há um problema com as oposições em Portugal neste momento: é que elas estão muito focadas só em dizer mal do Governo”, disse Luís Montenegro.
“As coisas não estão a acontecer por haver eleições. As coisas estão a acontecer porque o processo começou em junho do ano passado. Não foi acelerado agora. Não foi acelerado mesmo”, assegurou, dizendo que “o processo tem de correr e não pode parar” devido às legislativas.
Do lado do Partido Socialista, a campanha começou em Ponte de Lima, com Pedro Nuno Santos a dizer que Luís Montenegro está mais preocupado em aproximar-se do Chega, em relação à imigração, apontando mesmo uma “trumpização” do líder da AD. “Desta vez, temos um primeiro-ministro que diz que há pessoas que têm de ser expulsas do território nacional, diz isso a sorrir e ainda pede ao Chega para elogiar a sua política”, sublinhou.
De Ponte de Lima, o PS seguiu para uma arruada em Guimarães, onde Pedro Nuno Santos acusou a AD de lidar com uma crise através de cortes em salários e pensões.
Ainda no tema da imigração, o Chega foi mais longe e defendeu a expulsão dos imigrantes que não têm trabalho, com o cabeça de lista pela Guarda, Nuno Simões de Melo, a dizer que não são “4.500 que têm que ir para casa”, mas sim um milhão e 700 mil – número que não corresponde ao total de residentes estrangeiros em Portugal constantes dos dados oficiais.
André Ventura também discursou no primeiro dia de campanha e pediu uma oportunidade para governar. “Durante 50 anos falharam os mesmos e durante 50 anos escolhemos os mesmos, sempre, PS e PSD”, disse o presidente do Chega, acrescentando que os portugueses ficaram “cada vez mais pobres e cada vez mais atrasados”.
Mais abaixo no mapa, em Setúbal, o líder da Iniciativa Liberal comparou Pedro Nuno Santos a um “náufrago agarrado à mentira” para sobreviver, acusando o secretário-geral do PS de dizer falsidades sobre o modelo para a saúde defendido pelos socialistas.
No Mercado do Livramento, Rui Rocha lançou ainda o desafio para uma “solução de centro-direita reformista”. “É hora de termos uma solução de centro-direita verdadeiramente reformista e, para isso, o voto certo é o voto na IL”, acrescentou.
O Bloco de Esquerda esteve em Almada, onde a coordenadora nacional do partido acusou os “governos do centro” por terem “escancarado as portas” à extrema-direita, afirmando que não se podem queixar agora.
“O PSD, no momento de início da campanha, resolve fazer um anúncio que traz todos os fantasmas, e que identifica bodes expiatórios, neste caso, os imigrantes. Faz política contra os imigrantes porque acha que isso lhes permite disputar votos com o Chega”, criticou Mariana Mortágua.
Em Vila Franca de Xira, o secretário-geral do PCP aproveitou o Dia da Mãe para trazer a natalidade para a campanha e apontou o dedo aos “discursos bonitos” dos restantes partidos sobre o tema. “São os mesmos que se recusam a combater a precariedade, os baixos salários, a discriminação salarial de que as mulheres são alvo, a desregulação profunda dos horários”, disse Paulo Raimundo, num discurso que foi interrompido por um corte de energia no Pavilhão do Sobralinho.
“É um ato de campanha”, insistiu o líder comunista, que vê na medida anunciada uma forma para o Governo da AD “introduzir na dinâmica eleitoral um tema”.
Em relação à medida concreta, Paulo Raimundo lamentou que o foco do executivo não seja antes o combate às redes de tráfico de seres humanos e a regularização dos cidadãos estrangeiros, que diz ser tanto do interesse do Estado como dos próprios cidadãos.
Em Cascais, no mercado da cidade, o porta-voz do Livre assumiu, mais uma vez, que quer aumentar o grupo parlamentar e pediu aos eleitores “muitas papoilas” – símbolo do partido – nos boletins de voto.
Rui Tavares aproveitou ainda para deixar um recado à esquerda e dizer que o Livre é capaz de falar de liberdade: “Coisa que a esquerda, de certa forma, deixou abandonada para ser aproveitada, usada e abusada por uma direita que, verdadeiramente, uma delas não gosta de liberdade, porque se se apanhasse no poder eram os piores autoritários e outra que acha que a liberdade é só uma questão de menos impostos”.
Nesta segunda, o co-presidente do Volt Portugal defendeu a entrada de imigrantes de forma ordenada no país e considerou “vergonhoso fazer campanha eleitoral” com o anúncio da “expulsão em massa” de pessoas que trabalham.
“É lamentável que um partido de governo ache que pode ganhar votos com a expulsão em massa de pessoas que trabalham. A lei é para cumprir, mas fazer campanha eleitoral sobre isso é vergonhoso. Por outro lado, tenho dúvidas sobre como é que o governo planeia dar resposta aos mais de 130 mil postos de trabalho que estão por preencher na restauração e na construção”, declarou Duarte Costa.
“Nós podemos ter entrada de imigrantes sem ser de uma forma desordenada, precisamos de planeamento, mas, sobretudo, precisamos de especializar a economia portuguesa numa economia de alto valor acrescentado, que gera postos de trabalho, que, por exemplo, os portugueses sonham com eles, mas que vão buscá-los noutros países europeus”, argumentou.
O primeiro dia de campanha eleitoral fica ainda marcado pela abertura das inscrições para o voto antecipado, em curso até à próxima quinta-feira, e pelo debate entre os líderes partidários, pela noite.