Seria sem dúvida excelente se o futuro da Humanidade pudesse vir a ser melhor, mas duvido muito de que se esteja a caminhar para uma tal situação. E duvido porque a democracia, tal como hoje pode ser praticada, pouco ou nada representa já, dado que deixou de haver lugar à presença de ideais políticos e ao confronto de ideias antagónicas.
Já todos perceberam que os grandes interesses, fortemente potenciados pelo modo como as sociedades se têm vindo a desenvolver, acabaram por dominar o poder político e anular o valor que as democracias representativas, de facto, pudessem apresentar. Torna-se hoje difícil perceber como será possível modificar este estado de coisas, porque os protestos dos povos que estão a ter lugar por todo o Mundo não servem a não ser para se perceber que não conduzem a uma qualquer melhoria na justiça da organização das sociedades.
Será, pois, interessante que possa vir a ter lugar o desejo recentemente manifestado por Isabel Allende, de que possa vir a ter lugar uma onda mundial contra a corrupção, assente nas reações que estão a ter lugar por cidades as mais diversas do Mundo, mas a verdade é que não creio num tal sentimento de arrependimento regenerador por parte daqueles que, precisamente, criaram e puseram a funcionar este tipo de sociedade, onde a presença de democracias simplesmente se reduz a uma espécie de anestesiante: tudo é permitido, desde que não ponha em causa o clima explorador e desumano que se atingiu, precisamente, nas (ditas) democracias.
Se atentarmos no que se está a passar no Egito, percebe-se facilmente o quão certo eu estava logo ao início das manifestações no Cairo: aí está já a ação criminosa da maioria religiosa egípcia contra a minoria cristã copta. Uma realidade mais que expectável, e muito típica dos povos onde predomina o Islão, ou daquelas onde, de algum modo, está presente ao nível da comunidade uma religião fortemente maioritária.
Ao mesmo tempo, e quando os Estados Unidos se preparam, nos termos do prometido, para deixar o Afeganistão, onde se diz poder vir também a funcionar uma outra (dita) democracia, eis que o Governo russo, à semelhança do que eu próprio escreví há um ano e meio atrás, na sequência de uma reportagem televisiva, chamou agora a atenção do Mundo para o facto das autoridades militares norte-americanas nada fazerem contra os campos de papoilas ali existentes nem contra a correspondente produção de ópio…
A resposta daquelas autoridades foi a dada por determinado major que surgia na reportagem: evitar a pobreza dos camponeses, impedindo-os, assim, de cair nas mãos da Al-Qaeda… Simplesmente, se tivermos em conta tudo o que se sabe e se descobriu em torno dos novos Estados oriundos da extinta Jugoslávia, em matéria, no mínimo, de tráfico de gente humana, de parceria com gente das Nações Unidas, percebe-se facilmente que a explicação norte-americana não passa de uma desculpa, porque o que de há muito assentou arraiais no Afeganistão foi o crime organizado transnacional, mormente o de heroína.
Mas não é tudo, porque as Nações Unidas acabam de denunciar a prática corrente da tortura em quase meia centena de prisões no Afeganistação, localizadas em duas dezenas e meia de províncias, aplicadas a talibãs detidos através das operações militares dos Estados Unidos e das tropas daquele país. Ou seja: deixaram os talibãs de ser os maus da fita – e não o eram assim tanto, como nos relata Dick Clarke –, e passaram agora a ser as vítimas. Os métodos, claro está, com ou sem democracia, são os mesmos: tortura.
Por entre nós, para lá de quase se ter anulado o caso BCP, pouco ou nada transparece dos casos BPN e BPP. E será que Joe Berardo ainda acabará por vir a ser o atingido, depois do que lhe chegou sobre o caso e que logo deu a conhecer a quem de direito? E é por isto tudo, e por muitas coisas mais e deste tipo, que sempre o Bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho e Pinto, acaba por ter razão, como voltou agora a dar-se com a sua tomada de posição face à estrutura futura dos defensores oficiosos.
Estes operadores judiciários, como no-lo diz a lógica das coisas, têm de ser advogados, porque são eles que vão defender os seus clientes. Não pode passar pela cabeça de um jurista de qualidade mínima que os defensores dos seus clientes possam ser oriundos de um qualquer tipo de controlo do poder político, mais ou menos direto. E já agora, também não pode razoavelmente imaginar-se que o Bastonário da Ordem dos Advogados seria irresponsável ao ponto de utilizar, taticamente, o nome e a função do Presidente da República. Pois, se assim fosse, o Presidente da República, como é seu timbre, teria já dado a conhecer a sua natural reação a um tal abuso.
Por fim, um grave risco que começa a agigantar-se, para os Estados Unidos e para o Mundo: a possibilidade de Mitt Romney vir a ser candidato presidencial pelos republicanos, porventura, mesmo vir a ser eleito presidente. Constituirá, inquestionavelmente, o relançar dos Estados Unidos para novas intervenções belicistas irresponsáveis por esse Mundo fora. É essencial não esquecer o que este sujeito há dias afirmou: os Estados Unidos devem dirigir o Mundo, porque Deus não os criou para serem uma nação de seguidores.
Mitt Romney, como se sabe, é mórmon, pelo que uma sua vitória presidencial acabará por traduzir-se num verdadeiro sufoco às liberdades fundamentais, até ao mundo científico – não esqueçamos a tal historieta do neutrino…–, seja nos Estados Unidos, seja por partes diversas do Mundo. Este idiota pseudo-iluminado pode bem vir a constituir-se no polo disseminador das terríveis previsões para o futuro da Humanidade que não me deixam o pensamento…
Que é feito dos nossos intelectuais? Por onde andam os intelectuais europeus? E ninguém reage por toda a América Latina em face de um risco como o suscetível de ser materializado por uma vitória de Mitt Romney, nos Estados Unidos? E a Igreja Católica? Não tem nada a dizer em face destas inacreditáveis e perigosas tomadas de posição de Mitt Romney? Triste sina, a dos povos dos nossos dias, que tanto pareciam ter conseguido, quando acabaram por se deixar levar para a fronteira da mais terrível ditadura jamais imaginada…
Por Hélio Bernardo Lopes
De Portugal