Presidente condecora Mário Soares com o Grande Colar da Ordem de Camões

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa intervém durante a cerimónia comemorativa do centenário do nascimento de Mário Soares na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, 07 de dezembro de 2024. FILIPE AMORIM/LUSA

Mundo Lusíada com Lusa

O Presidente português condecorou neste sábado o antigo chefe de Estado Mário Soares, a título póstumo, com o Grande Colar da Ordem de Camões, distinção honorífica que foi entregue aos seus filhos Isabel e João.

Marcelo Rebelo de Sousa anunciou a entrega desta insígnia no final da sessão evocativa dos 100 anos do nascimento de Mário Soares, fundador e primeiro líder do PS, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

No seu discurso, que encerrou a sessão, o chefe de Estado considerou que o centenário do nascimento de Mário Soares “é um grande momento democrático” que “contribui para a “unidade dos portugueses”.

Tendo a ouvi-lo o antigo Presidente da República Cavaco Silva e o anterior primeiro-ministro e atual presidente do Conselho Europeu, António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que o centenário de Mário Soares “não invoca apenas um grande português, não invoca apenas um grande político, um grande lutador, um grande visionário do futuro, um grande construtor do futuro, cria condições únicas para unir os portugueses e unir Portugal”.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, “a grande força” de Mário Soares era ser “um homem apaixonado pelas suas causas”.

“Mário Soares viveu com paixão a luta contra a ditadura, viveu com paixão a revolução, o início da democracia, as derrotas e as vitórias da democracia, sempre pronto para começar, nos momentos mais improváveis, nas idades mais improváveis, nas circunstâncias mais improváveis”, disse.

Também  discursou António Costa, que enalteceu a “grandeza intemporal” do histórico socialista Mário Soares, e realçou que o antigo chefe de Estado “pensou Portugal com olhos europeus”.

O ex-primeiro-ministro socialista começou por salientar que a “história de Portugal do século XX não seria a mesma sem Mário Soares” e “o rumo integrador, tolerante e cosmopolita da nossa Europa não teria sido o mesmo sem a participação ativa de Mário Soares”.

“Mário Soares pensou sempre Portugal como um europeísta. Pensou Portugal com olhos europeus. Sempre fiel aos valores humanistas que reconstruíram a Europa no pós-guerra. Que a foi aproximando, integrando e alargando. Destino comum na defesa do humanismo, da liberdade, da paz, da justiça social, da prosperidade e da democracia”, enalteceu.

Foi por pensar Portugal como europeísta, continuou o presidente do Conselho Europeu e antigo secretário-geral socialista, que Soares “lutou sempre por um país livre e mais justo, menos desigual e cada vez mais aberto ao mundo”.

“Porque só cumprindo estes valores, poderia Portugal mudar o rumo da sua história em ditadura, pôr termo ao colonialismo, e encontrar na Europa o caminho de uma história afortunada”, sustentou.

António Costa realçou que o antigo Presidente da República “soube criar, recriar e mobilizar solidariedades europeias espalhadas por toda a União” e lembrou que apesar de o histórico socialista ter presidido a três governo de curta duração, “a verdade é que a determinação de Mário Soares fez desses governos determinantes e que estivessem precisamente no início, durante e no termo” do processo de adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE).

Costa lembrou a assinatura do tratado de adesão à CEE, em 1985, “um dos últimos atos do seu último Governo a que presidiu e que já então estava a ser derrubado” – uma alusão à crise política do verão de 1985, escutada na plateia pelo antigo Presidente da Republica Cavaco Silva, que assumia a liderança do PSD nessa época.

“Sabemos que muitos problemas subsistem, mas o Portugal de hoje é radicalmente diferente do Portugal que tínhamos em 1985. E grande parte dessa diferença se explica pela nossa adesão à então CEE. E este Portugal era o Portugal sonhado por Soares, absolutamente aberto ao mundo. A Europa estava, a partir de então, definitivamente connosco”, sublinhou.

António Costa frisou que a “inspiração de Mário Soares” é precisa “mais do que nunca” numa altura em que se vivem “tempos de tensão e medo”.

Ausência do Primeiro-ministro

Representando o governo, o ministro dos Assuntos Parlamentares defendeu que a democracia portuguesa precisa do “espírito dos que lutam pelo bem comum, com tolerância”, considerando que essa foi uma das principais mensagens deixadas pelo histórico socialista Mário Soares.

“Uma das palavras e uma das mensagens principais e testemunhos da sua vida foi o da tolerância. E eu acho que esta é uma ideia que devemos cultivar mesmo nas nossas diferenças: respeitar quem lutou pela democracia, por um país melhor, pela liberdade, com tolerância. Acho que a democracia portuguesa precisa desse espírito, dos que lutam pelo bem comum, com tolerância, discordando por vezes – e nós discordámos várias vezes de escolhas de Mário Soares. Deve-nos unir aquilo que é mais importante que é a defesa do povo português”, considerou.

António Leitão Amaro, interrogado sobre o porquê de o primeiro-ministro não ter estado presente, desdramatizou, lembrando que Luís Montenegro esteve na sessão solene evocativa na Assembleia da República na sexta-feira e foi autor de um artigo no jornal Público sobre o tema.

Leitão Amaro acrescentou que o Governo vai continuar a associar-se no apoio a várias iniciativas de celebração dos 100 anos do nascimento de Mário Soares, lembrando-o como “uma das personalidades mais importantes e que mais contribuiu para a democracia portuguesa”.

“Podemos, vários de nós, em vários momentos, discordar de algumas opções, mas o contributo para que Portugal seja uma democracia, tenha vencido uma ditadura e depois a tentação de uma nova ditadura na sequência da Revolução Democrática deve também e muito a Mário Soares”, sublinhou.

Mário Alberto Nobre Lopes Soares, nascido a 07 de dezembro de 1924, foi uma das principais figuras da resistência ao regime do Estado Novo. Esteve preso diversas vezes e chegou a ser exilado para São Tomé e Príncipe e França.

Advogado, foi fundador e primeiro líder do Partido Socialista.

Após a revolução de 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respetivo tratado, em 1985.

Foi Presidente da República durante dois mandatos, entre 1986 e 1996.

Morreu em 07 de janeiro de 2017, aos 92 anos, em Lisboa.

O centenário do seu nascimento começa hoje a ser assinalado com um vasto programa que decorre até ao final de 2025 e que irá estender-se a vários pontos do país com exposições, edições literárias e iniciativas culturais.

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