ONU: Presidente realça medidas de Portugal e confia que haverá ação pelo clima

Mundo Lusíada com Lusa

O Presidente português realçou hoje nas Nações Unidas as medidas adotadas em Portugal para combater as alterações climáticas e deixou uma mensagem de confiança na capacidade de ação dos responsáveis políticos.

“Nós podemos e iremos cuidar do que é o nosso único planeta, o futuro das gerações mais novas. Nós seremos responsáveis perante as nossas populações. Não as iremos desapontar”, afirmou, num discurso na Cimeira da Ambição Climática, na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque.

Esta cimeira foi convocada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, para uma vez mais alertar para a urgência de se agir nesta matéria.

Marcelo Rebelo de Sousa, que interveio em inglês, durante cerca de três minutos, pediu “mais ambição e credibilidade no que respeita à ação climática”.

Na presença do ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, o chefe de Estado referiu, entre outras medidas, que “Portugal decidiu antecipar em cinco anos, para 2045, a neutralidade carbônica total” e que vai “duplicar o investimento em ciência e tecnologia aplicadas aos mares”.

“Estamos financiar tantos países vulneráveis. Começámos com um acordo piloto com Cabo Verde convertendo dívida do Estado num fundo climático e ambiental. Vamos replicar com outros países africanos e asiáticos que pertencem à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)”, destacou.

O Presidente da República disse que a humanidade está “a correr contra o relógio” e que já se perdeu “demasiado tempo” para travar e minimizar os efeitos das alterações climáticas.

“Mas estamos certos de que, antes de 2030 e antes de 2050, nós podemos e iremos cuidar do que é o nosso único planeta, o futuro das gerações mais novas. Nós seremos responsáveis perante as nossas populações. Não as iremos desapontar”, acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa mencionou que Portugal não produz eletricidade a partir de carvão nem tem energia nuclear e vai “antecipar em quatro anos, para 2026, 80% de renováveis na produção de eletricidade e em 2030 100% de renováveis”.

“Até 2030 iremos reduzir em 55% as nossas emissões [de gases com efeito de estufa]”, prosseguiu o chefe de Estado.

Ainda sobre as medidas adotadas em Portugal, no que respeita ao mar, salientou a decisão de “classificar como áreas protegidas 30% do seu mar” e o desenvolvimento de “um observatório atlântico para o clima”.

Marcelo Rebelo de Sousa chegou no domingo à noite aos Estados Unidos da América, onde ficará até sexta-feira.

Na terça-feira, discursou no debate geral da 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU e apelou aos líderes mundiais para que se passe das promessas à ação na reforma desta organização, em particular do seu Conselho de Segurança, e das instituições financeiras mundiais.

Brasil e EUA

Marcelo Rebelo de Sousa elogiou os discursos dos presidentes brasileiro, Lula da Silva, e norte-americano, Joe Biden, nas Nações Unidas, nos quais identificou “uma sobreposição que permite o diálogo”.

Em declarações aos jornalistas na sede da ONU, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que teve oportunidade de falar hoje com o Presidente da Ucrânia e que Volodymyr Zelensky se mostrou “muito feliz” com a perspetiva de um encontro com Lula da Silva na quarta-feira.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, que foi hoje o oitavo chefe de Estado a intervir na abertura do debate geral da 78.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, o secretário-geral da ONU, António Guterres, abriu a sessão com “uma ótima intervenção” em que falou dos problemas e prioridades de modo “muito direto e muito pedagógico”.

“Depois houve dois grandes discursos”, considerou, referindo-se às intervenções dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos da América.

O Presidente da República qualificou o discurso de Lula da Silva como “muito bem escrito e muito equilibrado” e “aberto ao diálogo, também no caso da Ucrânia”, e o de Joe Biden como “um exemplo de mestria diplomática”, em que “foi naturalmente muito enfático e muito determinado” contra a invasão russa.

Na sua opinião, “marcaram verdadeiramente duas posições”, o Presidente norte-americano com uma “posição pró-ucraniana clara, incisiva”, e o Presidente do Brasil com uma “posição de disponibilidade para negociar – condenando a invasão, hoje não condenou, mas já tinha condenado anteriormente – representando o resto do mundo”.

“Não são incompatíveis, há diálogo entre eles. Se virem bem, há uma sobreposição. São posições diferentes, mas há uma sobreposição que permite o diálogo”, defendeu.

Interrogado se Lula da Silva não sido mais pró-russo do que neutro, Marcelo Rebelo de Sousa contrapôs que o Presidente do Brasil “tem tido uma linha muito inteligente, própria, autónoma” e que é “correspondente ao pensamento de muitos países”.

“E é uma posição que eu consideraria bem pensada, bem apresentada e hoje muito bem construída em termos de discurso”, acrescentou.

No seu discurso, o Presidente brasileiro também apelou ao “diálogo” para pôr fim duradouro à guerra na Ucrânia.

“A guerra na Ucrânia expõe a nossa incapacidade coletiva de fazer cumprir os objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas (…) Nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo”, declarou.

Desde o início da guerra na Ucrânia, o Brasil recusou-se a fornecer armas à Ucrânia ou a impor sanções contra a Rússia de Vladimir Putin.

O Presidente disse que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas tem perdido credibilidade porque os seus membros permanentes travam guerras sem autorização e defendeu uma reforma no órgão. “O Conselho de Segurança da ONU vem perdendo progressivamente sua credibilidade. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia”.

A crítica à governança global também foi tema do discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, que sublinhou, na abertura do evento, que o Conselho de Segurança das Nações Unidas reflete a realidade política e económica de 1945, quando muitos países agora representados no plenário da ONU ainda estavam sob domínio colonial.

“O mundo mudou. As nossas instituições não. Não podemos resolver eficazmente os problemas tais como eles são se as instituições não refletirem o mundo tal como ele é. Em vez de resolverem problemas, correm o risco de se tornarem parte do problema”, disse Guterres.

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