Por Ronaldo Andrade
Assim como no Império Romano, não basta apenas pão e circo. É preciso sangue.
Muito sangue para que a multidão fique saciada, feliz. Plena.
O atual momento político do Brasil é semelhante: tais como os gladiadores, é preciso entrar na arena para massacrar o oponente.
A quem interessa esse clima de divisão e inflamação política?
“Divide et impera”, dividir para conquistar.
Os grupos dominantes – do passado, do presente e muito provavelmente os dos tempos futuros – adoram essa confrontação, pois assim lhes facilitam a manutenção do poder.
Mulheres x homens, negros x brancos, direita x esquerda.
A sociedade fragmentada em classes, estimulando o confronto entre os grupos.
“Pega fogo, cabaré”.
Os mentores da estratégia têm a exata noção que a maioria da massa adora tal confronto.
O voto, sabem muito bem, apesar do verniz racional, é sobretudo emocional. Assim, é imperioso que mantenham as torcidas em constante clima de confronto.
É preciso conquistar, mais do que mentes, corações.
O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabem disso muito bem, e já estão em campo para que essa nova (velha) polarização volte a contaminar o ambiente político, com vistas na eleição presidencial de 2022.
O poder, inebriante como sempre só ele pode ser.
Desta forma, cada vez mais acirra-se a convivência; diversidade, só se for a minha.
Assim como as manifestações de solidariedade e empatia – só para os meus. Seletividade é o que importa.
Um cenário provável é a de total impossibilidade de convivência entre os polos, que contaminam a população.
Estimulados pelos grupos políticos dominantes, setores da imprensa, do Congresso, do STF, além da militância dos extremos, a massa (Eu? Você? Nós?) vamos sendo jogados de um lado ao outro – muitos até gostam, por absurdo que pareça.
Dentro do marketing político, uma constatação é evidente: discursos equilibrados, feitos pelos “isentões” – nomenclatura dada pelos extremos – não apelam ao emocional e, portanto, não atraem multidões.
Mas, cabe a nós, os “isentões” – que buscam por algum equilíbrio, recusando-se a participar deste jogo, tentando encontrar alternativas (quais?) – entrar em campo para tomar o controle deste barco, antes que os radicais da extrema-direita e extrema-esquerda afundem de vez com a embarcação.
Sem ilusões, claro: tal empreitada é uma batalha a médio / longo prazo.
Caso seja ainda possível.
Por Ronaldo Andrade
Jornalista, fotógrafo e escritor.
Correspondente do Jornal Mundo Lusíada na Baixada Santista desde 2007. Servidor público. Pós-graduado em Política e Relações Internacionais (Fundação Escola e Sociologia de São Paulo / SP) e em Gestão Pública Municipal (Universidade Federal Fluminense / RJ).