“Governos podem mudar. Mas, quem vier, terá de cumprir com os compromissos que assumiu”

Celebração do 1.º de Maio, Dia do Trabalhador, no Centro Desportivo Nacional do Jamor, em Oeiras, 01 de maio de 2025. MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

Em Lisboa, o secretário-geral da UGT defendeu hoje, nas celebrações do 1.º de Maio, que a instabilidade política não altera o rumo traçado pela central sindical e reiterou que o próximo Governo terá de cumprir os acordos assinados na concertação social.

No palco no Centro Desportivo Nacional do Jamor, Mário Mourão começou por recordar que “as celebrações deste 1.º de Maio, Dia do Trabalhador, têm como pano de fundo, tal como no ano passado, um cenário de mudança política”, a propósito das eleições de dia 18.

Esta crise política junta-se à “intranquilidade internacional”, mas “a UGT jamais aceitará que essas mudanças sejam usadas para travar o progresso social e para desvalorizar quem vive do seu trabalho”, defendeu.

Mário Mourão assegurou, para uma multidão que mostrava várias bandeiras dos sindicatos que integram a UGT, que “a instabilidade política não altera o rumo traçado pela UGT, nem põe em causa o trabalho da central e dos seus sindicatos”.

“Os Governos podem mudar. Mas, quem vier, terá de cumprir com os compromissos que assumiu connosco. Quem vier, terá de cumprir os acordos assinados na concertação social”, afirmou.

Deixou também outro recado para o próximo executivo, apontando que “há trabalho a fazer para resolver o problema dos 40% de desempregados que são pobres”.

O secretário-geral da UGT apontou ainda o dedo a quem “quer ditar as regras da vinda de trabalhadores para Portugal e se esquece do essencial”, criticando o facto de os sindicatos terem ficado de fora das discussões sobre a chamada “Via Verde” para imigrantes.

Para este Dia do Trabalhador, celebrado com uma concentração no Jamor, a UGT escolheu apenas um lema: “Juntos pela valorização dos trabalhadores”.

Lucinda Dâmaso, presidente da UGT, também discursou e defendeu que a “UGT foi fundamental ao longo da democracia”, estando “sempre onde era preciso e ao lado dos trabalhadores”. A sindicalista assumiu ainda que “há muito caminho a percorrer”, apontando que é preciso “acabar com a precariedade e a política de baixos salários”.

O Dia do Trabalhador é hoje comemorado em todo o país, com as centrais sindicais CGTP e UGT a promoverem manifestações e iniciativas pela valorização dos trabalhadores.

As comemorações no Centro Desportivo Nacional do Jamor, em Lisboa, arrancaram às 10:00 com a 9.ª Corrida UGT, seguida de diversas atividades desportivas e sindicais promovidas pelos sindicatos filiados naquela central sindical.

Aumento salarial

Já o secretário-geral da CGTP-IN, Tiago Oliveira, reforçou hoje a exigência do aumento salarial de pelo menos 15% para todos os trabalhadores, bem como o fim de banco de horas.

“No nosso país, a vida dos trabalhadores, dos jovens, dos reformados e da população em geral está hoje mais difícil. Crescem as dificuldades para garantir uma vida digna, com salários e pensões insuficientes para cobrir os custos com a habitação, alimentação e serviços essenciais, por sérias limitações no acesso à saúde, à educação, à habitação, entre outros bens”, disse Tiago Oliveira perante milhares de pessoas concentradas nos jardins da fonte Luminosa, na Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa.

Neste contexto, reforçou a exigência de “em cada empresa e local de trabalho” haver “aumento dos salários em 15% num mínimo de 150 euros”.

Quando se assinala o Dia Internacional do Trabalhador, o secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP-IN) alertou ainda para a precariedade e destacou que o poder de mudança está nas mãos dos trabalhadores e na sua capacidade de luta e mobilização.

“A precariedade é uma chaga social? É! Somos o segundo país da UE onde a taxa de precariedade é maior, são 1,2 milhões de trabalhadores nesta situação. E contra ela vamos lutar nas ruas, exigindo uma política diferente, mas também em cada empresa e local de trabalho, exigindo que a cada posto de trabalho permanente corresponda um vínculo de trabalho efetivo”, apontou.

O fim de banco de horas e da “desregulação completa dos horários” é outro dos pontos do caderno reivindicativo da CGTP-IN.

O 1.º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador, teve origem nos acontecimentos de Chicago de há 139 anos, quando se realizou uma jornada de luta pela redução do horário de trabalho para as oito horas, que foi reprimida com violência pelas autoridades dos Estados Unidos da América que mataram dezenas de trabalhadores e condenaram à forca quatro dirigentes sindicais.

Há 51 anos, em Portugal, a celebração do 1.º de Maio, apenas uma semana após a revolução do 25 de abril, foi uma grande manifestação popular.

Por todo o país, centenas de milhares de pessoas saíram à rua mostrando a sua alegria e com exigências como ‘direito à greve’, ‘fim da guerra já’ ou ‘regresso dos soldados’.

Imigrante

Também Solidariedade Imigrante, a maior associação de imigrantes em Portugal, agendou para o Martim Moniz, em Lisboa, uma concentração para associar-se à manifestação de 01 de Maio.

“Vamos chamar a atenção dos políticos e dos partidos que têm governado este país para que olhem para os problemas dos imigrantes. A imigração é uma questão global que tem de ter uma resposta, o governo não pode deixar que a extrema-direita ataque os imigrantes que tanto ajudam este país”, afirmou o presidente da associação, Timóteo Macedo.

A ação no Martim Moniz teve início as 14:00 e depois os participantes se juntaram na manifestação nacional de trabalhadores.

Nas últimas semanas, a Solidariedade Imigrante tem realizado manifestações em Lisboa e Porto e, para o próximo dia 16, está agendada uma ação semelhante em São Teotónio, Odemira.

“Vamos fazer uma ação pública durante a tarde, pelas 17:00, procurando sensibilizar a população e mostrar que os imigrantes estão a ser prejudicados pelas políticas do governo”, explicou.

O sudoeste alentejano tem sido destino de muitos imigrantes do subcontinente indiano para trabalhar nas estufas agrícolas, alterando a demografia da região e revitalizando o tecido econômico, ao mesmo tempo que respondem às grandes carências de mão-de-obra das empresas.

“Vamos mostrar que os imigrantes que cá estão só querem trabalhar, só querem os seus direitos e mostrar que este é um tema que importa” para as eleições de 18 de maio, disse ainda.

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