Projeto europeu que analisa extremismo arranca em Portugal em outubro

Da Redação com Lusa

A primeira fase de um projeto europeu que pretende compreender e contrariar o diálogo político extremista arranca em Portugal em outubro, com trabalho de campo liderado por uma equipe da Universidade de Coimbra.

A primeira fase do projeto OppAttune, com financiamento de 3,1 milhões de euros da Comissão Europeia, arranca em Portugal em outubro, com o objetivo de “compreender e desenvolver estratégias para contrariar o surgimento de narrativas, práticas e comportamentos extremistas”, afirmou a Universidade de Coimbra (UC), instituição portuguesa que participa no consórcio.

O projeto, que estará em curso até 2026, vai envolver diversos públicos, como “jovens entre os 18 e os 24 anos e cidadãos de outras faixas etárias, influenciadores digitais, decisores políticos, atores políticos locais e nacionais e investigadores”, aclarou a UC, em nota de imprensa.

O projeto pretende apoiar os cidadãos na “avaliação da sua própria suscetibilidade ao extremismo político, na análise da sua capacidade de sintonização com outras posições e na avaliação da sua capacidade de manter o diálogo em situações altamente polarizadas”.

Em Portugal, o trabalho de campo vai ser desenvolvido ao longo de dois anos, com a primeira fase a consistir na aplicação de métodos etnográficos para “investigar os motores antropológicos do extremismo no nível quotidiano”.

Nessa primeira fase, a equipa irá selecionar voluntários residentes em localidades selecionadas pela equipa do projeto, com base em critérios como “alterações profundas em padrões de resultados eleitorais, peso e relevância de comunidades de imigrantes, minorias sociais e populações marginalizadas, contextos urbanos nos quais processos de gentrificação estão a ter lugar e outros critérios”, referiu a coordenadora da equipa portuguesa, Joana Ricarte, citada na nota de imprensa.

A segunda fase, que decorre entre junho de 2024 e setembro de 2025, propõe-se a utilizar ferramentas “como autoetnografia e memória colaborativa, trabalho de grupo narrativo, diários digitais e teatro fórum”, para “intensificar a relação dos participantes com a investigação”.

A equipa portuguesa irá explorar “a emergência de narrativas, visões de mundo e condições históricas, locais e nacionais, que promovem pensamentos que podem resvalar para o extremismo violento”.

“Ao lidar com uma perspetiva não-episódica, mas, sim, quotidiana, pretendemos identificar a raiz de discursos e práticas normalizadoras e legitimadoras do que, em casos extremos e institucionalizados, passa a ser classificado pela grande media, pelos decisores políticos e pela sociedade como extremismo político violento”, afirmou Joana Ricarte, também investigadora do Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIS20).

Para a coordenadora da equipa, “Portugal sempre foi descrito como uma espécie de oásis, mas tem havido uma virada muito rápida, traduzida em resultados eleitorais nos últimos sufrágios ao nível nacional, que está a colocar de forma institucionalizada nas instâncias de poder discursos, práticas e projetos políticos que são assumidamente de base exclusionária”.

“Estes resultados contradizem, uma vez mais, o argumento de que Portugal seria imune à tendência de crescimento de partidos antissistema e à difusão de ideologias extremistas”, vincou Joana Ricarte, referindo que o projeto irá ainda avançar com testes-piloto de algumas das ferramentas durante as próximas eleições europeias.

O consórcio europeu é liderado pela The Open University (Reino Unido), sendo coordenado em Portugal pela Universidade de Coimbra, através do CEIS20 e do Instituto de Investigação Interdisciplinar.

Ao todo, OppAttune reúne 17 parceiros de 14 países.

1 Comment

  1. “alterações profundas em padrões de resultados eleitorais, peso e relevância de comunidades de imigrantes, minorias sociais e populações marginalizadas, contextos urbanos nos quais processos de gentrificação estão a ter lugar e outros critérios”

    Ora… E não é que os que se arrogam ‘defensores da democracia’ alimentam a pretensão – para já não mais oculta, mas aqui explícita como é óbvio – em serem ‘mais democráticos que a própria democracia’?
    E o modo que usam para atingir o objetivo é simples: Catalogar todos aqueles contrários ao status quo que se manifestem pelo voto – que, à saber, é a expressão máxima da democracia – contra o que os detentores dos tachos, digo, dos ‘isentíssimos’ postos de pesquisadores definem como permitido. Mesmo operando sob o teatro político – que é já uma concessão composto por camadas discretas do sistema vigente – simulam, ainda assim, uma afetação de indignação quando têm o remanso de seus tachos, digo, proventos altamente ameaçados por uma oposição – ainda que consentida (pois é o que há em Portugal desde, ao menos, o fim da Guerra Civil em 1834).

    Para já não entro no mérito da considerável parcela da imigração que é fabricada: Apenas homens em idade militar que não trazem família consigo e cuja a ‘contribuição para a Segurança Social’ não supera os benefícios que recebem, sendo que muitos destes alegadamente não falam sequer uma palavra na língua portuguesa – mas, ao que parece, pensam os ‘isentos’ pesquisadores que os ‘acolhidos’ (ou acólitos?), ainda assim, percebem muitíssimo de política portuguesa. Fantástico!

    É o que parece esta lógica republicana: Vox Populi Vox Dei (Ma Non Troppo, capicce)

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