Em despedida, Antonio Costa diz que a Europa “podia ter feito mais”

Mundo Lusíada com Lusa

Nesta sexta-feira, António Costa considerou, na sua última reunião do Conselho Europeu enquanto primeiro-ministro, que a União Europeia (UE) “podia ter feito mais” e disse esperar que no futuro a sua voz continue a ser ouvida.

“A Europa podia ter feito muito mais, com certeza que podia ter feito muito mais, mas a verdade é que conseguimos gerir a crise migratória, em 2015, a covid-19, enfrentar a guerra, a crise energética e, ao mesmo tempo, relançamo-nos em duas transições que são um enormes desafios para as nossas sociedades”, sustentou o primeiro-ministro cessante, em conferência de imprensa, em Bruxelas.

António Costa considerou que a UE vai deparar-se com “desafios constantes e permanentes”, decorrentes, por exemplo, das alterações climáticas, “na agricultura, na indústria automóvel, em vários setores de atividade”, e reconheceu que a União Europeia tem de encontrar “mecanismos para poder responder”.

“Não conseguimos tudo, acho que a necessidade de haver uma capacidade orçamental própria da zona euro era necessária e continua a ser. A verdade é que na primeira versão do quadro financeiro plurianual não havia um mecanismo específico para a zona euro, mas havia um embrião daquilo que podia vir a ser uma capacidade conjunta de investimento”, acrescentou.

“Não podemos renunciar à ambição que fixamos a nós próprios de alcançar a neutralidade carbônica em 2050”, completou.

Questionado sobre se tem vontade de continuar a ser uma voz ativa na política europeia, António Costa começou por ironizar: “Espero ultrapassar esta minha rouquidão para a minha voz poder continuar a ser ouvida e a ser clara”.

Face à insistência dos jornalistas na questão, o primeiro-ministro demissionário clarificou que espera que a sua voz, no futuro, possa ser “ouvida com toda a clareza”, a nível nacional e internacional: “Sim, em todo o sítio, não ser oposição não quer dizer que eu seja uma voz silenciosa, não tenho é de ser voz da oposição, tem de ser a minha voz”.

Ainda, António Costa, disse deixar o Conselho Europeu, ao fim de oito anos, “com orgulho” pela evolução orçamental de Portugal e pela sua estabilidade política, destacando as “palavras elogiosas” que escutou nesta última reunião.

“Mágoa não. Devo confessar, com alguma modéstia, com algum orgulho, a tentar lembrar como tudo começou há oito anos, com algum ceticismo sobre a possibilidade de conseguirmos cumprir as regras europeias” para poder “virar a página da austeridade”, declarou António Costa.

Falando aos jornalistas portugueses em Bruxelas no final daquele que foi o seu último Conselho Europeu, após ter representado Portugal num total de 74 cimeiras realizadas desde o final de 2015, o primeiro-ministro lembrou que, após o país ter saído do procedimento por déficit excessivo em 2017, conseguiu acabar 2023 “com um saldo orçamental positivo” e já “afastado do pódio dos três países mais endividados”.

“É uma trajetória que o país poderá seguir tranquilamente rumo às medidas que estão fixadas e no calendário que está fixado”, observou.

António Costa disse, ainda, ver “com algum orgulho” o fato de Portugal ter sido, “ao longo destes oito anos, um dos países mais estáveis” em termos políticos. “Poucos colegas meus permanecem no Conselho [Europeu]”, referiu o primeiro-ministro cessante.

Numa alusão às “boas relações” que Portugal tem tido com os restantes Estados-membros, António Costa adiantou que Portugal foi “sempre parte da solução e nunca parte do problema”.

Útil

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse hoje que António Costa foi, nestes oito anos em que representou Portugal nas cimeiras europeias, “muito útil para tentar encontrar soluções comuns” entre os líderes da União Europeia.

“Conheço António Costa há mais de oito anos. Temos experiências comuns nestas reuniões do Conselho Europeu […] e ele é alguém extremamente sincero em termos das suas convicções europeias. Lembro-me da sua presidência rotativa [do Conselho da UE] em Portugal e a cimeira social que decorreu no Porto”, disse Charles Michel em declarações à agência Lusa e outros meios europeus, em Bruxelas.

“Ele também é muito pragmático, concreto e funcional e alguém que pode ser muito útil na dinâmica de equipa, com várias personalidades e vários contextos, e que foi sempre útil para tentar encontrar soluções comuns”, acrescentou.

No cargo de primeiro-ministro desde novembro de 2015, António Costa foi desde então e até hoje, o representante de Portugal no Conselho Europeu, um dos mais experientes entre os seus homólogos da UE. Participou num total de 74 cimeiras europeias.

Na quinta-feira, no primeiro dia do Conselho Europeu, foi transmitido um vídeo de despedida a António Costa, a quem foi ainda dada uma estatueta alusiva ao edifício-sede do Conselho Europeu.

“Foi um pouco emotivo quando, ontem [quinta-feira], eu disse algumas palavras em nome do colégio [do Conselho Europeu] para lhe agradecer o papel que desempenhou e está a desempenhar ao nível europeu”, disse ainda Charles Michel, nestas declarações à Lusa e outros meios europeus.

Quando questionado pela Lusa sobre se António Costa o poderia suceder no cargo, o presidente do Conselho Europeu escusou-se a comentar.

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: