Confira na íntegra o primeiro pronunciamento do presidente reeleito, Luis Inácio Lula da Silva, em São Paulo, 29 de outubro
São Paulo – Meus amigos e minhas amigas aqui representados pelos companheiros dirigentes dos partidos que apoiaram a nossa campanha, nossos queridos companheiros representantes dos trabalhadores aqui representados pelos dirigentes sindicais, meus companheiros ministros, meus companheiros e companheiras coordenadores da nossa campanha. Eu não estou vendo aqui o governador Marcelo Miranda, do Tocantins. Ah,está aqui do meu lado aqui nosso querido governador Marcelo Miranda, do estado do Tocantins; nosso querido companheiro Jaques Wagner, governador eleito da Bahia. Queria dizer para vocês que eu penso que o Brasil está vivendo um momento mágico, de consolidação do processo democrático brasileiro. Acho que esse momento nós devemos ao povo brasileiro, sobretudo, ao povo que foi incluído no patamar daqueles que já tinham conquistado a cidadania. Acho que a inclusão social de milhões e milhões de brasileiros, o acerto das coisas que o governo fez e os erros que também o governo fez permitiram que nós pudéssemos chegar num processo eleitoral mais amadurecido, com mais consciência e consistência das dificuldades que o Brasil enfrenta para dar o salto de qualidade que o Brasil precisa dar. Eu sou um homem convencido de que a lição que a democracia brasileira dá neste momento ao mundo, a começar da qualidade do processo de votação e apuração do nosso país. Em que países mais ricos do que o Brasil, mais poderosos do que o Brasil do ponto de vista econômico e tecnológico não tem. O Brasil fazer uma eleição que termina às 17 horas e às 20 horas a gente já saber o resultado de quase todo o território nacional é muita competência tecnológica e muita competência inclusive da justiça eleitoral brasileira. Eu sou grato nesse momento às pessoas que confiaram, às pessoas que acreditaram. Sou grato ao povo deste país. Ao povo brasileiro que em vários momentos foi instado a ter dúvida contra o governo. E o povo sabia fazer a diferença do que era verdade, o que não era verdade, o que estava acontecendo, o que não estava acontecendo no Brasil. E, sobretudo, o povo sentiu que ali tinha melhorado. E contra isso não há adversário, porque o povo sentiu na mesa, sentiu no prato e sentiu no bolso a melhora de sua vida. O mais importante ainda é que o povo sentiu isso no seu cotidiano. Ele sentiu isso na vida dos seus amigos, na vida das suas famílias. Eu tenho consciência de que nós demos apenas o primeiro passo. Eu durante a campanha citava muito exemplos de que nós tínhamos construído um alicerce. A bases estão usadas para que o Brasil dê um salto de qualidade extraordinário nesse próximo mandato. Primeiro, porque todos nós aqui temos mais experiência, aprendemos muito. Segundo, porque nós conseguimos o problema da macroeconomia brasileira, da instabilidade econômica. Conseguimos consolidar nossas relações internacionais, conseguimos fazer ver que o Mercosul é uma condição importante para o desenvolvimento dos países que dele participam. Conseguimos consolidar comunidades sul-americanas de nações, conseguimos consolidar uma política internacional onde não temos adversários, mas construímos um leque de amizades em que o Brasil hoje transita com muita leveza em todos os continentes. E é ouvido porque nós aprendemos respeitar e quando a gente respeita a gente pode exigir respeito. E eu penso que tudo isso, me dá segurança de dizer a vocês que vamos fazer um segundo mandato muito melhor do que fizemos no primeiro. Muito melhor. Não tenho dúvida que o Brasil vai crescer mais. Não tenho dúvida que vai aumentar a distribuição de renda neste país. Não tenho dúvida que vai aumentar a consolidação da política externa brasileira. Não tenho dúvida que vai aumentar o combate a corrupção deste país. Não tenho dúvida que vai continuar o fortalecimento das instituições no país. E não tenho dúvida, sobretudo, que o Brasil irá atingir um padrão de desenvolvimento que será colocado entre os países desenvolvidos no mundo. Nós cansamos de ser uma potência emergente, nós queremos crescer. As bases para um crescimento sustentado da economia estão dadas e agora a gente tem que trabalhar. Todo mundo. Todo povo brasileiro votou exatamente porque tem esperança de que as coisas podem andar ainda mais rápido e muito melhor do que andaram no primeiro mandato. A eleição, como vocês viram, é sempre um processo complicado. Mas ao sairmos dessa eleição e ao receber o telefonema do meu adversário, o candidato Geraldo Alckmin, eu saio com a convicção muito mais forte do que entrei na campanha de que o Brasil não pode temer, em nenhum momento, o fortalecimento da sua democracia. As instituições estão sólidas, o povo brasileiro sabe reagir nos momentos adequados, com as atitudes adequadas. Os partidos políticos precisam se fortalecer e para isso nós vamos discutir, logo no começo do mandato, a reforma política que o Brasil tanto necessita. E é importante que ela saia. E que ela saia por consenso de todos os partidos políticos. Porque o processo eleitoral mostrou também que quanto mais fortes forem as instituições políticas mais forte e mais consolidado será o processo democrático brasileiro. De forma que eu estou feliz. Estou feliz pela participação da sociedade nesse processo eleitoral. Estou feliz porque a sociedade conseguiu compreender o momento histórico que nós estamos vivendo no país. Estou feliz pela eleição dos governadores em todos os estados. Acho que nós poderemos construir algo muito mais forte do que nós tentamos construir em março e abril de 2003, quando nos reunimos com os governadores para fazer a reforma da Previdência e a reforma tributária. Acho que os governadores eleitos têm o perfil de quem quer trabalhar no sentido de fazer com que haja uma compreensão de que o crescimento do Brasil precisa beneficiar o crescimento dos estados. Continuaremos governar o Brasil para todos, mas continuaremos a dar mais atenção aos mais necessitados. Os pobres terão preferência no nosso governo. As regiões mais empobrecidas terão no nosso governo uma atenção ainda maior. Porque nós queremos tornar o Brasil mais equânime. Queremos tornar o Brasil dos seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados mais justo do ponto de vista geopolítico, mas também do ponto de vista econômico e social. Portanto nós temos uma grande estrada a ser construída. As bases estão consolidadas, os projetos já estão consolidados. E, portanto, nós não temos tempo a perder. É trabalhar, trabalhar e trabalhar porque é isso que o povo brasileiro espera e é por isso que o povo brasileiro votou. É por isso que hoje, na rua, todo mundo fala: deixa o homem trabalhar, porque o Brasil precisa de trabalho. E eu estou muito confiante. Como jamais estive na minha vida. Estou confiante no Brasil, estou confiante na compreensão dos partidos que perderam as eleições no estado e para o governo federal, a eleição acabou. Agora não tem mais adversário.O adversário agora são as injustiças sociais que nós temos no Brasil e que precisamos combater. O adversário agora é a gente, todo mundo, se juntar para fazer o Brasil crescer. Fortalecer o Brasil não apenas internamente, mas fortalecer o Brasil no mundo. Nós queremos continuar fortalecendo o mercado interno, fortalecendo as exportações. E eu penso que contra esses argumentos nós não temos adversário. Eu não tenho dúvida nenhuma que poderemos contar com a compreensão dos partidos que fizeram oposição a nós, e quero conversar com todos, sem distinção. Não haverá um único partido nesse país que eu não chame para conversar, para dizer o seguinte: agora o problema do Brasil é de todos nós. Eu tenho a Presidência, mas todos os brasileiros e brasileiras têm a responsabilidade de dar a sua contribuição para que o Brasil não perca mais uma oportunidade. Eu disse a vocês que nós manteremos uma política fiscal dura. Porque eu aprendi não na faculdade de economia, como os meus companheiros aprenderam. Eu aprendi na vida cotidiana que a gente não pode gastar mais do que a gente ganha porque senão um dia a gente vai se endividar de tal ordem que a gente não pode pagar a dívida que contraiu. Mas ao mesmo tempo que eu tenho a convicção de que a solução para os problemas brasileiros não é mais fazer o povo sofrer com ajustes pesados, que terminam caindo em cima do povo, mas que a solução está no crescimento da economia, no crescimento da distribuição de renda e nós provamos isso no primeiro mandato, quando nós dizíamos há muito tempo atrás que era preciso primeiro o Brasil crescer para distribuir e nós dizíamos: é preciso distribuir para o Brasil crescer, nós provamos que com o pouco de distribuição de renda que nós fizemos seja a política de transferência de renda através do Bolsa-Família, através do crédito consignado, através do salário mínimo. Através das conquistas que os trabalhadores brasileiros tiveram fazendo acordos por reajuste maior do que a inflação, coisa que durante muitos anos nós não fazíamos, nós provamos que quando o povo tem um pouco de dinheiro ele começa a comprar, a loja começa a vender, a loja começa a comprar da fábrica, a fábrica começa a produzir, começa a gerar empregos, começa a gerar distribuição de renda, e é esse o país que nós queremos. E é o país que eu tenho certeza que depois de quatro anos nós daremos ao Brasil aquilo que o Brasil merece e que durante tantas vezes o Brasil quase chegou lá, mas por interesses eminentemente políticos momentâneos, o Brasil jogou fora essa oportunidade. Eu não jogarei. Estão aqui meus companheiros sindicalistas. Eu quero dizer para vocês: reivindiquem tudo que vocês precisarem reivindicar. Nós daremos apenas aquilo que a responsabilidade permite que a gente dê. Reivindiquem. Porque o mais importante – esses meus amigos sabem disso, do movimento social, do movimento sindical, dos empresários – eles sabem perfeitamente bem que a coisa mais sagrada ao terminar o mandato de um presidente da República como legado é a relação que ele conseguiu estabelecer com a sociedade, consolidando a democracia, consolidando o papel do Estado e consolidando, sobretudo, o papel da participação da sociedade. Isso nós fizemos com muita competência e vamos continuar fazendo porque afinal de contas o Brasil não é meu. Eu é que sou brasileiro e, portanto, o Brasil é de todos. Por isso eu estou com essa frase aqui na minha camiseta para vocês lerem. A vitória não é do Lula, não é do PT, não é do PC do B, não é do PTB, PRTB. Não é de nenhum partido político. A vitória é eminentemente da sabedoria do povo brasileiro. Eu disse a vocês que eu ia mudar meu comportamento com a imprensa no segundo mandato. Vamos abrir para umas perguntas, para vocês não se sentirem. Abre aí para umas quatro ou cinco perguntas porque isso aqui não é ainda a coletiva que eu pretendo dar. Isso aqui é apenas uma fala inicial depois do resultado eleitoral. Quero dizer para vocês mais uma coisa ainda. Quero, de público, daqui agradecer a participação jovial do meu vice-presidente da República. O Zé Alencar durante o processo eleitoral fez uma cirurgia. Os médicos não queriam que ele fizesse carreata e por onde andava o Zé Alencar já tinha participado como se fosse um menino de 18 anos. Eu agradeço a Deus de ter encontrado um parceiro de chapa como o companheiro Zé Alencar que além de ser um grande empresário ele é, sobretudo um grande brasileiro e um grande patriota. Ele não veio aqui porque eu pedi para ele ficar em Minas Gerais, afinal de contas Minas Gerais tem a sua importância, não é? Vocês viram o resultado eleitoral em Minas Gerais. Então eu quero aproveitar a imprensa para agradecer ao Zé Alencar. Já agradeci por telefone, mas quero agradecer também pela imprensa.