Ministro quer portugueses a olhar para Forças Armadas como carreira atrativa e não “como despesa”

O ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, intervém na conferência "Europa, que futuro?", da Rádio Televisão Portuguesa (RTP), no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, 09 de maio de 2024. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Mundo Lusíada com Lusa

 

O ministro da Defesa defendeu hoje que os portugueses “não podem olhar para as Forças Armadas como despesa” mas sim como uma carreira atrativa que pode ser “geradora de bens e serviços”, através de uma indústria militar “altamente rentável”.

“As pessoas não podem olhar para as Forças Armadas como despesa, mas como uma carreira atrativa que pode também ser geradora de bens e serviços através de investimentos que são rentáveis”, defendeu Nuno Melo, que intervinha na conferência “Europa, que futuro?”, que integra o ciclo de “Conferências da RTP/ Sociedade Civil” e decorre hoje no Centro Cultural de Belém, assinalando o Dia da Europa.

O ministro da Defesa Nacional falava num painel no qual também participaram o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), general Nunes da Fonseca, a diretora do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI) e ex-secretária de Estado da Defesa, Ana Santos Pinto, e o fundador da tecnológica Tekever, Ricardo Mendes.

Nuno Melo sublinhou que “a indústria militar pode ser altamente rentável” e disse que esse setor é uma das prioridades do executivo minoritário PSD/CDS-PP.

“Ninguém deseja a guerra mas havendo guerra pelo menos que seja enfrentada com a melhor tecnologia”, sustentou o ministro, que também apontou que a inovação no âmbito militar também pode ser utilizada em cenários de paz.

Nuno Melo salientou que falar em indústrias de Defesa é “seguramente falar em satélites, drones e munições mas também do têxtil, do vestuário e calçado”, lembrando que as Forças Armadas utilizam fardas feitas de tecidos desenvolvidos num centro tecnológico em Vila Nova de Famailicão (CITEVE).

“[Este centro] desenvolve materiais, faz testes a propósito da resistência e do comportamento em diferentes cenários. E nisso nós somos muito bons. Portugal pode liderar coligações naquilo que façamos melhor do que os outros”, afirmou.

Logo no início do painel, o ministro da Defesa foi questionado sobre se estava disposto a morrer pela pátria: “Morria, sem grande hesitação, é suposto”, respondeu.

Já sobre se enviaria os seus filhos para a guerra, Nuno Melo afirmou que “faria tudo” para que tal não acontecesse, “mas tendo em conta que normalmente essa opção é tida na idade adulta a opção seria necessariamente individual”.

“Eu acho que nenhum pai gostaria de ver um filho na guerra. Sendo ministro farei tudo o que poderei fazer à nossa escala para que não tenhamos que viver essa tragédia que muitos dos nossos pais e avós infelizmente tiveram que viver”, afirmou.

Lusófonos

Portugal quer intensificar a cooperação em defesa e segurança com São Tomé e Príncipe, a Guiné-Bissau e outros países lusófonos, segundo o Governo, que se escusa a comentar o recente acordo entre São Tomé e a Rússia.

Num comentário solicitado pela Lusa, a propósito da assinatura de um acordo técnico militar entre São Tomé e Príncipe e a Rússia, no final de abril, o Ministério dos Negócios Estrangeiros recordou que “Portugal tem há décadas uma cooperação multifacetada, intensa e sustentada com São Tomé e Príncipe, como com a Guiné-Bissau e outros países lusófonos”.

“A defesa e segurança são pilares dessa cooperação bilateral que se mantém e intensificará, com particular destaque para a segurança marítima no Golfo da Guiné, em que tanto Portugal como a União Europeia têm avançando com apoios concretos, negociados com os países da região, para lidar com os desafios que estes atualmente enfrentam”, refere-se na nota do MNE português.

E acrescentou que, em regra, os países da CPLP não fazem “pronunciamentos públicos sobre atos de política externa de cada um dos seus Estados-membros”.

O acordo entre São Tomé e Príncipe e a Rússia foi, segundo a agência de notícias oficial russa Sputnik, assinado em São Petersburgo em 24 de abril e começou a ser aplicado em 05 de maio, prevendo formação, utilização de armas e equipamentos militar e visitas de aviões, navios de guerra e embarcações russas ao arquipélago.

Segundo a imprensa russa, as duas partes acordaram cooperar nos domínios da formação conjunta de tropas, recrutamento de forças armadas, utilização de armas e equipamento militar, logística, intercâmbio de experiências e informações no quadro da luta contra a ideologia do extremismo e do terrorismo internacional, educação e formação de pessoal.

Além disso, o acordo entre os dois países prevê a participação em exercícios militares e a presença neles como observadores, visitas da aviação militar, bem como visitas de navios de guerra e embarcações.

A divulgação da assinatura deste acordo coincide com a visita que o Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, está a efetuar à Rússia, tendo previsto um encontro com o homólogo russo, Vladimir Putin.

A Iniciativa Liberal (IL) manifestou-se hoje alarmada com recentes acordos entre Estados-membros da CPLP e a Rússia, em particular São Tomé e Príncipe, e quer explicações do ministro dos Negócios Estrangeiros.

Rodrigo Saraiva advogou que Portugal não pode estar nessa comunidade por ter unicamente algo em comum, que é a língua que une.

“A CPLP tem de ser mais do que isso. Tem de ser uma comunidade de princípios e valores comuns, como a liberdade e o respeito pelos direitos humanos”, acentuou Rodrigo Saraiva.

O ex-líder parlamentar da IL criticou a seguir episódios recentes ocorridos na CPLP, como a entrada na organização da Guiné Equatorial, “que não é uma democracia”, mas também a posição do Brasil em relação à guerra nas Ucrânia, ou o sentido de voto assumido por alguns dos países desta comunidade nas Nações Unidas.

“Mais recentemente, São Tomé e Príncipe fez um acordo de âmbito militar com a Rússia. E a Guiné-Bissau está hoje em Moscovo para participar no chamado Dia da Vitória e também anunciou que se prepara para fazer um acordo de cooperação militar”, apontou.

Para o dirigente da IL, se o que une a CPLP é apenas a língua, “talvez não faça sentido Portugal estar numa comunidade que deve ser muito mais do que isso”.

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