Ingredientes da Amazônia unem-se à gastronomia do Douro

Da Agencia Lusa

Os sabores selvagens da Amazônia se uniram na quarta-feira, 29 de outubro, à tradição do Douro, num momento único de cozinha protagonizado pelo chef português Rui Paula e pelo amazonense Ofir Oliveira, que apostam na introdução de produtos regionais na gastronomia sofisticada.

A iniciativa inédita partiu do D.O.C, o restaurante de Rui Paula, espaço que navega sobre as águas do rio Douro, na Folgosa, norte português, e que se situa no meio de vinhas.

Esta foi também a oportunidade de Ofir Oliveira ir pela primeira vez a Portugal com a missão de divulgar não só a gastronomia amazonense, mas também apelar à preservação da floresta Amazônica, de onde provêem muitos dos ingredientes utilizados pelo cozinheiro brasileiro, como as frutas cucuaçu, taperebá ou a castanha do Pará. "Nós trabalhamos com os produtos originais", disse Ofir Oliveira.

O chef de cozinha levou ainda para Portugal as farinhas de paracui, feitas através do acari-bobó ou do tamuata, a farinha de água e a de tapioca, acondicionada na cesta de vime, que, segundo Ofir, é a "primeira embalagem a vácuo que o mundo produziu".

A farinha é envolta em folha de guarumá, um arbusto que nasce junto aos rios, cujos talos servem para produzir a cesta.

Na cozinha do D.O.C misturaram-se duas gastronomias ligadas à tradição, às origens e à terra. O ingrediente principal do menu preparado pelos dos dois cozinheiros foi mesmo a criatividade e a surpresa.

A troca de idéias entre Oliveira e Rui Paula levou à criação de um frango com cupuaçu. "Queremos proporcionar uma viagem de sabores recriando a rota dos descobrimentos que os portugueses efetuaram ligando o Brasil e o Oriente", frisou Rui Paula.

Aos ingredientes da Amazônia, o chef luso juntou a couve troncha, carne, peixe, lingüiça e o azeite da região. Já que o palco para o encontro é o Douro, à mesa do D.O.C não poderiam faltar os vinhos produzidos na região mais antiga demarcada do mundo.

LivroA fusão da cozinha da Amazônia com a do Douro serve de tema para o lançamento do livro "Rui Paula – Uma cozinha no Douro", no qual o cozinheiro propõe um "novo receituário, moderno, cosmopolita e internacional, mas com uma forte ancoragem nos produtos portugueses, nas memórias e sabores antigos".

O primeiro livro de Rui Paula foi pela editora QuidNovi e conta com a autoria de Celeste Pereira e fotografias de Nelson Garrido.

O chef luso aposta na apresentação de pratos elaborados, mas em que valoriza o produto, procurando realçar o sabor.

A mesma linha de pensamento seguida por Ofir Oliveira. "A nossa proposta é dar a conhecer ao mundo uma cozinha sofisticada e que vem da natureza. Através disso, nós falamos da cultura e da preservação do meio ambiente", frisou o brasileiro.

É que, conforme alertou Oliveira, se a floresta Amazônica não for preservada, o mundo "não virá a tempo de conhecer os sabores que ela oferece".

Ofir Oliveira é membro da organização internacional Slow Food, um movimento que foi fundado como uma associação enogastronômica pelo ativista alimentar Carlo Petrini na cidade de Bra, no norte da Itália, em 1986.

O objetivo inicial era o de apoiar e defender a boa comida, o prazer gastronômico e um ritmo de vida mais lento e, mais tarde, a iniciativa foi ampliada para abranger a qualidade de vida e, como conseqüência lógica, a própria sobrevivência do planeta em que vivemos.

A Slow Food possui, atualmente, cerca de 85 mil associados em 132 países.

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