Clubes são únicos que garantem adeptos no futebol, diz presidente do Sporting

Da Redação
Com Lusa

O presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, saiu em defesa do papel dos clubes no futebol português e refutou a tese de que as declarações públicas dos dirigentes contribuam para o clima de tensão e violência.

Numa intervenção na conferência “Violência no Desporto”, na Assembleia da República, o líder do clube de Alvalade considerou ainda que o atual estado da modalidade deriva do que designou de “lixo tóxico” difundido por programas de televisão e visou também organismos como a Liga e a Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

“Mais importantes do que os jogadores e os treinadores são os clubes. Se não fosse pelos clubes, vocês não se sentavam aí. Os clubes estão a ser o único garante de que o futebol ainda tem adeptos, porque as entidades que regulam o futebol estão a afastá-los. A culpa não está do lado de cá, tem de estar desse lado”, afirmou.

Bruno de Carvalho foi ainda mais longe e retirou peso às trocas de palavras entre os dirigentes do futebol português, referindo que “não tem interesse nenhum o que diz o presidente A ou o presidente B” e que “não é isso que traz violência para o desporto”, apesar da visão contrária da maioria dos outros intervenientes.

“Gostava de saber se os dirigentes não falassem durante duas semanas se mudava alguma coisa? Não mudava nada”, explicou, acrescentando: “Quando se diz que na FPF se tem atuado muito, acho que isto não tem validade substantiva. Apenas quer dizer que o dinheiro sai de onde deveria estar, nos clubes, para onde não deveria estar: nessas instituições.”

Num discurso onde também abordou o papel do Instituto Português de Desporto e Juventude (IPDJ), a atuação do Ministério Público ou mesmo da Assembleia da República, Bruno de Carvalho dirigiu no fim algumas questões concretas à Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), à Liga e à FPF, que não ficaram sem resposta.

Em relação a Fernando Gomes, o líder ‘leonino’ questionou sobre o visionamento das imagens do vídeoárbitro nos estádios, ao que o presidente da FPF assegurou que “os regulamentos não permitem a passagem dos lances duvidosos nos estádios”.

Por sua vez, Luciano Gonçalves, presidente da APAF, reconheceu que o Sporting tem tido “comportamentos” em prol da dignificação da arbitragem, “mas que todos podem fazer muito mais”, contestando ainda a ideia de Bruno de Carvalho sobre a ausência de correlação entre as palavras dos dirigentes e a violência no desporto.

A terminar, Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato de Jogadores, vincou que “todo o futebol está sob suspeição” e que a recente tomada de posição dos capitães de equipe está em linha com a própria postura do presidente do Sporting, quando este se sentiu ofendido na sua “dignidade pessoal” e acabou por convocar eleições.

“Não são todos iguais. Os jogadores exigem respeito, como o presidente do Sporting, do Benfica ou da Liga. Eles é que são o maior ativo do futebol português. Há um ambiente castrador no futebol português”, frisou, ao que Bruno de Carvalho ripostou: “No meio de tudo o que se está a passar no futebol, o que se está a passar com os jogadores é o mais diminuto.”

Justiça
A atuação da justiça em relação aos grupos organizados de adeptos no futebol português também foi questionada pelo presidente do Sporting. No segundo painel do dia, dedicado à justiça e à violência no desporto e no qual estiveram representantes do Conselho Superior da Magistratura, do Ministério Público, da Polícia de Segurança Pública (PSP) e da Guarda Nacional Republicana (GNR), o líder ‘leonino’ visou de forma implícita o Benfica, a ligação a claques não legalizadas e a aparente inação judicial.

“Há uma investigação que demorou quase um ano, séria, que teve por base a audição de comandantes da polícia e onde foi verificado claramente o apoio de um clube a uma claque ilegal. E a verdade é que [o processo] foi arquivado”, afirmou, citando a entrada de artefatos pirotécnicos em recintos desportivos como o exemplo da prática de um crime.

Na mesma linha de argumentação, Bruno de Carvalho – numa sessão que já não contou com a presença do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que esteve presente apenas pela manhã – referiu a existência de tarjas ofensivas no interior de recintos desportivos, criticando a suposta conivência entre clube e autoridades.

“Temos tarjas em campos de futebol e em pavilhões – em que a desculpa dada pelo clube é que a polícia não as foi retirar – e estamos a falar de tarjas como ‘Foi no Jamor que o lagarto ardeu, foi o very-light?’ e não vou dizer o resto. O presidente desse clube disse que não pode fazer nada porque foi a própria polícia que disse que a intervenção não podia ser feita”, frisou.

Após manifestar o seu contentamento por saber que “o Ministério Público quer estar cada vez mais perto da realidade desportiva”, Bruno de Carvalho lembrou ainda o caso do adepto italiano morto nas imediações do Estádio da Luz, em abril de 2017.

“Temos situações em que um adepto é morto e logo de seguida aquilo que é dito é o que é que estava o adepto ali a fazer. Temos situações de tochas enviadas para cima de crianças e idosos num jogo”, resumiu, até que foi interrompido pelo moderador do debate. A situação gerou alguma tensão e a palavra acabou mesmo por ser retirada ao presidente do Sporting.

PSP defendeu, pela voz do superintendente Luís Simões, a corresponsabilização dos clubes de futebol nos casos de infrações dos respectivos adeptos como meio para reduzir o fenômeno da violência no desporto.

Num discurso na conferência “Violência no Desporto”, o dirigente vincou que “o problema da violência no desporto não pode ser só resolvido pela dimensão policial” e apontou também os grupos organizados de adeptos como os “principais responsáveis” por estes incidentes.

“Defendemos que deve haver uma corresponsabilização do clube para com as infrações dos adeptos. Esta medida seria aplicada pelo Ministério da Administração Interna e promoveria um maior controlo social por parte dos clubes e um maior autocontrole dos adeptos por saberem que isto teria consequências para o clube”, sublinhou, sugerindo a interdição de estádio como pena.

Na maior intervenção de toda a conferência, que durou cerca de 25 minutos, Luís Simões apresentou ainda as estatísticas mais recentes da PSP sobre os incidentes de violência, nas quais ficaram evidentes o peso do futebol em relação às outras modalidades e a tendência de crescimento desses episódios.

Em 2.960 incidentes registrados na época 2016/17, 2.763 tiveram lugar no futebol masculino, tendo estes casos ocorrido essencialmente em quatro competições: I Liga, Taça da Liga, Liga dos Campeões e Liga Europa. Desde o início da presente temporada até março de 2018 registou-se um total de 2.578 ocorrências, com o futebol a contribuir com 2.394 casos.

Paralelamente, 97,6% dos incidentes foram verificados com adeptos de sete clubes: Benfica, Sporting, FC Porto, Braga, Vitória de Guimarães, Boavista e Belenenses.

“O foco dos incidentes está bem identificado”, advogou o superintendente, salientando que “a PSP tem tido uma atitude pragmática no sentido de prevenir” estes incidentes.

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