Porto expõe primeira edição de “Os Lusíadas” para celebrar 500 anos de Camões

Se acreditamos que “o amor é fogo que arde sem se ver” ou dizemos que somos “de carne e osso”, isso devemos ao poeta maior da Língua Portuguesa. Quando ousamos andar “por mares nunca de antes navegados” ou afirmamos que “outro valor mais alto se alevanta”, é das palavras de Luís Vaz de Camões que fazemos nossas.

 

Mundo Lusíada

Inserido nas comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, a Câmara Municipal do Porto exibe, nos Paços do Concelho, de 24 a 27, edições raras de “Os Lusíadas”. Trata-se de três históricos exemplares, que chegaram, esta segunda-feira, vindos do Ateneu Comercial do Porto e da Biblioteca Pública Municipal.

Chegaram devidamente acomodados, com as técnicas da Divisão Municipal de Bibliotecas a cumprirem todas as regras e procedimentos para este tipo de deslocações. Um deles é pertença do Ateneu Comercial e foi adquirido em 1904. Atualmente, existem 34 exemplares da primeira edição de “Os Lusíadas”, distribuídos em três continentes por bibliotecas públicas, privadas e coleções particulares.

Segundo a ata de 3 de fevereiro de 1904 da centenária instituição portuense, a obra de Luís Vaz de Camões terá custado, à data da sua aquisição, “170 mil réis”. Impresso pela primeira vez em 1572, em Lisboa, “Os Lusíadas” é uma das muitas raridades que fazem parte do espólio do Ateneu.

Os outros dois exemplares em exibição são pertença da Biblioteca Pública Municipal do Porto (BPMP). Um é datado de 1817 e pertenceu ao bispo do Porto, D. João de Magalhães e Avelar. Foi impresso em Paris, na Officina Typographica, de Firmin Didot.

O segundo é uma edição crítica, comemorativa do terceiro centenário da morte do poeta, publicada, no Porto, por Emílio Biel. Foi impresso em Leipzig (Alemanha), pela Typographia Giesecke & Devrient, em 1880. Trata-se de uma oferta à Câmara Municipal do Porto, exemplar número 11, da tiragem especial de 12 cópias em pergaminho.

A exibição das edições históricas de “Os Lusíadas” decorre das 9h às 17 horas, nos Paços do Concelho, tendo os visitantes a oportunidade de ficar também a conhecer melhor alguns salões (das Sessões e D. Maria). A entrada é livre.

Estrofes

Foto Guilherme Costa Oliveira | Porto

No Porto, a comemoração inclui um projeto com curadoria de Gonçalo M. Tavares. O escritor propõe-se “distribuir ‘Os Lusíadas’, as suas 1102 estrofes, por 1102 cidadãos ao acaso”, com o critério de ter uma criança de sete anos a ler “As armas e os barões assinalados”, a primeira estrofe, e uma pessoa de 87 anos a terminar a leitura, em “Sem à dita de Aquiles ter enveja” para que “possamos acompanhar gerações sucessivas a ler o mesmo livro”.

Coorganizado pelo Município do Porto, o projeto prevê a filmagem de leituras de “Os Lusíadas”, por vezes em atos performativos, tendo como cenário vários espaços interiores e exteriores da cidade. Cidadãos anônimos do Porto, entre os 7 e os 87 anos de idade, vão ser convidados a ler uma das 1102 estrofes do poema épico de Camões. Isto significa que 1102 pessoas serão filmadas e os vídeos com as suas leituras ficarão, depois, disponíveis em QR Codes em vários pontos da cidade.

As gravações serão, depois, espalhadas pela cidade (acessíveis através de códigos QR). “Os dez cantos d’Os Lusíadas estarão em dez cantos do Porto”, explica Gonçalo M. Tavares, sublinhando a lógica de “além de chamarmos a comunidade, também o próprio território apareça”. Quem quiser fazer parte da leitura coletiva, poderá inscrever-se através do endereço de correio eletrónico [email protected].

“A palavra ‘encantar’ tem a ver com entrar num canto. E Camões é absolutamente encantatório. Tem a ver com o que está a ser dito, mas também com a questão musical. E é esse o encantamento. O que Camões faz é dizer coisas fortes com um ritmo absolutamente extraordinário. Por isso, o seu canto tem esta potência de, 500 anos depois, estarmos a falar dele”, sublinha o curador do projeto.

Gonçalo M. Tavares acredita que se vai “perceber que estamos perante canções automaticamente sedutoras e que põem a Língua Portuguesa num patamar absolutamente inultrapassável”.

O escritor não deixou de referir a “desatenção incrível em relação aos 500 anos do Camões”. Por isso, “fico muito contente que o Porto esteja, ao contrário dos desatentos, muito atento”.

O esboço para este “Camões na cidade do Porto” surgiu numa conversa com o diretor do Coliseu. Miguel Guedes recorda que “estudamos, olhamos para o que escreveu, analisamos, até, uns por gosto, outros por dor, o que nos entrega naquelas alturas em que ele consta dos testes, mas depois não passa no teste da realidade, esfuma-se”.

O diretor confirma que a ideia era “trazer Luís Vaz de Camões para as pessoas, para as ruas, democratizar, tornar menos críptica esta vivência”. “Nós [Coliseu] começaremos e encerraremos esta democratização do poeta” na cidade que “melhor o poderá receber”.

Com estas duas iniciativas, o Município pretende colocar a cidade do Porto no centro das comemorações dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, que se pensa ter ocorrido a 23 de janeiro de 1524.

Deixe uma resposta