No Brasil, escritora portuguesa Lídia Jorge faz conferência na ABL

Mundo Lusíada

A consagrada escritora portuguesa Lídia Jorge está no Brasil para participar em encontros literários, passando por Curitiba e Rio de Janeiro.

A romancista e contista portuguesa Lidia Jorge estará presente na ABL, neste 31 de agosto, para uma conferência sobre o poder transformador da literatura, “A literatura é uma carta que se envia para longe” juntamente como professor Silvio Renato Jorge.

A conferência, às 17h30 na Sala José de Alencar, tem entrada é gratuita e as inscrições podem ser feitas pelo link: https://www.even3.com.br/lidia-jorge-na-abl/. O evento tem apoio da Embaixada de Portugal no Brasil e do Camões-CCP Brasília.

A escritora iniciou sua agenda em Curitiba como convidada da primeira Sabatina Litercultura. A conversa foi mediada pela jornalista e produtora cultural Aurea Leminski e contou com a presença de André Bandeira, Vice-cônsul de Portugal em Curitiba, seguida de sessão de autógrafos. O livro “Os Memoráveis” foi o tema da sabatina, aborda a Revolução dos Cravos, levante popular que pôs fim à ditadura salazarista, um dos principais eventos históricos de Portugal.

Lídia Jorge seguiu depois para o Rio de Janeiro, onde participou neste dia 30 em sessão na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e segue agenda nesta quinta-feira na Academia Brasileira de Letras.

No primeiro dia de atividades no Rio de Janeiro, a escritora Lídia Jorge participou na concorrida sessão de abertura da Minerva Literária- Festa Literária da Faculdade de Letras da UFRJ, organizada e moderada pela Professora Ângela Beatriz Faria.

“Lídia Jorge- Entre Imagens-revelação” foi o tema da sessão que contou também com excelentes intervenções das professoras Viviane Vasconcelos e Lícia Matos.

A autora

Lídia Guerreiro Jorge nasceu no Algarve, em 1946 e é consensualmente considerada um dos nomes mais destacados da literatura portuguesa das últimas décadas, em especial pela sua produção ficcional.

Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Filologia Românica. Depois disso, Lídia Jorge foi professora do Ensino Secundário e viveu em África (Angola e Moçambique), ainda durante a guerra colonial. O seu primeiro romance, O dia dos prodígios (1980) revelou-a como ficcionista dotada de um talento efabulatório amplamente confirmado nas obras seguintes, o que lhe valeu inúmeros e importantes prêmios literários. Na sequência daquele romance, escreveu e publicou O Cais das Merendas (1982) e Notícia da cidade silvestre (1884).

Autora de uma obra abundante e ainda em desenvolvimento, Lídia Jorge afirmou-se em função de diversas linhas temáticas. Avultam dentre esses veios temáticos, eventualmente de forma conjugada, a literatura centrada na guerra colonial e nas suas sequelas ideológicas pós-coloniais e, por outro lado, o advento (muito forte desde os anos 70) de uma temática e de uma configuração discursiva feminina.

De um modo geral, pode afirmar-se que o conjunto da obra de Lídia Jorge, constituindo uma das mais consequentes produções ficcionais da literatura portuguesa na passagem do século XX para o XXI, não pode ser espartilhado numa única linha evolutiva; traduz-se nela o diálogo intenso, não raro de índole crítica, com o Portugal que vive a mudança do século sob o signo de transformações sociais e mentais às vezes aceleradamente incorporadas no viver coletivo.

Os resquícios da memória colonial, as agruras de um redimensionamento nacional pós-imperial, a “europeização” dos modos de vida, as obsessões da “modernização”, as bruscas modificações de comportamentos às vezes seculares, as repercussões mentais e sociais de movimentos migratórios, as constrições e contradições de quotidianos “normalizados”, a transformação do papel da mulher e da sua mentalidade, as práticas de exclusão social, a subversão das linguagens com crescente influxo da civilização da imagem são algumas das questões que a ficção de Lídia Jorge integra no seu universo ficcional.

Assume especial relevância a representação de comunidades rurais de certa forma marginalizadas, em confronto com práticas sociais e culturais urbanas e pós-industriais, conforme pode ler-se em O dia dos prodígios e em O Cais das Merendas, também sob o signo de derivas para o fantástico. Em Notícia da cidade silvestre, Lídia Jorge recupera uma visão realista e mais prosaica da condição da mulher em cenário urbano, o que atesta também o potencial de diversidade da sua ficção, sempre muita marcada pela tematização do feminino que reaparece em A última Dona (1992) e em O vento assobiando nas gruas (2002), romance em que convergem também temas e figuras de inspiração pós-colonial. Relevante na obra de Lídia Jorge é o tema da guerra colonial, em conjugação com a problematização da condição da mulher; assim, em A Costa dos Murmúrios (1988), não está em causa apenas a guerra colonial, em si mesma e na sua violência, mas também a sua projeção no imaginário feminino, nas reações que nele se observam e no desgaste de ilusões imperiais consumidas pela erosão da História.

Outros títulos que merecem destaque na bibliografia de Lídia Jorge: Combateremos a sombra (2007), A noite das mulheres cantoras (2011), Os memoráveis (2014) e Estuário (2018), bem como volumes de contos (A Instrumentalina, 1992, Marido e outros contos, O amor em Lobito Bay, 2016, entre outros), de literatura infantil, de teatro (A Maçon, 1997, Instruções para voar, 2016), de poesia (O livro das tréguas, 2019) e de ensaio (Contrato sentimental, 2009)

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