Brasileiro Silviano Santiago recebe Prêmio Camões no Rio e defende língua multiétnica

Mundo Lusíada com Lusa

Nesta terça-feira, o escritor mineiro Silviano Santiago recebeu o Prêmio Camões 2022, em solenidade no Auditório Machado de Assis, na sede da Biblioteca Nacional – um órgão vinculado ao Ministério da Cultura – no Centro do Rio de Janeiro. A solenidade, pela manhã, contou com as presenças do presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Marco Lucchesi; da ministra da Cultura, Margareth Menezes; e do embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, representando o ministro português da Cultura, Pedro Adão e Silva. O evento teve transmissão ao vivo pelo YouTube da FBN.

Em sua fala, o poeta e ensaísta brasileiro reivindicou uma língua portuguesa multiétnica e previu “choques sísmicos duradouros” na literatura, ao receber a premiação. “Chegou a hora de liberar a literatura brasileira para as águas amazônicas, as águas atlânticas africanas e todas as correntes da diáspora”, declarou o vencedor do mais importante prêmio literário de língua portuguesa.

O autor escolhido como vencedor do prêmio em 2022 referiu-se em termos metafóricos à história violenta do Brasil e afirmou que “navios multiétnicos não atracavam em Porto Seguro”, local onde os portugueses pisaram em terra brasileira pela primeira vez em 1500.

“As tripulações amazônicas, atlânticas e mediterrânicas só receberam autorização para transitar como cidadãos sob os cuidados de etnógrafos nacionais e estrangeiros ou sob a bandeira menor e suplementar do patrimônio folclórico”, disse o escritor.

Agora, porém, Santiago afirmou que os navios da língua viajam “livremente pelas águas democráticas” que se abriram após a pandemia e as eleições brasileiras.

Silviano Santiago recebeu, entre outros prêmios, o Jabuti em 2017, o Prémio Oceanos em 2015, com o romance “Mil Rosas Roubadas”, e o segundo lugar do Prêmio Oceanos, em 2017, com “Machado”, sobre Machado de Assis.

Na mesma linha de Santiago, a ministra brasileira da Cultura, Margareth Menezes, apoiou uma visão diversificada e multicultural da língua e destacou a importância de premiar escritores africanos, como a moçambicana Paulina Chiziane, vencedora do prêmio em 2021.

A cerimônia de entrega também foi palco de declarações a favor da cooperação cultural entre Brasil e Portugal que passaram por momentos baixos durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022).

“Estas celebrações são uma forma de assinalar simbolicamente o regresso do Brasil a uma fraternidade comprometida com os países de língua portuguesa”, afirmou o ministro português da Cultura, Pedro Adão e Silva, numa mensagem gravada.

O júri da 34.ª edição do Prémio Camões foi constituído pelos professores universitários portugueses Abel Barros Baptista e Ana Maria Martinho, da Universidade Nova de Lisboa, a são-tomense Inocência Mata, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, os brasileiros Jorge Alves de Lima, membro da Academia Paulista de História e da Academia Campinense de Letras, e membro do Conselho Científico do Centro de Memória da Unicamp, que presidiu o júri, Raúl Cesar Gouveia Fernandes, do Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas do Centro Universitário FEI, em São Bernardo do Campo, e a moçambicana Teresa Manjate, docente e investigadora na Universidade Eduardo Mondlane.

Silviano Santiago

Nascido na cidade de Formiga (MG), em 29 de setembro de 1936, Silviano Santiago é ensaísta, poeta, contistas, romancista e professor. Considerado um dos maiores escritores brasileiros da atualidade, é autor de cerca de 30 obras – entre as quais, os livros “Em liberdade” (1981), “Uma história de família” (1993) e “Keith Jarret no Blue Note” (1996). Sua produção já foi traduzida para o inglês, espanhol, italiano e francês. Entre as premiações já recebidas pelo autor, constam: Prêmio Jabuti (1982, 1993 e 2017); Prêmio ABL de Ficção, Romance, Teatro e Conto (2009); Prêmio Machado de Assis (2013); Prêmio Iberoamericano de Letras José Donoso (2014) e Prêmio Oceanos (2015).

Segundo a justificativa do júri do Prêmio Camões 2022: “Silviano Santiago, além de escritor com uma obra literária com vários prêmios nacionais e internacionais (Jabuti, Oceanos, etc.), é um pensador capaz de uma intervenção cívica e cultural de grande relevância, com um contributo notável para a projeção da língua portuguesa como língua do pensamento crítico, no Brasil e fora dele (nos países ibero-americanos, nos Estados Unidos e na Europa)”.

Sobre o Prêmio

O Prêmio Camões de Literatura foi instituído em 1988 com o objetivo de consagrar um autor de língua portuguesa que, pelo conjunto de sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural de nossa língua comum. A Menção Internacional foi criada pelo Protocolo Adicional ao Acordo Cultural entre os governos português e brasileiro, representados, respectivamente, pela Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas/Secretaria de Estado da Cultura (Portugal), e pela Fundação Biblioteca Nacional/Ministério da Cultura (Brasil).

Considerado o mais importante prêmio da língua portuguesa, o Camões contempla anualmente autores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste. A comissão julgadora é composta por representantes do Brasil, de Portugal e de países africanos de língua oficial portuguesa.

O autor premiado, além de ter o conjunto de sua obra reconhecida, recebe uma láurea no valor de 100 000€. Metade deste valor é subsidiado pela Fundação Biblioteca Nacional.

O prêmio foi atribuído pela primeira vez, em 1989, ao escritor Miguel Torga.

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