Bienal de São Paulo abre com artistas desafiados a expor o “possível dentro do impossível”

[Atualizado]

Portugal apoia com 26.400 euros a participação dos artistas portugueses selecionados.

Mundo Lusíada com Lusa

Como corpos em movimento são capazes de coreografar o possível dentro do impossível foi a pergunta lançada pelos curadores da Bienal de São Paulo, Brasil, que abre na quarta-feira, e entre os quais está a artista portuguesa Grada Kilomba.

Em resposta, a 35.ª edição da bienal de arte contará com mais de mil obras de diferentes linguagens criadas por 121 artistas, incluindo os portugueses Carlos Bunga e Raquel Lima, sendo 80% dos participantes selecionados negros, indígenas ou não brancos.

Segundo informações divulgadas pelos organizadores da mostra, que, além de Grada Kilomba, conta com a curadoria de Diane Lima, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel, a proposta surgiu como um projeto comum “em redor de múltiplas possibilidades de ‘Coreografar o Impossível’. Como o título sugere, trata-se de um convite às imaginações radicais a respeito do desconhecido, ou mesmo do que se figura no marco das impossibilidades de possibilidades.”

Numa conferência de imprensa realizada hoje, em São Paulo, a curadora Diana Lima explicou que será “uma exposição que pensa muito na relação com a linguagem, os modos como a linguagem artística é impactada pelo nosso quotidiano, pelos nossos problemas sociais.”

“Nesta bienal, há muitas obras que vão de facto trazer o impossível – as dores, as dificuldades como matriz do seu desenvolvimento -, mas que te apresentam através de uma estratégia de beleza, de encantamento, de sedução, quer dizer, de como endereçar problemas difíceis, temas que cruzam a nossa vida”, acrescentou o curador Hélio Menezes.

A Bienal de São Paulo selecionou sobretudo artistas do Brasil, mas também de países como México, Estados Unidos da América, Canadá, Portugal, Espanha, França, Itália, Gana, Filipinas, Guatemala, Gana, Líbano e África do Sul.

Num texto divulgado anteriormente, os organizadores destacam que os artistas selecionados “desafiam o impossível em suas mais variadas e incalculáveis formas. Vivem em contextos impossíveis, desenvolvem estratégias de contorno, atravessam limites e escapam das impossibilidades do mundo em que vivem.”

Portanto, o objetivo da exposição é abraçar “o impossível, as coreografias do impossível, como uma política de movimento e movimentos políticos entrelaçados nas expressões artísticas. É um convite a nos movermos por entre artistas que transcendem a ideia de um tempo progressivo, linear e ocidental. A impossibilidade é o fio condutor e o principal critério que guia a seleção desses participantes.”

Uma das inovações da edição de 2023 será o projeto do escritório de arquitetura Vão, que propõe uma abordagem inovadora para a coreografia do próprio espaço do Pavilhão Ciccillo Matarazzo, projetado pelo arquitecto brasileiro Oscar Niemeyer, e que abriga a Bienal de São Paulo desde a sua segunda edição, em 1953.

Quando a mostra arrancar na quarta-feira, o público verá o vão do pavilhão fechado pela primeira vez na história, num projeto que busca desconstruir as convenções modernistas do edifício, para criar um novo fluxo de movimento entre as obras de arte e os visitantes.

“Buscamos, desde o princípio, um desenho que se colocasse entre o desejo de não reencenar a coreografia espacial existente mas que, ao mesmo tempo, não impusesse uma coreografia outra, totalmente desvinculada das suas lógicas internas”, afirmaram Anna Juni, Enk te Winkel e Gustavo Delonero, sócios do escritório de arquitectura responsável pelo projeto do pavilhão, numa mensagem publicada no perfil da Bienal de São Paulo na rede social X (antigo Twitter).

A 35.ª Bienal de São Paulo tem entrada gratuita e acontece de 6 de setembro a 10 de dezembro no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera, zona sul da cidade de São Paulo.

Apoio de Portugal

A Direção-Geral das Artes assinou neste dia 04 um acordo de cooperação internacional com a Fundação Bienal de São Paulo para um apoio financeiro de 26.400 euros para a participação dos artistas portugueses selecionados pela equipa curatorial da bienal, deste ano.

Este valor “resulta de uma apreciação da DGArtes ao pedido e orçamento apresentados pela entidade organizadora da Bienal”, indicou a direção-geral numa resposta por correio eletrônico.

Num comunicado divulgado hoje de manhã, a DGArtes destacava “a relevância do trabalho dos artistas portugueses selecionados, bem como do contexto de acolhimento propiciado pela 35.ª Bienal de São Paulo e a sua importância para a promoção internacional das artes visuais e artes plásticas contemporâneas”.

A assinatura do presente acordo de cooperação “dá continuidade à ligação que a DGArtes vem mantendo com a Bienal de São Paulo, a maior mostra de arte contemporânea do Hemisfério Sul, cujos padrões de excelência e consequente impacto e projeção internacional a tornam uma parceria incontornável”, acrescenta.

Este organismo do Ministério da Cultura realça ainda a “importância do Brasil no quadro das prioridades da política europeia e externa portuguesa e o registo histórico da relevância específica das relações com o Brasil para a projeção e afirmação internacional da arte e da cultura portuguesa”, e recorda a importância do trabalho realizado no quadro dos Programas de Cooperação Ibero-Americanos Ibercena e Ibermúsicas.

Carlos Bunga, nascido no Porto, em 1976, e a viver atualmente em Barcelona, desenvolve uma obra de intervenções em lugares escolhidos previamente, que modifica através de materiais do quotidiano como papelão, tinta e fita adesiva.

O seu trabalho é reconhecido pelas instalações de grandes dimensões, elaboradas como estruturas arquitetónicas que muitas vezes o artista destrói em performances, ou até mesmo antes da abertura da própria exposição.

A partir da pesquisa pictórica, Bunga desenvolveu uma linguagem pessoal que desconstrói a disciplina da pintura, e o seu trabalho tem sido exposto em museus e centros internacionais de arte como o Museu de Serralves, no Porto (2012), o Museu Universitário de Arte Contemporânea, na Cidade do México (2013), o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa (2019), a Whitechapel Gallery, em Londres (2020), e o Museu Nacional Rainha Sofia (2022), entre outros.

Carlos Bunga formou-se na Escola Superior de Artes e Design (ESAD), nas Caldas da Rainha, estudou também em Nova Iorque, e venceu o prémio EDP Novos Artistas em 2003.

Raquel Lima, nascida em Lisboa, em 1983, é poetisa, ‘performer’ e educadora de arte, e tem vindo a apresentar o seu trabalho poético na Europa, em África e na América do Sul, tendo publicado em 2019 o seu primeiro livro e audiolivro de poesia, intitulado “Ingenuidade Inocência Ignorância”.

Doutoranda em Estudos Pós-Coloniais no Centro de Estudos Sociais da Universidade (CES) de Coimbra, é também licenciada em Estudos Artísticos, com especialização em Artes Performativas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

O conceito de apagamento é abordado pela criadora em sentidos gráficos e computacionais e em termos de identidade, com a literatura oral entendida como uma ferramenta para reconfigurar a história e gerar tensões face à materialização das fronteiras literárias e identitárias.

 

 

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: