Da Redação com Lusa
Neste sábado, o Presidente português manifestou pesar pela morte da escritora brasileira Nélida Piñon, aos 85 anos, e realçou a sua ligação a Portugal, onde acabou por falecer, lembrando que foi onde escreveu seu último livro.
Em nota da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa afirma: “Manifesto o meu pesar pelo falecimento da escritora Nélida Piñon, primeira mulher a presidir à Academia Brasileira de Letras”.
Lembrando que a escritora era descendente de galegos e que lhe foi concedida este ano a nacionalidade espanhola, o Presidente sublinha que Nélida Piñon era “amiga de Portugal” e membro da Academia das Ciências de Lisboa. Além de uma “presença habitual na edição e nos encontros literários do nosso país, tendo escrito no nosso país o seu último livro, significativamente intitulado ‘Um Dia Chegarei a Sagres'”, adianta.
“Ficcionista, ensaísta, vencedora de inúmeros prêmios brasileiros [o Jabuti, entre muitos outros], latino-americanos [Prémio Juan Rulfo] e europeus [Prémio Príncipe das Astúrias, Prémio Vergílio Ferreira], a autora de ‘A República dos Sonhos’ dedicou-se igualmente ao ensino e ao jornalismo”, refere ainda o Presidente na nota.
Também o primeiro-ministro português, António Costa, lamentou a morte de Nélida escritora “apaixonada pela língua portuguesa”. “A literatura brasileira perdeu hoje uma das suas grandes escritoras”, disse António Costa numa publicação na rede social Twitter.
O chefe do Governo lembrou que Nélida Piñon foi a “primeira mulher a presidir à centenária Academia Brasileira de Letras”, realçando que a escritora “era uma apaixonada pela língua portuguesa”.
A escritora brasileira Nélida Piñon morreu neste dia 17 em Lisboa aos 85 anos, informou a Academia Brasileira de Letras, que a qualifica como “uma das maiores representantes da literatura brasileira”.
Autora de mais de 20 livros, entre novelas, contos, literatura infanto-juvenil, ensaios e memórias, em 1996/97 tornou-se a primeira mulher, em 100 anos, a presidir à Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleita em 1989 na sucessão de Aurélio Buarque de Holanda.
Nélida Piñon, que se estreou com o romance “Guia-mapa Gabriel Arcanjo” publicado em 1961, recebeu o Prémio Internacional Juan Rulfo de Literatura Latino-Americana e do Caribe, em 1995, o que aconteceu pela primeira vez para uma mulher e para um autor de língua portuguesa, assim como o prêmio Bienal Nestlé, na categoria romance, pelo conjunto da obra, em 1991, e o da APCA e o Prêmio Ficção Pen Clube, ambos em 1985, pelo romance “A república dos sonhos”.
A Academia Brasileira de Letras destaca precisamente este romance no percurso da escritora, uma obra sobre uma família de imigrantes galegos no Brasil, em que “faz reflexões sobre a Galiza, a Espanha e o Brasil”.
Igualmente assinalada pela Academia Brasileira de Letras é a sua obra de 1972 “A casa da paixão”, que recebeu o Prémio Mário de Andrade, “um de seus melhores e mais conhecidos romances”.
A sua mais recente obra, “Um Dia Chegarei a Sagres”, lançada em 2020, ganhou o Pen Clube de Literatura.
Évora
Já a Universidade de Évora (UÉ) lamentou a morte da escritora, “uma das mais reconhecidas vozes da literatura brasileira contemporânea”, galardoada por aquela academia com o Prémio Vergílio Ferreira, em 2019.
Na nota de pesar pelo falecimento da escritora, a reitora da UÉ, Hermínia Vasconcelos Vilar, realçou que “foi com profunda consternação” que a Universidade de Évora recebeu a notícia do falecimento da escritora Nélida Piñon, “uma das mais reconhecidas vozes da literatura brasileira contemporânea”, e “uma personalidade inolvidável, de imensurável amabilidade, delicadeza e perseverança”.
“Na Universidade de Évora, tivemos o enorme privilégio de partilhar momentos únicos com Nélida Piñon a quando da entrega do Prêmio Vergílio Ferreira, com o qual a escritora foi distinguida, em 2019, pela latitude e profundidade da sua obra, que revela uma linguagem capaz de estabelecer e harmonizar um diálogo fértil entre a memória feminina e a História” acrescentou a reitora.
Nélida Piñon licenciou-se em jornalismo em 1956 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, tendo colaborado em jornais e revistas literários e sido correspondente no Brasil da revista Mundo Nuevo, de Paris, e editora assistente de Cadernos Brasileiros.
A escritora tinha um vínculo estreito com Espanha, já que os pais e avós foram emigrantes galegos no Brasil, e foi-lhe concedida no início deste ano a nacionalidade espanhola.
No meio acadêmico, foi professora na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e obteve o título de Doutor Honoris Causa em instituições de ensino de diferentes países. Em 1998, foi a primeira mulher a alcançar esse feito na Universidade de Santiago de Compostela, na região da Galícia, na Espanha.
Nélida Piñon morreu num hospital de Lisboa, conforme informa a Academia Brasileira de Letras, acrescentando que a causa da morte ainda não foi confirmada.
O corpo será trasladado para o Rio de Janeiro, no Brasil, de forma a ser velado no “Petit Trianon”, o principal salão da academia, que era como uma segunda casa para a escritora.