Quase 270 novos casos de cólera em Moçambique em quatro dias

Da Redação com Lusa

As autoridades sanitárias moçambicanas registaram em apenas quatro dias quase 270 novos casos de cólera em todo o país, segundo dados oficiais do Ministério da Saúde consultados neste dia 12 pela Lusa.

De acordo com o mais recente boletim sobre a progressão da doença, elaborado pela Direção Nacional de Saúde Pública e com dados até 10 de janeiro, estava contabilizado no país um acumulado de 9.062 casos de cólera desde 01 de outubro último, com 25 mortos.

Nos últimos quatro dias não se registaram óbitos por cólera, mas foram confirmados 269 novos casos da doença em todo o país, segundo o boletim.

A taxa de letalidade provocada por este surto mantém-se em 0,3%, segundo o boletim, que identifica perto de 30 distritos com casos de cólera ativos.

A província mais afetada pela atual vaga deste surto de cólera é Nampula (norte), com um acumulado de 2.905 casos e 12 óbitos, seguida de Tete (noroeste), com 1.871 casos e seis óbitos.

Hoje é o último de cinco dias em que decorre em nove distritos de Moçambique, os mais afetados pelo atual surto da doença, uma campanha de vacinação contra a cólera, prevendo chegar a mais de 2,2 milhões de pessoas.

De acordo com informação da Direção Nacional de Saúde Pública, esta campanha destina-se à população com idade igual ou superior a um ano e será realizada nos distritos de Chiúre e Montepuez (província de Cabo Delgado), Gilé, Gurué e Mocuba (Zambézia), Mágoe, Moatize e Zumbo (Tete) e Maringue (Sofala).

“O país está a responder ao recrudescimento do surto que se verifica desde outubro de 2023”, aponta a Direção Nacional de Saúde Pública.

“O grupo-alvo desta intervenção é de 2.271.136 pessoas, correspondente à população que vive nas áreas mais vulneráveis e de foco para o atual surto”, refere a mesma informação.

A Direção acrescenta que, “para que a campanha decorra sem sobressaltos e os objetivos sejam alcançados”, foram mobilizadas para esta operação 1.136 equipas, com 7.337 elementos, incluindo vacinadores, mobilizadores, registadores, supervisores, coordenadores, pessoal para digitar de dados, logísticos e motoristas, entre outros.

“Igualmente, foram mobilizados cerca de 1,3 milhões de dólares americanos [1,19 milhões de euros], para a realização da campanha. Este valor inclui fundos do Governo e dos Parceiros de Cooperação”, reconhece ainda.

A implementação da campanha prevê a vacinação em postos fixos nas unidades sanitárias e com recurso a brigadas móveis nos locais de maior concentração populacional previamente estabelecidos, como mercados, campo de futebol, locais de comícios, sede dos postos administrativos, localidades e outros.

“E, sempre que se justificar, adotar-se-á a estratégia porta a porta”, refere a Direção Nacional de Saúde Pública, acrescentando que, “para evitar duplicações ou falhas e permitir uma melhor avaliação pós campanha”, as pessoas vacinadas vão receber um cartão, “como prova de vacinação e que deverão conservá-lo”.

Desinformação

A campanha de vacinação lançada pelas autoridades nesta semana tem a meta de atingir 2,2 milhões de pessoas nos pontos afetados pela cólera, mas a desinformação sobre a doença tem sido um desafio para as autoridades, sobretudo no meio rural.

“Neste momento o maior problema que temos é desinformação”, frisou o ministro da Saúde.

Em dezembro, pelo menos cinco pessoas morreram na sequência de uma onda de desinformação sobre a cólera, disse o comandante-geral da polícia moçambicana, Bernardino Rafael.

As vítimas são maioritariamente líderes locais e técnicos de saúde, mortos por populares sob alegações de estarem a levar casos de cólera às comunidades, explicou Bernardino Rafael, durante um comício em Chiure, Cabo Delgado, província em que as autoridades registaram alguns destes casos.

Entre maio e novembro, pelo menos 16 pessoas foram detidas na província de Sofala, no centro de Moçambique, por passarem informações errôneas sobre a cólera, indicaram as autoridades.

A cólera é uma doença, tratável, que provoca fortes diarreias e que pode provocar a morte por desidratação se não for prontamente combatida.

A doença é causada, em grande parte, pela ingestão de alimentos e água contaminados por falta de redes de saneamento.

Em maio, a Organização Mundial da Saúde alertou que o mundo terá um défice de vacinas contra a cólera até 2025 e que mil milhões de pessoas de 43 países podem ser infetadas com a doença, apontando, já em outubro, Moçambique como um dos países de maior risco.

Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, situação que agrava a resistência de infraestruturas e serviços que permitam evitar a doença.

 

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