Da Redação com Lusa
Um grupo de 23 organizações não-governamentais (ONG) internacionais alertou hoje para o risco de se “esquecer” a crise humanitária provocada pela violência armada na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.
“Existe um risco muito real de que, com a crise agora no seu quinto ano, Cabo Delgado saia completamente do radar internacional”, referiram as ONG em comunicado.
Na nota, os subscritores lamentam o défice de orçamento para a assistência aos deslocados de guerra naquela província.
“A resposta humanitária em Cabo Delgado está seriamente subfinanciada. Não estamos a receber financiamento suficiente para responder à crise humanitária”, referem as organizações, que incluem a Save The Children e a Plan International.
Segundo o grupo, a assistência humanitária a Cabo Delgado é “muitas vezes” interrompida, devido à falta de fundos ou de recursos, limitando-se apenas a “intervenções pontuais”.
“É decepcionante para nós, como organizações humanitárias, ter de interromper os nossos esforços de atender às necessidades das populações afetadas e testemunhar o fato de as suas necessidades básicas não serem atendidas nem satisfeitas”, lamentaram, alertando que a situação na província “está em risco de se tornar numa crise esquecida”.
As organizações pediram ainda maior flexibilidade na emissão de vistos humanitários para permitir o acesso a especialistas das áreas temáticas da resposta a Cabo Delgado, visando “melhorar a qualidade” da assistência.
O grupo sugere que Moçambique aproveite o facto de ser membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas para “chamar a atenção dos doadores e da comunidade internacional para financiar a resposta humanitária em Cabo Delgado”.
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas está a ser aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda, a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.