Mundo Lusíada com Lusa
Perto de 70% dos estudantes da Universidade de Coimbra têm intenção de emigrar no futuro, com 40% a pensar abandonar Portugal nos próximos cinco anos e cerca de 30% na próxima década, revelou hoje um inquérito da Associação Académica.
“Estes dados permitem aferir a urgência que os estudantes têm em sair do país. Dois em cada três estudantes da comunidade estudantil inquirida pensa emigrar no futuro, dos quais dois em cada cinco o pensa fazer nos próximos cinco anos”, destacou o presidente da Associação Acadêmica de Coimbra, Renato Daniel.
A Associação Académica de Coimbra realizou um estudo sobre a emigração jovem dos estudantes da Universidade de Coimbra, recolhendo dados através de um inquérito na plataforma Microsoft Forms, entre os dias 01 e 26 de fevereiro.
Foram contabilizadas um total de 1.381 respostas, sendo consideradas válidas para a análise 1.272, após a exclusão de 109 estudantes não pertencentes à Universidade de Coimbra.
De acordo com os dados apresentados em conferência de imprensa, que decorreu ao final da manhã no Colégio da Trindade da Universidade de Coimbra, dos inquiridos que manifestaram intenção de emigrar, 74,6% disseram pretender regressar (três em cada quatro estudantes).
No que diz respeito aos motivos que levam os jovens a querer emigrar, 96,3% apontou as condições salariais como fator principal para a emigração.
Segundo Renato Daniel, questionados sobre os principais desafios que enfrentam, 92,5% da comunidade estudantil referiu a instabilidade financeira.
Relativamente ao cruzamento da variável da instabilidade financeira com a unidade orgânica na Universidade de Coimbra, 95,8% dos estudantes pertencentes à Faculdade de Medicina e cerca de 93,4% dos estudantes inscritos na Faculdade de Ciências e Tecnologias apontaram este indicador como um desafio enfrentado pelos jovens.
“Tal demonstra claramente o que já é noticiado há algum tempo, de que a medicina, as engenharias e as ciências acabam por ser as áreas que necessitam de uma maior valorização salarial nos próximos tempos, se efetivamente queremos fixar, no nosso país, os jovens da próxima geração do ensino superior”, sustentou.
O presidente da Associação Acadêmica da Universidade de Coimbra revelou ainda que o estudo permitiu aferir que, tendo em conta as condições salariais em Portugal, um em cada dois estudantes vê-se incapaz de adquirir casa.
Atendendo ainda às condições salariais, um em cada quatro estudantes disse não ver a possibilidade de constituir família.
“Tendo em consideração a possibilidade dos estudantes se tornarem financeiramente independentes, um em cada quatro estudantes discordam totalmente dessa possibilidade”, informou.
Ao longo da sua intervenção na conferência de imprensa, Renato Daniel frisou que os dados revelados pelo inquérito deixaram a Associação Acadêmica de Coimbra preocupada com a “possibilidade de emigração forçada”, causada pela “falta de valorização profissional ou por conta dos salários baixos”, instando a que se faça do ensino superior uma prioridade.
“Apelamos a que, neste período de campanha eleitoral, todos os partidos políticos se pronunciem sobre medidas concretas de valorização do ensino superior e seus estudantes. É verdadeiramente preocupante assistir a um total de zero minutos de debate sobre o ensino superior e sobre o futuro das gerações mais qualificadas de sempre”, concluiu.
Responderam ao inquérito alunos de sete faculdades da UC, maioritariamente da Faculdade de Ciências e Tecnologias (24%), chegando apenas 1,8% de respostas de estudantes da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física.
No que diz respeito à faixa etária, foram recebidas respostas sobretudo de idades compreendidas entre os 17 e os 20 anos (55,6%), o que corresponde a uma maior adesão por parte de estudantes da licenciatura.
Futuro Primeiro-Ministro
O presidente da Federação Académica do Porto, Francisco Fernandes, apelou hoje a todos os líderes dos partidos políticos em Portugal para quando um deles for eleito primeiro-ministro coloque sob a sua tutela a Secretaria de Estado da Juventude.
“Apelo a Vossa Excelência, enquanto líder de um dos principais partidos políticos em Portugal, para que assuma um compromisso sério com a juventude, colocando a Secretaria de Estado da Juventude sob a sua tutela, no caso de se tornar primeiro-ministro. Uma Secretaria de Estado dedicada exclusivamente à juventude, com influência política para coordenar e implementar políticas transversais a todas as áreas da governação”, lê-se num comunicado da FAP.
Francisco Fernandes lembra aos líderes dos partidos políticos de Portugal que a “Geração Trinta” é a primeira geração a “viver pior do que a anterior”.
“O poder de compra dos licenciados diminuiu 30%, a saída de casa dos nossos pais ocorre, em média, aos 30 anos, e, de acordo com os mais recentes dados divulgados pelo Observatório da Emigração, aproximadamente 30% dos jovens nascidos em Portugal estão, atualmente, a viver no estrangeiro. Estas estatísticas refletem uma realidade preocupante, que indica que o país não proporciona um ambiente favorável para o crescimento e prosperidade da juventude em Portugal”, alega o presidente da FAP.
Francisco Fernandes recorda que o governo que cessa agora funções tinha a tutela da juventude integrada no Ministério dos Assuntos Parlamentares, na Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, e embora diga compreender “a necessidade de priorizar o desporto”, alerta que o futuro governo não pode “negligenciar o papel central que a juventude desempenha” em Portugal.
Para a FAP, é crucial que o responsável político pela juventude detenha peso político suficiente para implementar as reformas necessárias, tão esperadas pelos jovens portugueses, para que os jovens precisam de saber que o “poder político não desistiu deles”.
“As políticas de juventude são transversais a todas as áreas da governação, desde a habitação até à economia, passando pelas finanças e pelo trabalho. Neste sentido, é fundamental inserir a tutela da juventude num contexto que permita uma visão holística da juventude para o país (…) É imperativo que a juventude se torne um desígnio nacional e que o próximo governo assuma a responsabilidade de criar condições propícias para que os jovens possam construir os seus projetos de vida em Portugal”.