Cidade que é “terra de chegada” com comunidade imigrante a triplicar em três anos

Da redação com Lusa

 

O município de Entroncamento viu a população imigrante residente triplicar nos últimos três anos, com cerca de 50 nacionalidades a representarem 10% da população, diversidade que celebra neste dia 25 num encontro que culmina com um concerto do cantor cabo-verdiano Dany Silva.

Iniciativa promovida pelo município para assinalar o Dia Mundial da Diversidade Cultural, que se comemora a 21 de maio, o presidente da Câmara do Entroncamento, Jorge Faria (PS), destacou à Lusa que a autarquia encara “a interculturalidade e a diversidade [como] uma riqueza, pelo que quer celebrar as diferenças culturais e promover iniciativas para a partilha e integração de todos”, realçando a importância social e econômica de um fenômeno a que o concelho, no distrito de Santarém, tem conseguido dar resposta.

“O Entroncamento é uma comunidade historicamente de chegada, porque temos vindo a ser procurados por muita gente de dentro do país e, nos últimos anos, sobretudo, por imigrantes”, disse o autarca, destacando que existe atualmente uma “população significativa de imigrantes”, que estimou na ordem dos 10% do total dos cerca de 20 mil habitantes (Censos de 2021), e com os jovens filhos de imigrantes a representarem quase 30% dos alunos do concelho.

Segundo o autarca, os últimos dados oficiais, de 2022, apontavam já para 1.352 imigrantes registados (6,4% da população), mas, tendo em conta que nessa altura havia apenas cerca de 500 filhos de imigrantes a frequentar o ensino público e hoje estão matriculados 916 – ou seja, 29,3% da população escolar -, “fazendo aqui uma mera extrapolação, será fácil perceber” que a população de imigrantes no concelho rondará as 2.300 pessoas, “ou seja, cerca de 10% da população” (para uma média nacional de 7,6%, segundo dados oficiais de 2023).

Apontando os dados das escolas como os que permitem ter uma informação “mais concreta” sobre a população imigrante residente no concelho, Jorge Faria afirmou que estas “têm registados miúdos de 31 nacionalidades”, admitindo-se que possam rondar as 50 nacionalidades, com a comunidade lusófona a ser a mais representativa.

As nacionalidades com mais expressão no concelho são a brasileira e a angolana (que terá hoje a presença de um representante do Consulado Geral no III Encontro Intercultural).

Os dados oficiais da Pordata, de 2022, facultados pelo município, apontam para uma população estrangeira, com estatuto legal de residente, a duplicar entre 2020 e 2022, passando de 769 para 1.362 pessoas, com o Brasil a ter registrados 653 indivíduos (contra 394 em 2020), Angola 255 (47 em 2020), China 68 (42 em 2020), seguidos da Índia, com 85 (18 em 2020), Ucrânia 59 (65 em 2020), Cabo Verde 53 (58 em 2020) e Guiné-Bissau 45 (18 em 2020).

Surgem depois as comunidades da Romênia, Itália, Espanha e São Tomé e Príncipe, e outros, perfazendo o total oficial de 1.342 imigrantes com estatuto legal de residente, à data de 2022.

“Nós temos hoje um painel mosaico da cidade de novas culturas, novas formas de viver, que vêm enriquecer a nossa comunidade e, naturalmente, criando algum receio em algumas pessoas e algumas reações negativas”, disse o autarca, tendo feito notar que, historicamente, o Entroncamento revela “a capacidade de acolher” as pessoas.

Além de encontros como o de hoje, em que, ao longo de todo o dia (das 10:00 às 19:00), em vários espaços da cidade (praças Salgueiro Maia e da Restauração e Mercado Municipal), a população é convidada a conhecer a música, a gastronomia, o artesanato, os produtos tradicionais de vários países, como Argentina, Brasil, Cabo Verde, Portugal e Ucrânia, o município tem desenvolvido um trabalho de inclusão em articulação com o CLAIM – Centro Local de Apoio e Integração de Migrantes, o Gabinete de Inserção Profissional e os Serviços de Educação e Ação Social.

“Têm estado no terreno a apoiar e a trabalhar na promoção e integração destas comunidades, ao nível do emprego, educação, habitação, saúde, coesão sociocultural, empreendedorismo e desenvolvimento econômico”, disse.

Segundo o autarca, neste momento estão a decorrer diversos cursos de Português Língua de Acolhimento e de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências Profissionais, com escolas e centros de formação, que envolvem 26 nacionalidades.

Questionado sobre os motivos deste crescimento populacional das comunidades estrangeiras, Jorge Faria destacou as “boas condições de vida”, o “conseguir emprego” e as “boas acessibilidades”.

Nos atendimentos realizados, segundo o município, as famílias referem a escolha do Entroncamento “pelas acessibilidades e transportes públicos, nomeadamente o comboio, assim como por redes de contatos de familiares ou amigos, para além da segurança sentida” na cidade.

Jorge Faria salientou que muitos dos imigrantes residentes no concelho começam por trabalhar na Grande Lisboa, fruto das boas acessibilidades, sobretudo da ligação ferroviária, mas acabam por encontrar trabalho na região.

Para o autarca, o principal desafio colocado por este crescimento populacional é a “construção de um concelho inclusivo e solidário, sustentado em políticas públicas promotoras da igualdade de oportunidades, da paz e da tolerância, do desenvolvimento sustentável”.

 

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