10 Junho: Conselheiro na Suíça lamenta baixa participação cívica dos emigrantes

Mundo Lusíada com Lusa

 

O mais antigo conselheiro da comunidade portuguesa na Suíça, Domingos Pereira, lamenta que esta continue a revelar falta de interessa na participação cívica, sendo muito poucos os emigrantes que se envolvem na vida política do seu país de acolhimento.

Em entrevista à Lusa em vésperas das celebrações do 10 de Junho na Suíça, nos dias 11 e 12, com a participação do Presidente da República e do primeiro-ministro, Domingos Pereira, conselheiro no país helvético desde 2015 e reconduzido na eleição do ano passado para o Conselho das Comunidades Portuguesas, assume que o número de cidadãos portugueses a exercerem cargos em órgãos municipais, 16, é muito pouco expressivo, atendendo à dimensão da comunidade (cerca de 260 mil emigrantes com cartão de cidadão português).

“Infelizmente, para o número de portugueses – e 260 mil são só a primeira geração -, verifica-se que não há interesse na participação cívica”, que é “reduzida nas três gerações”, comenta, apontando que a tendência natural seria registar-se hoje uma maior participação, face ao aumento da obtenção da cidadania suíça.

Para o conselheiro radicado em Zurique, a pouca participação cívica da comunidade portuguesa na Suíça dever-se-á a “uma questão de herança”, já que os emigrantes que chegam à Suíça regra geral também já não participavam ativamente “na vida política em Portugal”, e esse desligamento passa para as gerações seguintes.

Por outro lado, acrescenta, “o sistema eleitoral suíço é muito mais complexo do que o português, o que também não ajuda”, o processo de naturalização “é bastante complicado” e, por fim, “também há a questão da língua, sobretudo na área geográfica alemã”, já que, “não havendo domínio da língua, não há envolvimento político”.

Contudo, Domingos Pereira admite que estes entraves não justificam por si só o alheamento, pois “mesmo na zona francófona deixa muito a desejar a participação cívica”.

Dos 16 cidadãos nacionais detentores de dupla nacionalidade que integram órgãos municipais na Suíça, cinco foram eleitos em cantões de língua alemã e 11 em cantões de língua francesa.

“Talvez daqui a 10 anos a participação dos portugueses seja maior, estou confiante de que haverá um aumento significativo”, diz.

Relativamente às preocupações que os emigrantes manifestam hoje em dia, Domingos Pereira, com a sua experiência de nove anos enquanto conselheiro, assinala que são basicamente “as mesmas de 2015, nuns anos com uma prioridade mais acentuada do que noutros”, mas giram em torno das questões do emprego, habitação, problemas sociais e de integração no sistema escolar suíço.

Já quanto às atividades profissionais dos emigrantes portugueses que rumam à Suíça, o conselheiro nota “um acréscimo bastante grande, que não acontecia nas décadas anteriores”, de trabalhadores no setor da saúde, “sobretudo enfermagem, mas também por exemplo radiologia”.

“Sensivelmente a partir de 2010, a porta de entrada deixou de ser apenas a área dos serviços – construção civil, limpeza, hotelaria -, mas também setores como a saúde e nos domínios digital, financeiro e também no ramo automóvel”, aponta, sublinhando que, na segunda geração, de portugueses já nascidos na Suíça, já se verifica “um número muito significativo” de quadros com formação superior.

A Suíça, país escolhido para a dupla comemoração do 10 de Junho este ano, com a participação do Presidente da República e do primeiro-ministro, alberga a segunda maior comunidade de emigrantes portugueses na Europa e no mundo – cerca de 260 mil portugueses portadores de cartão de cidadão.

Segunda maior comunidade emigrante

De acordo com dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o número de cidadãos portugueses, com cartão de cidadão com morada na Suíça, atingiu os 260 mil, sendo esta a segunda maior comunidade de emigrantes portugueses no continente europeu, depois da de França (perto de 600 mil).

A comunidade portuguesa na Suíça é a terceira comunidade estrangeira mais relevante no país, a seguir à italiana e à alemã, e à frente da francesa, tendo crescido cerca de 1% em 2023 face ao ano anterior. Esse crescimento deve-se ao número de nascimentos ocorridos e à reativação de autorizações de residência suspensas, já que, à semelhança do ocorrido nos anos anteriores, não se verificou um aumento por força da chegada de novos imigrantes – o saldo entre entradas e saídas efetivas até foi ligeiramente negativo no ano passado (em 678 cidadãos).

Aos cerca de 260 mil residentes permanentes com cartão de cidadão português juntam-se perto de 5 mil residentes não permanentes (detentores de autorização temporária), sendo que cerca de 77% dos portugueses na Suíça têm residência permanente e estão maioritariamente em idade ativa (a comunidade residente com mais de 65 anos é de apenas 2,8% e os menores de 17 anos representam 19,3%).

Mais de um quarto (26,8%) da população na Suíça – estimada em mais de 8,6 milhões de pessoas -, é estrangeira, representando a comunidade portuguesa 3,1% do total da população e 11,8% dos estrangeiros radicados no país.

A dimensão da comunidade lusa na Suíça mantém-se homogênea, com ligeiras oscilações, desde 2016, ano em que atingiu o valor mais elevado de sempre: 275 mil cidadãos.

Os portugueses estão atualmente presentes em todos os 26 cantões do país, constituindo a comunidade estrangeira mais importante nalguns deles, independentemente da língua (a Suíça tem quatro línguas oficiais – alemão, francês, italiano e romanche, esta última falada predominantemente em apenas um cantão, sendo alguns cantões bilingues).

A comunidade lusa é a maior no cantão francófono de Neuchâtel, nos cantões bilingues de Friburgo e Valais (francês e alemão) e de Graubünden (alemão e romanche), e a segunda mais importante nos cantões de Appenzell Interior, Genebra, Jura, Obwalden, Ticino, Vaud e Uri.

A maior concentração de emigrantes portugueses verifica-se no cantão de Vaud, onde residem 56.270 portugueses, seguindo-se os cantões de Genebra, Valais, Zurique, Friburgo e Berna, todos com mais de treze mil residentes. No total, 75% da comunidade portuguesa na Suíça reside nestes seis cantões.

De acordo com a leitura que a Embaixada de Portugal em Berna fez, em março deste ano, da “residência linguística” da comunidade, a presença da comunidade lusa em todos os cantões, “uma característica apenas repetível pelas comunidades italiana, alemã e francesa”, significa, “de forma eloquente que, atualmente, o domínio de uma das línguas oficiais do país (alemão, francês, italiano ou romanche) ou um dialeto/derivação local […] deixou de constituir um entrave principal à sua plena integração”.

Profissões

De acordo com os dados oficiais, a comunidade portuguesa continua sobretudo concentrada nos setores da construção civil, obras públicas, agricultura, hotelaria e restauração, serviços financeiros, setor farmacêutico, reparação automóvel, distribuição alimentar e limpezas.

No entanto, nos últimos anos tem-se assistido a um aumento da emigração qualificada, designadamente “um conjunto apreciável de nacionais a exercer funções no sistema de saúde na Suíça”, tendo os portugueses sido, em 2022, a sexta nacionalidade mais relevante em termos de reconhecimento de títulos para o exercício de enfermagem e profissões conexas.

De acordo com dados divulgados no início do corrente ano pela Ordem dos Enfermeiros, a Suíça foi em 2023, e pelo segundo ano consecutivo, o principal destino da emigração de enfermeiros portugueses, à frente de Espanha, Bélgica, França e Reino Unido.

As remessas dos emigrantes na Suíça atingiram em 2023 o valor mais elevado de sempre, com o montante global de 1.085,5 milhões de euros a ultrapassar o de França (1.045,2 milhões), de acordo com dados do Banco de Portugal.

Em 2022, as remessas enviadas pelos emigrantes portugueses na Suíça haviam-se fixado nos 1.061 milhões de euros, atrás das remessas oriundas desde França (1.081 milhões), que foi então superada no ano passado.

No cômputo geral, as remessas dos emigrantes portugueses por todo o mundo subiram 2,4% no ano passado, para 3.985 milhões de euros, batendo novamente o recorde.

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