Há já um bom tempo atrás, certamente medido em anos, tomei conhecimento de que é frequente na Venezuela a droga apreendida ser trocada nas esquadras, ou nos tribunais, por farinha, razão que levaria a tratar os que assim procedem por alquimistas.
Posteriormente, teve lugar uma operação de conjunta de forças policiais norte-americanas diversas – cerca de um milhar de elementos – em Porto Rico, onde foram detidos polícias os mais diversos, mas também magistrados de todo o tipo. Nada que me tenha parecido algo pouco lógico ou inexpectável.
Já mais recentemente, aqui mesmo na nossa vizinha Espanha, autoridades oficiais diversas detiveram polícias que em certa esquadra haviam procedido como é usual na Venezuela, sendo que há uns poucos meses atrás foi detida a madre superiora de certo colégio de freiras que dirigia uma quadrilha de prostitutas romenas que também vendiam droga aos seus utilizadores. Tudo, pois, coisas naturais, lógicas e perfeitamente expectáveis.
Ora, há dias, nesta última operação que também envolveu forças policiais e militares diversas no bairro da Rocinha, no Brasil, para lá do histórico, Nem, foram também detidos diversos elementos das forças policiais que se encontravam ligados ao correspondente gangue de estupefacientes.
A grande novidade, neste caso, não foi tanto a revelação deste facto, que é natural, lógico e expectável, mas o de que metade do lucro da droga era usada para pagar a polícias corruptos. Isto sim, é já um dado importante, para lá do mais, porque fornece um indicador do grau de corrupção que também atinge as forças policiais que atuam, normalmente, naqueles lugares.
Este facto liga-se às tradicionais reações dos produtores sul-americanos de estupefacientes, que sempre remetem a valorização dos seus produtos para a fantástica procura das sociedades mais desenvolvidas do hemisfério norte, mormente os Estados Unidos, e para a completa incapacidade de pôr um cobro no consumo aí praticado, bem como nas mil e uma rotas até chegarem aos consumidores finais.
A este propósito, convém tentar ver o histórico filme-documentário, INSIDE JOB – entre nós, A VERDADE DA CRISE –, por onde se fica a saber o que o cinema já nos ensinou: no mundo da banca e da alta finança dos Estados Unidos – não só, como é evidente –, o consumo de cocaína é uma cultura diariamente praticada. Uma cultura que, nunca podendo ser publicamente assumida a não ser com custos graves de imagem, acaba por levar muitos dos seus praticantes a estados graves de saúde, acabando mesmo por ter de suspender a sua vida profissional, muitas vezes caindo completamente em desgraça. E, como facilmente se percebe, tal situação não se fica apenas por aqueles setores de atividade.
No sentido que naturalmente se compreende, achei graça a mais esta notícia sobre o envolvimento de gente do mundo policial numa das atividades criminosas de maior gravidade, como é o caso do tráfico de estupefacientes. Uma atividade que a globalização e o comércio livre potenciaram a níveis nunca imaginados. Uma realidade típica do modernismo sem Deus. Deus que acaba por ser o instrumento de recurso para as vítimas aflitas de uma tal prática pré-suicidária. Tinha, pois, razão o académico José Manuel Barata-Moura, ao tempo reitor da Universidade de Lisboa, ao responder a Maria José Nogueira Pinto: ah, o que a Senhora está a dizer é que isso é um opiáceo!!
Hélio Bernardo Lopes
De Portugal