Tecnologia amplia papel das crianças como motores do conhecimento nas famílias

Estudo mostra como crianças nascidas após 2010 intensificaram a socialização do conhecimento com gerações anteriores, o que pode ser facilitado de acordo com a tecnologia, a escola e o tipo de interação entre pais e filhos.

Por Erick Lins
Do Jornal da USP

Uma pesquisa feita na Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP investiga quais são os fatores que influenciam o processo de socialização reversa de famílias brasileiras. Tal socialização ocorre quando a criança cresce adquirindo mais conhecimento que seus pais, o que acaba por gerar neles o interesse em aprender com os filhos. O trabalho foi idealizado por Murilo Lima Araújo , com orientação do professor Andres Rodrigues Veloso, do Departamento de Administração.

“[Para o desenvolvimento do trabalho] me baseei na teoria da socialização do consumidor e da socialização reversa que é um fenômeno estudado desde os anos 1970. Então discorri sobre essa socialização nas características cotidianas: no futebol, na alimentação, viagens, roupas, sustentabilidade e tecnologia”, declarou o pesquisador.

De acordo com Araújo, nas últimas décadas, as crianças têm desempenhado um papel dentro do contexto familiar diferente do que acontecia nas gerações anteriores. Esse cenário ocorre em virtude das mudanças na sociedade atual, como, por exemplo, as políticas garantidoras de educação e a alteração do currículo escolar. Além disso, a acessibilidade à tecnologia, proteção contra trabalho infantil, proteção contra abusos físicos, diminuição da fertilidade da população e alteração de estilos parentais mais restritivos para mais abertos também desempenham um papel importante na geração atual.

Levando essas questões em consideração, o estudo focou a geração de indivíduos que nasceram a partir do ano de 2010, também denominada Geração Alfa, a qual possui um elevado potencial cognitivo (AV1), consequência de estarem sendo socializados em um ambiente com altos estímulos provocados pela revolução digital. “As gerações anteriores a essa [Alfa], tiveram menos oportunidade de estudo, nasceram no mundo analógico. E sabemos que isso impacta muito na comunicação das pessoas”, analisou.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento do projeto deu-se em pesquisa qualitativa em duas etapas: foram coletados desenhos feitos por crianças de 7 a 11 anos em uma escola estadual e, também, a realização de entrevistas em profundidade com as famílias. Já a análise dos dados ocorreu por meio de triangulação de ambas as coletas. Dessa forma, os desenhos foram analisados conforme a literatura pesquisada e as entrevistas foram transcritas verbatim e codificadas por meio de software Atlas.ti.

Dessa forma, foi evidenciado que os fatores que facilitam a socialização reversa são: tecnologia, escola e estilo parental, isto é, a natureza da interação de pais e filhos. Com isso, os resultados da pesquisa indicam que esse tipo de socialização é manifestada através do consumo de eletrônicos, consumo de roupas, atitudes pró-ambientais, atividade física, relações interpessoais e inteligência emocional.

Segundo Costa, os achados de seu trabalho podem auxiliar na elaboração de ações educacionais para gerações mais velhas no intuito de diminuir as lacunas geracionais. “Como contribuição social é interessante para gestores públicos pensar em estratégias de marketing político. Para de repente utilizar a criança como socializador no combate à obesidade, por exemplo.” Além disso, a sociedade em geral também poderá refletir sobre a educação que está dando aos seus filhos e suas possíveis consequências positivas e negativas.

 

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