Prefeitura de Salvador inicia demolição do Clube Português

“É uma aberração este processo. O município não entende que precisa tratar esses espaços de forma diferenciada", diz português residente na Bahia.

Da Redação Com Portugal Digital

As instalações do Clube Português na praia da Pituba, orla de Salvador, estão a ser demolidas pela Superintendência de Urbanização da Capital (Surcap), entidade responsável pela obra.

Os trabalhos de demolição e limpeza do terreno deverão estar concluídos até final de janeiro. As instalações daquele que já foi um dos mais prestigiados clubes da capital da Bahia darão lugar a uma praça, ou um aquário projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

De acordo com a imprensa local, a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) e a Secretaria Municipal do Planejamento, Urbanismo e Meio Ambiente (Seplam) ainda não fizeram o projeto da futura praça. “Estamos avaliando as demandas para o bom uso do local pela população já que foi descartado a utilização comercial da área”, disse Kátia Carmelo, secretária do Planejamento, citada pelo jornal A Tarde.

A idéia é que o terreno seja destinado à construção de um parque com estacionamento, quiosques, pista de corrida e caminhada, ciclovia e quadras de esporte. Mas os prazos para elaboração do projeto e construção ainda são incertos. “Pode ser daqui a um mês, dois, três ou mais. Ainda não podemos determinar”, estima Kátia Carmelo.

O presidente português Manuel Bernardino Silva, 62 anos, residente na Bahia há 42, ouvido pelo jornal, critica a demolição. “É uma aberração este processo. O município não entende que precisa tratar esses espaços de forma diferenciada para não acabar. Era o nosso (da comunidade lusa) principal ponto de encontro”, afirma.

Fundado em 1946, funcionando inicialmente na sede do Gabinete Português de Leitura, só 17 anos depois, em 1963 o Clube Português teve a sua sede própria, inaugurada na Praia da Pituba, uma das áreas mais valorizadas de Salvador, divulga a Agencia Lusa.

A estimativa é que vivam atualmente no estado da Bahia cinco mil portugueses. Além do Clube Português, agora demolido, a comunidade conta com uma chácara, a Quinta da Beneficência Portuguesa, localizada em Itinga, para a realização de diversos eventos.

História Freqüentado pela elite baiana, nos seus salões aconteciam as principais festas da alta sociedade, inclusive o mais tradicional dos bailes de carnaval da Bahia.

A crise econômica que atingiu o país nos anos 80, somada ao crescimento do carnaval de rua e de outros eventos públicos em Salvador, esvaziaram os clubes sociais. O Português resistiu por quase 20 anos, acumulando dívidas a trabalhadores, a fornecedores e ao fisco que totalizam, a preços de hoje, cerca de 2,7 milhões de euros (R$ 7 milhões).

"Chegamos a ter menos de cem sócios pagando as mensalidades, o que tornou impossível manter o funcionamento do clube", explica Manoel Silva Maria.

Em 2001, praticamente sem sócios, as atividades do clube foram encerradas. Meses depois, cerca de 50 famílias que viviam nas ruas da cidade ocuparam os seus 2.500 metros quadrados.

Outrora suntuosas, as instalações ficaram degradadas, tornando-se numa imensa casa comunal de pobres no meio de uma das mais belas paisagens da capital baiana.

A Prefeitura, à qual o clube devia cerca de 1,3 milhões de euros (R$ 3,3 milhões), decidiu cobrar a dívida na Justiça, requerendo e obtendo a área da sua sede social como forma de obter o pagamento em falta.

O presidente e os conselheiros do clube ainda tentaram uma solução que evitasse a perda da sede e o grupo Vila Galé ainda se interessou pela compra da área, com a pretensão de construir no local um hotel, traz a Agencia Lusa.

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