Portugal enfrenta escassez de água com falta de chuvas e cidades cheias com a chegada de emigrantes

Mundo Lusíada com Lusa

Portugal tem agido para mitigar a escassez de água que se faz sentir pelo país, diante de cidades repletas que recebem muitos emigrantes e turistas para as férias de verão, somado a falta de chuva que tem ameaçado abastecimento de água em várias localidades.

No distrito de Vila Real, a Câmara de Ribeira de Pena está a abastecer os depósitos do concelho, através de cisternas, para mitigar a escassez de água e dar resposta às necessidades da população que praticamente “quintuplicou” com a chegada dos emigrantes.

“Temos recorrido aos nossos meios de transporte de água para reabastecer os depósitos, porque as captações não conseguem satisfazer as necessidades. Em Ribeira de Pena não chegamos a 6.000 pessoas e, neste momento, devemos ter uma população entre as 25.000 e as 30.000” pessoas, afirmou à agência Lusa o presidente do município João Noronha.

A população, segundo o autarca, “praticamente quintuplicou” com o regresso dos emigrantes neste verão. Segundo o resultado dos censos 2021, o concelho de Ribeira de Pena tinha 5.885 residentes.

“É bom, porque os nossos conterrâneos regressaram à sua terra natal, mas o consumo de água disparou e temos aqui um problema. Temos muitas mais pessoas e, pelo contrário, as nascentes estão muito reduzidas”, referiu.

Por isso, segundo João Noronha, as cisternas estão a trabalhar permanentemente no reabastecimento dos depósitos. “Os serviços municipalizados andam 24 sobre 24 horas a percorrer o nosso território, que é vasto, com imensos depósitos para que, a água continue a chegar às nossas torneiras”, afirmou o autarca.

O abastecimento de água às populações neste concelho é feito através de “cerca 90 nascentes e captações” espalhadas por todo o território.

“As nascentes não conseguiram recuperar, não houve inverno e estamos com esta seca extrema”, lamentou, referindo que “não obstante dos investimentos realizados nos últimos anos no reforço das captações, tem sido difícil superar os elevados níveis de consumo nesta altura do ano”.

Por causa das condições meteorológicas que se fazem sentir, com temperaturas elevadas, a ausência de chuva e a consequente redução do volume dos caudais de água que abastecem o concelho, a câmara está também, acrescentou, a apelar à poupança de água e contra o seu uso indevido e a sensibilizar à “adoção de práticas e pequenos gestos diários”.

“A água de consumo não é para regar viaturas, pátios, não é uma encher piscinas. Temos que ter um cuidado acrescido”, frisou João Noronha.

As duas novas albufeiras, das barragens de Daivões (Ribeira de Pena) e Gouvães (Vila Pouca de Aguiar), inseridas no Sistema Eletroprodutor do Tâmega, têm ajudado, segundo apontou o autarca, aos reabastecimentos das aeronaves que andam a combater os incêndios um pouco por toda a região. “Ainda bem que temos aqui este espelho de água que contribui de forma decisiva para o combate aos incêndios”, frisou.

Alto Minho

Em Viana do Castelo, o presidente da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho alertou que se não chover até final de agosto o abastecimento de água às populações das zonas de montanha fica comprometido face à seca severa que a região enfrenta.

“Estamos no princípio de agosto e sabemos que se continuar toda esta situação de seca, que é previsível que continue, e se não acautelarmos junto dos munícipes uma atitude de grande responsabilidade no consumo de água, podemos ter problemas muito graves no final do mês de agosto. Problemas, porventura, mais graves ainda no mês de setembro e no de outubro”, afirmou aos jornalistas, numa conferência de imprensa que decorreu na sede da CIM do Alto Minho, em Ponte de Lima, Manoel Batista.

Manoel Batista, que é também presidente da Câmara de Melgaço, realçou que o distrito de Viana do Castelo vive um “cenário delicado de seca severa que pode pôr em risco o fornecimento de água às populações”, destacando as aldeias de montanha, “algumas das quais já estão a ser apoiadas pelos municípios, através das corporações de bombeiros locais, para colocar águas nos reservatórios, uma vez que as captações não conseguem dar resposta às necessidades”.

“As zonas mais preocupantes são as de montanha. Aldeias que têm sistemas próprios, que não estão ligados em rede a sistemas mais abrangentes. Essas aldeias poderão ser as mais vulneráveis porque as captações e os furos estão a perder caudal”, referiu.

Manoel Batista adiantou que, nestas zonas de montanha, o abastecimento de água, através das corporações de bombeiros, “não é uma novidade, mas este ano começou mais cedo e de forma mais intensa”.

No imediato, disse o autarca socialista, a CIM do Alto Minho “vai continuar a apostar na sensibilização da população para que assuma atitudes de grande responsabilidade” no que diz respeito ao consumo de água, e assegurou não estarem descartadas “medidas mais extremas” para acautelar o abastecimento público.

“Tendencialmente, agosto é um mês sem chuva. Dizem-nos também que setembro será um mês sem chuva. Poderá cair alguma chuva, mas muito limitada. Não queremos dramatizar, estes cenários são realistas”, disse, referindo-se à tomada de “medidas mais drásticas”, apontando como exemplo alguns municípios da Galiza que já estão a efetuar cortes no abastecimento de água em períodos do dia.

Manoel Batista adiantou que os dez concelhos que integram a CIM do Alto Minho vão “trabalhar de forma intensa para continuar a dar resposta às necessidades das populações”, através de campanhas de “sensibilização intensa junto dos munícipes”.

“Temos a noção de que boa parte do consumo de água na região é na agricultura e, num território como nosso, em que o setor primário está a crescer muito e com resultados muitos interessantes do ponto de vista da economia, temos de ter especial atenção ao setor agrícola, criando condições adequadas ao abastecimento de água”, reforçou.

Manoel Batista disse ainda que os emigrantes que chegaram este mês à região “perceberam bem a situação grave” em que o distrito se encontra e que “têm sido altamente responsáveis”. O líder da CIM do Alto Minho realçou ainda a “enorme procura turística” que a região está a viver e que “também recai no abastecimento de água”.

Bragança

Já no dia 03, foi anunciado que pelo menos cerca de oito mil pessoas de 50 localidades transmontanas estão a ser abastecidas este verão com a ajuda de autotanques devido à falta de água nos sistemas de abastecimento.

A maior parte são aldeias que habitualmente têm falta de água nesta época, um problema que se agravou devido à seca numa das regiões de Portugal que apresenta “maior escassez hídrica”, segundo o secretário de Estado da Conservação da Natureza e das Florestas, João Paulo Catarino.

O governante presidiu em Carrazeda de Ansiães, no distrito de Bragança, à assinatura de protocolos que disponibilizam 1,3 milhões de euros a sete municípios de Trás-os-Montes para garantir que a água continua a chegar a casa das populações.

De acordo com os autarcas, a seca veio agravar um problema estrutural nestas localidades com sistemas deficitários e onde nos meses de verão os consumos duplicam com a chegada dos emigrantes.

Cerca de um terço da população que vive no meio rural no concelho de Bragança está a ser abastecida de água por autotanques devido à seca. O que está a acontecer este ano é que os números são “três vezes superiores à média dos últimos três anos”, segundo o presidente da câmara, Hernâni Dias, com 26 aldeias e quase quatro mil pessoas a precisarem de transporte de água.

Ainda, a Câmara de Abrantes anunciou um conjunto de medidas para reforçar a poupança do uso da água da rede pública e a otimização dos recursos hídricos em contexto de seca, embora não existam problemas de abastecimento no concelho.

Também a Câmara de Leiria vai desligar a iluminação de fontes e monumentos municipais com vista a reduzir o gasto energético, sendo estas algumas das medidas a que se juntam outras para poupar água.

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