Incêndios: Autarca de Pedrógão Grande pede medidas para repovoar território

Mundo Lusíada com Lusa

Em Leiria, neste 27 junho, o presidente da Câmara de Pedrógão Grande pediu medidas para repovoar o território e investimentos, sobretudo nas telecomunicações e saúde, durante a cerimônia de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017, junto ao memorial erguido no concelho.

“É um espaço criado pelo Estado, por todos nós, para todos nós. É um espaço resultante da solidariedade do Estado que deve, cada vez mais, olhar para estes territórios de baixa densidade, promovendo o seu repovoamento através de medidas de discriminação positiva e investimentos em diversas áreas, destacando-se as telecomunicações e a saúde”, afirmou António Lopes.

Na cerimônia de homenagem às vítimas dos incêndios de 2017, no memorial erguido junto à Estrada Nacional 236-1, na zona de Pobrais, Pedrógão Grande, norte do distrito de Leiria, marcaram presença, entre outros, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa.

“Manter viva a memória dos que partiram, neste espaço, é tarefa árdua, porque nos envolve na missão de tudo fazer, diariamente, para que acontecimentos daquela natureza não se repitam”, disse António Lopes, considerando que o memorial “é, também, um espaço de refúgio, de respeito, onde o elemento água, conjugado com a terra, se opõe ao fogo”.

António Lopes referiu-se depois à natureza, para salientar que “impera sobre o Homem”, e lembrou que “as alterações climáticas são uma realidade cada vez mais presente no dia a dia”.

“Ainda assim, cabe ao Homem usar a inteligência e a determinação para implementar medidas no terreno, na diversificação do povoamento florestal, em consenso com os proprietários, medidas destinadas a aumentar a segurança das pessoas e bens, medidas destinadas a mitigar as ignições e a progressão violenta dos incêndios”, defendeu

O presidente da Câmara de Pedrógão Grande reconheceu, contudo, que esta é uma “tarefa nada fácil atentas as constantes resistências com que os municípios se deparam na execução de ações como, por exemplo, na realização das faixas de gestão de combustível e, mais presentemente, com a aplicação no terreno das Áreas Integradas de Gestão da Paisagem e Condomínios de Aldeia”.

Recuando a 17 de junho de 2017, quando eclodiram os incêndios no concelho, o autarca assegurou: “Hoje e sempre estamos solidários na memória e na dor de todos aqueles que sofreram com o fatídico dia”. “Cabe-nos a responsabilidade de os honrar evitando a repetição da História. Devemos-lhes, a eles e aos seus familiares, esse respeito”, acrescentou.

O memorial, da autoria do arquiteto Souto Moura, um investimento de 1,8 milhões de euros, inclui um lago de enquadramento, com cerca de 2.500 metros quadrados de área, alimentado por uma gárgula com 60 metros de extensão, sendo bordejado por uma faixa de plantas constituída por nenúfares brancos, lírios e ranúnculos.

De acordo com a Infraestruturas de Portugal, dona da obra, “o memorial inclui também, como peça fundamental, um muro com a inscrição do nome de cada uma das 115 pessoas vitimadas nos incêndios florestais de junho e outubro de 2017”.

O memorial abriu no dia 15 de junho sem qualquer cerimônia pública de homenagem às vítimas dos incêndios florestais de junho e outubro de 2017. A ausência de figuras de Estado suscitou críticas de vários setores.

Os incêndios que deflagraram em 17 de junho de 2017 em Pedrógão Grande e que alastraram a concelhos vizinhos provocaram a morte de 66 pessoas, além de ferimentos noutras 253, sete das quais graves. Os fogos destruíram cerca de meio milhar de casas e 50 empresas.

A maioria das vítimas mortais foi encontrada na Estrada Nacional 236-1, que liga Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos, junto à qual foi erguido o memorial.

Dia de Portugal

Já o Presidente da República defendeu que a celebração do Dia de Portugal em 2024 deveria realizar-se na zona afetada pelos grandes incêndios de Pedrógão Grande.

“Esse sinal de vida [para o território afetado pelos fogos] poderia ser […] a junção de municípios aqui no Centro, para preparar a celebração do Dia de Portugal, tendo como ponto principal estes três municípios [Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos], mas abrangendo a comunidade intermunicipal”, afirmou hoje Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República considerou que o Dia de Portugal em 2024, caso seja naquele território, será “mais do que apenas um dia de celebração de Portugal”, mas um compromisso do país com a construção de um futuro, “mais coeso, territorialmente”.

“Eles e elas [vítimas e familiares das vítimas] merecem. Portugal merece. É o tal sinal de vida que esta água [que corre no monumento desenhado por Siza Vieira] nos quer transmitir”, acrescentou.

Prevenção

O ministro da Administração Interna salientou hoje, no Sardoal, os “ganhos muito significativos” na prevenção e combate aos incêndios rurais desde 2017, o que atribuiu a uma “alteração de paradigma” resultante de uma “visão estratégica de médio e longo prazo”.

José Luís Carneiro falava no Centro Cultural Gil Vicente, no Sardoal, no distrito de Santarém, no final de uma visita a uma escola e a uma aldeia do concelho, em que acompanhou o Primeiro-Ministro, António Costa, numa tarde dedicada a observar no terreno ações que decorrem junto das populações no âmbito da prevenção e da segurança.

O ministro deu como exemplo “a alteração de paradigma” no investimento, que passou de 80% para o combate e 20% para a prevenção, em 2017, para 54% para o combate e 46% para a prevenção, em 2022, havendo, este ano, uma inversão, com 62% (329 milhões de euros) para prevenção e 38% para o combate (200 milhões de euros).

“Esta é uma demonstração de que o percurso feito desde 2017 corresponde a uma visão estratégica de médio e longo prazo e consubstancia uma alteração do paradigma na abordagem à questão dos incêndios florestais no que tem que ver com a prevenção estrutural de médio e de longo prazo e na mais imediata, confiada ao combate”, afirmou.

O primeiro-ministro foi verificar no distrito de Santarém, em dois concelhos atingidos pelos incêndios de 2017, o trabalho feito tanto na reforma da floresta, como na prevenção e sensibilização das populações.

Para ilustrar o que o trouxe hoje ao norte do distrito de Santarém, António Costa, no discurso que encerrou a visita ao Sardoal, recorreu a uma imagem futebolística, comparando o combate aos incêndios ao guarda-redes que, num pênalti, defende sozinho a bola, mas que nos 90 minutos do jogo conta com o trabalho da equipe.

“Hoje tivemos oportunidade de ver [em Mação] um dos elementos mais importantes da reforma da floresta que está em curso, que é a criação das áreas integradas de gestão da paisagem”, disse, salientando dois exemplos dados pelo presidente da Câmara do Sardoal, Miguel Borges, de um incêndio que foi travado por um olival e de outro que parou “quando encontrou uma vinha”, como prova da importância de uma paisagem diversa, com diferentes tipos de ocupação do solo.

José Luís Carneiro salientou que, mesmo com um sistema de combate “eficaz” e capacitado, “há momentos extremos” em que nem sequer é possível usar os meios, e defendeu a importância do trabalho de prevenção, sensibilização e proteção das populações, como o que foi observado durante a tarde no Sardoal.

Apontando os dados que mostram que, do passado dia 01 de janeiro até ao fim de abril, 64% dos incêndios se deveram a negligência no uso do fogo, de máquinas agrícolas ou florestais, o ministro considerou crítico o “trabalho de informação, de sensibilização, de capacitação” das populações.

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